| 23/03/2006 13h05min
Foi sob a ameaça de abandonar o cargo que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, venceu a queda de braço com o Ministério da Fazenda. Um conjunto de medidas, que está em negociação desde o dia 15 de fevereiro, deve começar a sair do papel a partir da próxima semana. O pacotão de ajuda do governo deve privilegiar a renegociação de dívidas envolvendo o custeio de 2006 e débitos de investimentos.
No forno, ainda há dinheiro para a venda da safra e a Medida Provisória do Bem, com redução de impostos e recursos a juros fixos. A equipe econômica ainda calcula o impacto dessas ações nas contas do governo, que inicialmente ficaria em torno de R$ 6 bilhões. Reconquistar a confiança de médios e grandes produtores virou parte do plano de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem entrou em campo para evitar que o ministro abandonasse sua equipe.
Principal interlocutor do governo junto aos ruralistas, Rodrigues reuniu-se com Lula por uma hora no Palácio do Planalto. No Congresso, o boato era que o ministro já estava de malas prontas para voltar a sua fazenda, no interior de São Paulo.
De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento, já há até previsão de queda de safra. Em resposta, Lula pediu aos ministros da Casa Civil e do Planejamento para encontrarem uma saída orçamentária. Uma reunião interministerial já está marcada para a próxima segunda-feira.
– Ele (Rodrigues) deixou o encontro feliz da vida – diz um assessor.
Desgastado com a crise do agronegócio, Rodrigues cancelou sua participação na Expodireto, em Não-Me-Toque, na semana passada. Seu pedido mais imediato é de recursos para a fase de comercialização da safra. Com isso, o ministério tentaria regular o mercado, ajudando o produtor a cobrir o custo de produção. No Rio Grande do Sul, a saca de arroz está em R$ 17, mas o custo de produção chega a R$ 28 por saca.
Agora, Rodrigues insiste na liberação imediata de R$ 2,3 bilhões para o escoamento da safra. Aliviado com as promessas do Planalto, telefonou para um dos seus aliados, o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, Márcio Lopes de Freitas, espantando a boataria:
– Estou no meio de uma batalha, e não pretendo desistir agora.
A Confederação de Agricultura e Pecuária (CNA) deve propor ao governo trégua de 120 dias no pagamento de dívidas agrícolas. No período, pedirá renegociação dos débitos de 2005 e 2006 nos moldes da securitização - com prazo de 25 anos para pagar e juros de 3% ao ano. A entidade calcula que R$ 12 bilhões podem ser rolados. O assunto foi discutido ontem em reunião em Porto Alegre. O presidente da CNA, Antônio Ernesto de Salvo, diz que a solução para o endividamento é urgente:
– A MP do Bem é mais uma enganação. Não é negativa, mas trata de problemas secundários, de amanhã.
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