| 15/02/2006 15h07min
O homem que criou um dos maiores símbolos do futebol mundial, a camisa canarinho da Seleção Brasileira, aprovou as mudanças realizadas pela Nike no uniforme do time que brigará pelo hexa na Alemanha. O escritor gaúcho Alcyr Schlee, 71 anos, foi consultado pela multinacional e não poupou críticas ao fardamento anterior, que ele classifica como o mais feio que o Brasil já vestiu:
– O que eu disse para o pessoal da Nike, em 2004? Que o modelo deles era horroroso, uma deturpação da canarinho e uma vergonha para o futebol brasileiro, que merecia algo melhor e mais respeitoso tratamento. Pedi e sugeri as mudanças. Eles foram receptivos. Mas eu não perdôo aqueles calções compridos demais, aqueles ondulados verdes nas extremidades das mangas e a tal gola "mandarim", que é coisa para o futebol chinês – afirmou Alcyr em entrevista online ao clicRBS nesta quarta.
Em 1953, Schlee, nascido em Jaguarão e radicado em Pelotas, venceu um concurso promovido pelo jornal carioca Correio da Manhã para escolha do uniforme da Seleção para a Copa de 54. Desde lá, esta foi a primeira vez que consultaram o criador da amarelinha sobre alterações no fardamento:
– Quanto à CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que tornou-se CBF em 1979), nunca ouviu falar nem soube de mim, ao que calculo, porque nem guardou entre seus documentos o meu desenho original do uniforme, do concurso que ganhei em 1953 – disse.
Apesar da falta de reconhecimento, o gaúcho não se considera injustiçado:
– Não tenho nada a reclamar. Na época, recebi meu prêmio, de acordo com o regulamento do concurso, pude bem desfrutar deles e de suas conseqüências e ninguém me deve nada – salientou.
Ao comentar os elogios de Parreira à nova camisa – o treinador da Seleção diz que esta é a mais bonita de todos os tempo – Schlee alfinetou:
– Só agora é que ele descobriu que o modelo original é bonito; antes, não achava feio o conjunto que a Nike impusesse à Seleção. Gosto não se discute. Mas acho estranho que só agora ele tenha se manifestado a respeito da estética do uniforme da seleção da CBF – declarou.
Sobre o favoritismo do Brasil na Copa, Alcyr destacou que a Seleção de Parreira é candidata natural, porém, o excesso de confiança e a famigerada soberba podem atrapalhar a performance da equipe. A seguir, confira a íntegra da entrevista online:
Pergunta – Boa tarde, senhor Aldyr Schlee. A nova camisa da Seleção foi muito elogiada e o técnico Parreira chegou a dizer que é a mais bonita de todos os tempos. E na sua opinião?
Aldyr Schlee – Na minha opinião o uniforme da seleção brasileira volta a seu modelo original, que eu criei, em 1953. As pequenas diferenças ficam por conta da Nike, que precisa de alguns detalhes para que o material não perca sua identidade. Quanto ao Parreira, só agora é que ele descobriu que o modelo original é bonito; antes, não achava feio o conjunto que a Nike impusesse à
Seleção.
Pergunta – Em seu encontro com a Nike, o senhor
pediu para que houvesse um retorno ao padrão original do uniforme. Como foi essa reunião?
Aldyr Schlee – Pedi sim e sugeri as mudanças. Eles foram receptivos. Mas eu não perdôo aqueles calções compridos demais, aqueles ondulados verdes nas extremidades das mangas e a tal gola "mandarim", que é coisa para o futebol chinês.
Pergunta de internauta – Aldyr, é melhor ser famoso como escritor ou como criador de um ícone como a canarinho?
Aldyr Schlee – O melhor, para mim, seria ser campeão brasileiro de futebol de mesa.
Pergunta de internauta – Você acha a opinião do Parreira oportunista?
Aldyr Schlee – Gosto não se discute. Mas acho estranho que só agora ele tenha se manifestado a respeito da estética do uniforme da seleção da CBF.
Pergunta – Quando o senhor criou o uniforme
canarinho em 1953, o que foi mais difícil? A distribuição das quatro cores da bandeira no fardamento ou a inspiração
mesmo?
Aldyr Schlee – Foi acertar no conjunto, partindo de quatro cores que – como sabemos – não são usuais em uniformes esportivos (Veranópolis à parte). Quanto à inspiração, não creio nela.
Pergunta de internauta – As regras que você escreveu para o futebol de mesa ainda estão em vigor?
Aldyr Schlee – As regras que eu escrevi perderam-se num vôo para a Bahia e nunca foram apreciadas ou adotadas.
