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 | 27/01/2006 18h19min

Participantes dividem-se entre a utopia e a ação política

Corrente acha que evento deveria superar a fase “hippie-social”

O “fervor revolucionário" venezuelano contagia alguns setores do Fórum Social Mundial (FSM), que chegou hoje a seu quarto dia envolvido em polêmicas sobre se o encontro deve "se radicalizar" ou manter o espírito utópico inicial. A discussão se arrasta desde o ano passado, em Porto Alegre, quando foi decidido levar o Fórum Social Mundial à Venezuela, um país que nos últimos sete anos se polarizou no processo liderado pelo presidente Hugo Chávez.

No Fórum, convivem as mais diversas organizações sociais, que fizeram do evento um cenário de encontro e troca de experiências, mas alguns setores consideram que o movimento contra a globalização deve superar a fase "hippie-social" e se envolver diretamente na luta política pelo poder. Um dos mais fervorosos defensores da tese é o egípcio Samir Amin, economista que participou da fundação do FSM e um dos intelectuais neo-marxistas mais reconhecidos da atualidade.

Amin disse hoje que se trata de um "projeto dirigido à construção de uma frente mundial antiimperialista" que apóie as organizações de esquerda no mundo, sem ser uma cópia das antigas "internacionais socialistas", nem provocar rupturas no Fórum Social. O economista disse que nenhum dos defensores dessa proposta quer deixar o fórum, que contém movimentos contrários a essa iniciativa, com posições respeitáveis.

Amin defendeu que é impossível pensar que “o socialismo será o resultado de um imaginário utópico, pois o único caminho é o da luta social politicamente comprometida". A mesma linha é defendida por outros fundadores do FSM, como o jornalista espanhol Ignacio Ramonet, o sociólogo brasileiro Emir Sader e o jornalista ítalo-argentino Roberto Savio.

Na corrente oposta estão outros fundadores do fórum, como o brasileiro Cândido Grzybowski, que continua defendendo a utopia e considera que o espaço deve se manter dentro da margem não-governamental, apartidária e reservado à sociedade civil. O brasileiro Oded Grajew, criador da Fundação Abrinq, insistiu hoje que a relação do movimento com os governos e partidos políticos deve ter limites, como marca o estatuto do Fórum Social Mundial.

A polêmica desenvolvida no FSM será alimentada pelo presidente Chávez, que até agora não participou diretamente do evento, mas fará isso nesta noite e no domingo, no ato final do encontro. No domingo, Chávez encerrará o Fórum Social Mundial junto com membros da Assembléia Mundial dos Movimentos Sociais, integrada pela Via Campesina e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Será a primeira vez que um chefe de Estado discursará no ato de encerramento do Fórum Social Mundial, até agora sempre reservado para representantes dos movimentos sociais.

AGÊNCIA EFE
 
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