| 31/01/2006 15h03min
A busca do governador gaúcho, Germano Rigotto, pela Presidência da República não deverá ser frutífera. Foi o que disse hoje em entrevista online no clicRBS o cientista político André Marenco.
– Acho que ele tem uma avaliação muito ingênua de suas possibilidades eleitorais, acreditando poder repetir o êxito obtido em 2002. Pessoalmente, acho que isso não vai acontecer – avaliou o estudioso.
Marenco acredita que Rigotto conseguirá passar pelas prévias, mas deverá ser abandonado por seus colegas de partido.
– Nacionalmente, acho que o PMDB vai escolher Rigotto. No entanto, provavelmente as duas alas do PMDB irão deixá-lo com o pincel na mão: um grupo vai terminar apoiando o candidato do PSDB e outro o presidente Lula – disse.
Para Marenco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato a reeleição e tem chances fortes de vencer, contudo, o resultado estará atrelado ao desempenho econômico.
– Como o PT perdeu a bandeira da ética resta-lhe o desempenho na economia, isso significa que a chance da reeleição de Lula depende muito do desempenho da economia e de uma retomada forte do crescimento econômico – ponderou.
Sobre a escolha de Olívio Dutra para disputar as eleições pelo PT, o cientista político avaliou como acertada para evitar uma disputa interna que poderia agravar o desgaste e a fragilização do partido. Apesar disso, para ele, a decisão pode ser prejudicada pelo fato de Olívio trazer as marcas de um desgaste sofrido quando de sua passagem pelo governo do Estado.
Ele também falou sobre o desempenho da atual gestão no Palácio Piratini.
– Rigotto fez um governo tímido em suas políticas, mas que terminou não provocando grandes desgastes, enquanto que o principal partido na oposição, no Rio Grande do Sul, teve de responder pela crise nacional – afirmou.
Caso o PMDB bata o martelo no nome de Rigotto na disputa nacional, Marenco acredita que um dos maiores problemas do partido será definir quem disputará o Piratini.
– Existem vários nomes como o do vice-governador Hohlfeldt ou dos deputados Padilha e Schirmer. Contudo, qualquer um que venha a ser escolhido irá provocar divisões difíceis de serem reconciliadas durante uma campanha eleitoral – acredita Marenco.
Veja a íntegra da entrevista conduzida pela jornalista Maíra Kiefer.
Pergunta – Apesar de toda a crise, na última pesquisa do Ibope o presidente Lula só não estava na frente em um dos sete cenários previstos - e ainda assim, aparecia em empate técnico com o prefeito de São Paulo, José Serra. Como explicar esse fôlego do Lula?
André Marenco – Bem, eu acho que em grande parte isso se deve ao fato que a oposição, o PSDB, também teve no passado acusações associadas à corrupção, no governo FHC. Isso dificultou que a oposição pudesse beneficiar-se com o desgaste do Lula e do PT.
Pergunta – Na sua opinião, quem seria o melhor candidato para o PSDB: Serra ou Alckmin?
André Marenco – Serra tem a vantagem de ser um nome mais conhecido pela memória da sua candidatura da sua à presidência em 2002. Alckmin tem como forte o apoio empresariado e a imagem administrativa do governo de SP. A médio prazo acho que Alckmin seria um candidato mais forte para concorrer com o Lula.
Pergunta – O senhor acredita que o presidente tentará a reeleição? Existem chances reais dele conseguir vencer?
André Marenco – Acho que ele será candidato a reeleição e tem chances fortes de vencer porque as pesquisas mostram que ele vence os demais e tem empate técnico com o Serra, no 2º turno. Como o PT perdeu a bandeira da ética resta-lhe o desempenho na economia, isso significa que a chance da reeleição de Lula depende muito do desempenho da economia e de uma retomada forte do crescimento econômico.
Pergunta – Como o senhor avalia a política econômica do governo federal? Lula se distanciou das bandeiras do PT, isso não pode prejudicá-lo?
André Marenco – Não, na verdade o desgaste do governo não tem a ver com a moderação das políticas econômicas. Até a crise do mensalão havia um sentimento, na opinião pública, que a ortodoxia das políticas econômicas era necessária. O problema é que passados 3 anos o discurso da transição fica mais esvaziado e cresce uma cobrança em relação a uma inflexão na política econômica em uma direção mais clara de crescimento. Se Lula não adotar políticas mais ousadas de quedas de juros e incentivo a produção, agora sim, isto pode prejudicá-lo, porque o governo terá terminado e ele não terá mudado a política.
Pergunta – Em relação à crise política trazida à tona em 2005, você acredita que o governo federal deveria ter agido de maneira diferente para evitar o desgaste de sua imagem?
André Marenco – Sim, tanto no sentido de evitar as opções pragmáticas que foram feitas: utilização de formas ilegais de financiamento de campanhas e a estratégia de negociação individual com a base aliada. Essas foram as raízes da crise, depois o governo demorou para tomar iniciativa no sentido de investigar e afastar os envolvidos com a crise.