Pergunta de internauta – O que você disse ao pessoal da Nike?
Aldyr Schlee – O que eu disse para o pessoal da Nike, em 2004? Que o modelo deles era horroroso, uma deturpação da canarinho e uma vergonha para o futebol brasileiro, que merecia algo melhor e mais respeitoso tratamento.
Pergunta – O senhor chegou a ser consultado em outros anos sobre as mudanças
na camisa?
Aldyr Schlee – Não houve mudanças substanciais em anos anteriores, com exceção daquele
em que aplicaram uns distintivões na parte frontal da camisa, a contra-pêlo. De resto, os caras nunca me deram bola, mesmo...
Pergunta de internauta – E o que eles responderam? (a Nike)
Aldyr Schlee – O que o pessoal da Nike me respondeu em 2004? Que minhas sugestões eram bem-vindas, que iam fazer uns relatórios e tal, e que talvez houvesse um retorno mesmo ao modelo original.
Pergunta de internauta – Você acredita que sua opinião foi decisiva para que o novo modelo não mais seguisse o padrão mundial da marca?
Aldyr Schlee – Não. A Nike tem muita força, manipula como quer a opinião pública – e apenas sentiu a temperatura, ao me entrevistar. Agora, mudou todos os modelos de todas as oito seleções que fardará na Copa, inclusive a nossa. Tudo é apenas uma jogada de marketing, diante do banho que levou da Adidas, quando do sorteio das
chaves para o Mundial, no início do ano.
Pergunta – Partiu da Nike a
iniciativa de convidar o senhor para essa reunião? Ou a CBF teve algum envolvimento?
Aldyr Schlee – Quanto à CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que tornou-se CBF em 1979), nunca ouviu falar nem soube de mim, ao que calculo, porque nem guardou entre seus documentos o meu desenho original do uniforme, do concurso que ganhei em 1953.
Pergunta – Mas o senhor também guarda um esboço do desenho original do uniforme?
Aldyr Schlee – Quanto ao meu desenho original, tenho dois esboços, e a reprodução de um deles foi publicado semana passada pela revista IstoÉ Gente.
Pergunta de internauta – Você se considera tão uruguaio quanto brasileiro. Nunca pensou em desenhar a celeste olímpica?
Aldyr Schlee – A celeste olímpica é tão somente a celeste olímpica, campeão mundial de 24, 28, 30
e 50. Desenhar o quê, além daquele azul, daqueles calções pretos, daquelas meias pretas?
Pergunta de internauta – Prof. Schlee, você acha adequado o preço de R$ 179,00 para cada camiseta da Seleção?
Aldyr Schlee – É o preço Nike. É preço que pagamos para ter o nosso futebol, e o ícone mais famoso e difundido no mundo, nas mãos de ums transnacional mancomunada com a turma da CBF.
Pergunta de internauta – Você se considera injustiçado pela CBD/CBF?
Aldyr Schlee – Não. Não tenho nada a reclamar. Na época, recebi meu prêmio, de acordo com o regulamento do concurso, pude bem desfrutar deles e de suas conseqüências e ninguém me deve nada.
Pergunta – O senhor admira alguma outra camisa de seleção?
Aldyr Schlee – Quanto a admirar outro uniforme de seleção, admiro sim, a da Itália: é impecável, no desenho, no corte, nos vestir os jogadores e, principalmente, na sua elegante
simplicidade.
Pergunta – Como o senhor vê o favoritismo do Brasil nesta Copa do Mundo? Há
excesso de confiança?
Aldyr Schlee – Acho natural que o Brasil seja favorito, afinal, nossa Seleção tem se eternizado na liderança do ranking da FIFA. Mas acho que o excesso de confiança e a famigerada soberba podem comprometer nossa performance. Além do mais, a cada Copa sempre acho que pode dar zebra... e até hoje não deu!
Pergunta – Quais times podem atrapalhar a conquista do hexa?
Aldyr Schlee – Inglaterra, Argentina,Itália, Alemanha, Croácia – por que não? – poderão complicar as coisas para o Brasil, se não houver zebra.
Pergunta de internauta – Qual é a camiseta mais feia da história da Seleção brasileira?
Aldyr Schlee – Indiscutivelmente aquela da canga sobre o pescoço, das costuras verdes, do babeiro sobre a barriga, do diminuto distintivo sob o queixo e da bola de bingo da
barriga: a última, que assim mesmo correspondia ao modelo internacional da Nike, idêntico ao da Hungria, da
Coréia, de Portugal e tanta seleçãozinha perdida por este vasto mundo...
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