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 | 06/02/2006 07h10min

Pesquisa revela que os porto-alegrenses trabalham menos

Trabalhadores da Capital estão atrás de cariocas e de paulistanos

A marca do gaúcho é trabalho. Se você acredita nesta máxima, pode começar a rever o conceito depois de conhecer os resultados finais da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de 2005, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números apontam que os porto-alegrenses trabalham menos do que cariocas, paulistanos, recifenses e até dos residentes de Salvador, eternamente associados à calmaria e cuca fresca.

Em média, o trabalhador da Região Metropolitana da Capital fica 39,11 horas semanais no emprego, uma hora abaixo da média das outras cinco cidades pesquisadas – Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Recife. Somente os moradores da capital mineira trabalham menos horas do que os porto-alegrenses. Comparada com os cariocas, os campeões estatísticos de dedicação ao emprego, a média em Porto Alegre é quase duas horas inferior.

Analisados com mais profundidade, no entanto, os dados podem soar enganosos. Na realidade, os porto-alegrenses podem trabalhar tanto quantos os demais brasileiros, mas algumas peculiaridades deixam de ser registradas na pesquisa e acabam puxando a média local de horas trabalhadas para baixo.

Nada relacionado com um maior índice de preguiça na capital gaúcha. De acordo com o o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, um dos motivos é a existência de um maior contingente de mulheres no mercado de trabalho em Porto Alegre e, em conseqüência, exercendo exercendo papel duplo de mães e trabalhadoras. Outra razão é um maior grau de formalidade (carteiras assinadas) na capital gaúcha.

Historicamente, segundo Pereira, as mulheres estão menos horas nos seus empregos porque se dedicam mais à criação de filhos e às atividades domésticas. Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios-Econômicos (Dieese) confirma a tese e mostra que as mulheres costumam cumprir 5,8 horas a menos por semana do que os homens nas seis regiões pesquisadas pelo órgão.

O problema é que a maioria delas faz como a brigadiana Simone Munzlinger, 28 anos, moradora de Porto Alegre. Nas planilhas dos pesquisadores, Simone trabalha menos do que o marido, Newton Rego: ela faz oito horas por dia no quartel, enquanto ele trabalha quase 11 horas por dia como gerente comercial. Na prática, Simone cumpre jornada tripla. De manhã, até as 11h, cuida da ordem da casa e das duas filhas, Valentina, 4 anos, e Isadora, 2 anos. Depois, até as 19h, ajuda a pôr ordem nas ruas da cidade. Para completar, cumpre o quarto semestre do curso de Direito à noite. Com tantas tarefas, acabou aceitando um convite para servir em funções mais administrativas da Brigada Militar, na intenção de regular seus horários. 

– Na Brigada, tu não é dono do teu tempo. Teu tempo é das pessoas que necessitam de ti – diz.

ALEXANDRE DE SANTI/ZERO HORA
 
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