| 01/02/2006 13h30min
Duas injustiças. Embalados pela terceira conquista em 1970, os brasileiros queriam se tornar os primeiros tetracampeões mundiais na Copa de 1974, na Alemanha. Porém, a Seleção Brasileira não teve o desempenho esperado e acabou em quarto lugar – após perder por 1 a 0 para a Polônia na decisão da "medalha de bronze". Nem mesmo a taça foi parar nas mãos que a mereciam. Pelo menos esta é a impressão do ex-volante Paulo César Carpeggiani, que viveu as duas frustrações.
– O nosso pensamento era disputarmos a final, e ao natural, ao sermos eliminados, tivemos uma desmotivação. (...) Creio que para o bem do futebol a Holanda deveria ter ganho a Copa, mas infelizmente não conseguiu – afirmou o ex-jogador do Inter em entrevista online ao clicRBS na manhã desta quarta.
Segundo Carpeggiani, a "Laranja Mecânica" inovou o futebol. Isso porque praticava um "futebol total", onde todos os atletas do time atacavam, mas também ajudavam na defesa.
– Havia uma compactação, que nada mais era que a unificação de todas as linhas das equipes, defesa, meio-campo e ataque. E isso acabou surpreendendo, pela qualidade de seus atletas, a Copa do Mundo na Alemanha. Este é um futebol muito difícil de ser repetido porque depende muito da qualidade, da versatilidade e da competitividade dos jogadores – disse ele.
Neste ano, mais uma vez embalados pela conquista da última Copa, os brasileiros querem repetir a dose. Na mesma Alemanha. Só o número que é diferente. Agora o povo quer a taça de número seis. Mas para Carpeggiani, estas não é a única diferença.
– Creio que hoje há um respeito muito mais acentuado do que em épocas anteriores. Pela qualidade dos nossos jogadores seremos os favoritos em qualquer competição que disputarmos, basta que tenhamos a humildade suficiente para respeitar todo e qualquer adversário.
Confira a íntegra da entrevista online.
clicRBS – A Seleção de 74 chegou à Alemanha como sucessora do grande
time de 70. Isso atrapalhou?
Carpeggiani –
Não, é que houve um futebol surpreendente de uma seleção holandesa que apresentou uma novidade no âmbito mundial, apresentou um grande futebol, inovação tática, mas infelizmente não foi a grande campeã. Na realidade alguns jogadores remanescentes de 70 pela própria idade e alguns outros jogadores machucados, na época, não puderam estar em 74 e este foi um dos motivos para que não se repetisse a campanha de 70.
clicRBS – E quais as principais contribuições do seleção holandesa de 74 para o futebol de hoje?
Carpeggiani – Ela praticou um futebol total, ou seja, todos atacavam e todos defendiam, havia uma compactação, que nada mais era que a unificação de todas as linhas das equipes, defesa, meio-campo e ataque. E isso acabou surpreendendo, pela qualidade de seus atletas, a Copa do Mundo na Alemanha. Esta seleção contribuiu para um futebol total, uma compactação. Este é um futebol muito difícil de ser repetido porque depende muito da qualidade, da
versatilidade e da competitividade
dos jogadores.
Pergunta de Internauta – O poder dos militares influenciaram em algum aspecto na participação do Brasil na Copa?
Carpeggiani – Não, o que pesou mesmo foi a negativa do Pelé em disputar a copa de 74.
Pergunta de Internauta – Você jogou a vontade nesta copa (Seleção), ou seja, na posição que gostava de jogar?
Carpeggiani – Não, joguei em uma posição até então "desconhecida" por mim. Joguei como 1º volante porque na minha posição existia o Paulo César Caju, o Rivelino... e eu quando perguntado por Zagallo se queria desempenhar esta função é obvio que disse que sim. Estranhei um pouco a posição, mas acredito que dei conta do recado.
clicRBS – Antes do jogo contra os holandeses, Zagallo afirmou que a Holanda deveria se preocupar com o Brasil, e não o contrário. Esse era o sentimento do grupo?
Carpeggiani – Não, antes do
enfrentamento Zagallo foi ver a Holanda jogar e voltou impressionado com o futebol total
apresentado pelos holandeses. Isso foi nos passado e, conseqüentemente, passamos a ter um respeito pela Holanda e este não foi o motivo da nossa eliminação, ou seja, o desrespeito para com os holandeses.
clicRBS – Alguns jogadores alemães que disputaram a final em 74 disseram recentemente que os jogadores holandeses eram bastante arrogantes. Vocês chegaram a perceber isso durante a partida?
Carpeggiani – Durante a partida não, mas na entrada do campo, quando nos dirigimos para o centro do gramado, as seleções entram juntas e aí deu para notar a arrogância e aquele ar de superioridade...
Pergunta de Internauta – Você acha que 74 está para 70 assim como 2006 vai estar para 2002?
Carpeggiani – Não, creio que hoje há um respeito muito mais acentuado do que em épocas anteriores. Pela qualidade dos nossos jogadores seremos os favoritos em qualquer competição que disputarmos, basta que tenhamos a
humildade suficiente para respeitar todo e qualquer
adversário.
Pergunta de Internauta – A Seleção Brasileira não estava com um posicionamento tático já ultrapassado naquela Copa? O que faltou no aspecto tático?
Carpeggiani – Esquema tático, recordando um pouco e até fazendo uma comparação é o mesmo sistema usado hoje pelo Internacional, 4-2-3-1.
Pergunta de Internauta – Qual o jogador que mais te impressionou na copa de 74?
Carpeggiani – Quem mais me impressionou foi o Cruyif (holandês) pela sua versatilidade, inteligência e pela sua técnica.
Pergunta de Internauta – Existe algum time no Brasil, não a Seleção, que possa jogar um futebol parecido com os holandeses de 1974?
Carpeggiani – O europeu possui a dedicação e a competitividade que nós brasileiros não temos em sua totalidade. Por isso vejo grande dificuldade de nós executarmos este tipo de futebol.
clicRBS – Você acredita tenha ficado em boas mãos com a conquista alemã? Ou a Holanda merecia melhor
sorte na final?
Carpeggiani – Creio que para o bem do futebol a Holanda deveria ter ganho a copa, mas infelizmente não conseguiu.
clicRBS – A partir da segunda fase você a equipe melhorou, com vitórias sobre a Alemanha Oriental e Argentina. O que mudou, além de sua entrada no time titular?
Carpeggiani – Nós tivemos uma estréia de empates e a medida que as partidas foram acontecendo, eu e toda Seleção fomos tendo um entrosamento e a confiança necessária.
clicRBS – Quais foram os principais equívocos do Brasil naquele Mundial?
Carpeggiani – Creio que não houve erros, mas sim uma superação da seleção holandesa sobre a nossa seleção. Mérito para a Holanda.
clicRBS – A Seleção entrou desmotivada para disputar o terceiro lugar contra a Polônia?
Carpeggiani – Acredito que sim, porque o nosso pensamento era
disputarmos a final, e ao natural, ao sermos eliminados, tivemos uma desmotivação.
clicRBS –
Mas isso chegou a abater o time? O clima do grupo era ruim para a partida?
Carpeggiani – Não era o mesmo clima. As próprias mudanças do Zagalo acabaram acarretando essas perturbações.
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