Pergunta – De uma forma ou de outra, muitos partidos foram afetados pela denúncia do caixa dois para eleições. Muitos parlamentares de diferentes siglas admitiram o uso deste recurso. Como isso deve afetar os partidos?
André Marenco – Eu acho que afeta de forma diferente. O PT tem um desgaste porque construiu sua imagem associada à ética e transparência na utilização dos recursos públicos, por isso sua imagem sai mais afetada. Outros partidos como o PTB, PL e PP não tem uma identidade muito clara e não chegam a ser reconhecidos pelo eleitorado como um partido associado a alguma imagem. Estes devem perder mais pela saída de políticos que procuram se afastar desta contaminação e também por uma restrição nas fontes de financiamento para as suas campanhas eleitorais, o chamado caixa 2.
Pergunta – O senhor acredita que haverá uma fiscalização maior na conta dos partidos nas eleições deste ano?
André Marenco – Acho que sim, por conta do próprio desgaste e escândalo. Não sei se será inteiramente eficaz. O melhor não seria nem a situação atual nem o financiamento público como tem sido proposto, penso que a melhor solução seria liberar o financiamento para partidos, inclusive com incentivos fiscais para financiamentos legais, em troca da publicização destes financiamentos. Para que a sociedade ficasse sabendo quem deu dinheiro para que partido e pudesse com isso fiscalizar se alguma decisão futura de governo está relacionada com financiamentos passados.
Pergunta – Como a crise nacional pode influenciar o cenário gaúcho?
André Marenco – O PT tem um desgaste que também é local, especialmente porque tanto o PT gaúcho quanto a própria política gaúcha sempre foram muito marcados pelo discurso da ética na política, então o PT deve sofrer um desgaste ainda mais forte no RS do que no resto do país.
Pergunta – A escolha de Olívio Dutra para a corrida ao governo do Estado foi acertada?
André Marenco – Como a condição para evitar uma disputa interna que poderia agravar o desgaste e a fragilização do partido, sim. Embora Olívio traga as marcas de um desgaste sofrido quando de sua passagem pelo governo do estado.
Pergunta – Então, o desgaste pode ser maior do que aquele que costuma atingir quem é governo, no caso Germano Rigotto?
André Marenco – Rigotto fez um governo tímido em suas políticas, mas que terminou não provocando grandes desgastes, enquanto que o principal partido na oposição, no RS, teve de responder pela crise nacional.
Pergunta de internauta – A crise política que veio a tona em 2005 deve influenciar drasticamente as eleições de 2006. Você acha que nesse próximo processo eleitoral teremos campanhas mais ideológicas ou cairemos novamente no candidato produto ?
André Marenco – Não existe uma contradição entre campanha ideológica e o que você chamou de candidato produto. Uma campanha eleitoral tem que se dirigir a públicos diferentes com apelos diferentes. No RS as campanhas são mais ideológicas.
Pergunta – Quais os acordos que estão sendo alinhavados no Rio Grande do Sul? Na sua opinião, quais devem vingar?
André Marenco – No primeiro turno teremos vários candidatos e no segundo, provavelmente, Olívio contra Rigotto ou outro candidato do PMDB com apoio dos partidos que fazem parte da base do governo Rigotto.
Pergunta – Não existia outro nome de peso que poderia realmente concorrer ao governo?
André Marenco – Talvez até existisse. Paim ou Tarso, no entanto qualquer um dos dois provocaria disputas internas.
Pergunta – E nacionalmente, o senhor acredita que o PMDB desistirá de ter um candidato próprio para apoiar o presidente? Quem você acredita que vencerá as prévias Rigotto ou Garotinho?
André Marenco – Nacionalmente, acho que o PMDB vai escolher Rigotto. No entanto, provavelmente as duas alas do PMDB irão deixá-lo com o pincel na mão: um grupo vai terminar apoiando o candidato do PSDB e outro o presidente Lula.
Pergunta – O senhor acredita que Rigotto realmente não quer concorrer ao Piratini? Ou a candidatura à Presidência é estratégica?
André Marenco – Acho que ele tem uma avaliação muito ingênua de suas possibilidades eleitorais, acreditando poder repetir o êxito obtido em 2002. Pessoalmente acho que isso não vai acontecer.
Pergunta – O PT não teria mais chances de concorrer ao Piratini com um nome novo?
André Marenco – Sim, penso que um nome como o do senador Paim poderia ter um potencial eleitoral maior que o de Olívio ou mesmo Tarso. No entanto, aqui parece ter pesado as faltas de apoio nas correntes internas.
Pergunta – Quem deve ser o nome da situação no Estado para a próxima eleição, caso Rigotto não participe das eleições?
André Marenco – Esse é o maior problema que o PMDB tem para resolver agora. Existem vários nomes como o do vice-governador Hohlfeldt ou dos deputados Padilha e Schirmer. Contudo, qualquer um que venha a ser escolhido irá provocar divisões difíceis de serem reconciliadas durante uma campanha eleitoral.
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