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 | 25/05/2002 18h44min

Fernando Scherer volta para Florianópolis

Xuxa reclama da falta de patrocínio e planeja abrir uma academia

O catarinense Fernando Scherer, o Xuxa, que já foi eleito o melhor nadador do mundo em 1998, além de ser escolhido o atleta do ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), está de volta a Florianópolis depois de seis anos vivendo entre Rio de Janeiro e Estados Unidos. Diariamente é possível vê-lo treinar na piscina do Doze de Agosto, clube em que ele deu início a uma carreira de sucesso, mas que também teve alguns tropeços que levaram muita gente a dizer: o Xuxa está acabado.

Aos 27 anos de idade, e cinco meses longe das piscinas, Fernando Scherer promete surpreender muita gente e aguarda uma definição para retornar às competições. Está em negociação com clubes de São Paulo, embora a Federação Catarinense de Natação corra atrás de patrocínios para mantê-lo no Estado. O nadador catarinense pretende disputar o Troféu Brasil, em setembro, primeira seletiva para os Jogos Pan-americanos, e garante que ainda pode fazer muita coisa na natação. Mas adverte que só pretende continuar se tiver ajuda de patrocínio.

Com um currículo de quem disputou duas Olímpíadas (Atlanta, em 1996, e Sydney, em 2000) e ganhou duas medalhas de bronze, além das medalhas em três Campeonatos Mundiais – inclusive com recorde mundial nos 4x100m livre – é incrível saber que um atleta como ele não tenha apoio. Fernando Scherer foi o primeiro brasileiro a nadar os 100m livre abaixo da marca dos 49 segundos (48seg69) nos Jogos da Amizade em 1998 e nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg, em 1999, se superou ao ganhar quatro medalhas de ouro.

Xuxa concedeu entrevista ao Diário Catarinense na semana que passou e falou dos seus planos para o futuro e de como convive, hoje, com a fama de ídolo da natação. Irrequieto e festeiro, Xuxa agora é um homem de negócios, tem uma casa noturna em São Paulo e está abrindo uma academia de ginástica em Florianópolis.

Diário Catarinense – Em primeiro lugar quero que você fale da sua volta para Florianópolis e quais são os seus planos para o futuro?
Xuxa –
Estou morando em Florianópolis e vou continuar morando aqui, estou abrindo uma academia de ginástica no Beiramar Shopping no segundo semestre. Vou me dividir entre a Ilha e São Paulo, onde tenho negócios.

DC – Mas a natação é prioridade?
Xuxa
– A natação vai ser prioridade se eu tiver patrocínio, mas eu não vou largar meus negócios.

DC – E os teu planos para a natação?
Xuxa –
Estou negociando com um clube em São Paulo. Vou ficar treinando aqui e lá. Já está quase tudo acertado só que eu estou dando uma chance para a Federação daqui conseguir me fazer ficar, mas tá difícil.

DC – A dificuldades seria arrumar um patrocínio para que você pudesse ficar em Santa Catarina?
Xuxa – É muito mais que patrocínio, seria uma coisa que me desse segurança para ficar aqui treinando e que eu pudesse abrir mão do contrato bom de São Paulo (lá eu vou nadar pelo clube e ainda posso ter outros patrocinadores.

DC – Você ficou parado um bom tempo, antes de vir para Florianópolis, porquê?
Xuxa –
Parei uns quatro ou cinco meses. Até o final do ano passado eu estava nos Estados Unidos, em Coral Springs, tinha largado a natação para cuidar da minha vida.

DC – E nesse período que você parou de nadar, você parou porque estava cansado e decepcionado?
 Xuxa –
Parei por vários motivos pessoais, achei que a natação não era mais tão importante naquele momento. Resolvi dar um tempo e me recuperar psicologicamente dos meus problemas. Tinha que resolver a minha vida e a partir do momento que eu resolvesse tudo, podia voltar a nadar. Hoje eu nado porque quero.

DC – Você está voltando aos treinos agora. Qual é seu objetivo?
Xuxa –
O Troféu Brasil, em setembro, mas é só para voltar a competir, entrar em forma e mostrar que eu voltei. Não penso em dar o meu melhor resultado. O objetivo é treinar para pegar a Seleção do Pan-americano.

DC - Você está com 27 anos, e a natação é um esporte que acaba cedo para o atleta, o seu ex-técnico Carlos Camargo disse que nas tuas provas 50m e 100m livre você poderia nadar tranqüilamente até aos 30 e poucos anos?
Xuxa -
Eu também penso assim, acho que posso fazer isso, mas se eu não tiver um patrocínio, um incentivo para continuar nadando eu não vou continuar. Já fiz bastante representando o Brasil em duas Olimpíadas. Poderia até ir a uma terceira, mas...

DC – Seu objetivo é chegar a Atenas em 2004?
Xuxa –
Difícil falar, meu objetivo é voltar a ter paz para nadar. Não penso mais em objetivos a longo prazo, por enquanto penso em chegar em setembro.

DC – E o que tirou a sua paz?
Xuxa –
Agora eu tenho que trabalhar, correr atrás de coisas que eu não precisava antes para nadar. Se eu não tiver uma estrutura financeira boa para poder me dedicar simplesmente aos treinamentos, não vale a pena ficar nadando.

DC – A sua carreira teve extremos, você foi transformado num ídolo, mas de repente, por alguns problemas pessoais ou físicos, você teve alguns maus resultados em competições. O Xuxa desapareceu?
Xuxa –
Não desapareci...

DC – Você tem alguma mágoa disso?
Xuxa –
Não desapareci, eu sai das competições porque quis. Se hoje eu tivesse em qualquer competição estaria disputando com todo mundo. Eu não quis competir, eu desisti de treinar. Mesmo assim ainda tive alguns bons resultados, fui medalha de prata no Good Will Games no ano passado, fiquei em segundo na Copa do Mundo, em novembro 2001. Até aí eu estava treinando normal, tranqüilo. Aí, na seletiva para o Mundial, em dezembro de 2001 – o Troféu Brasil – eu preferi parar.

DC – Mas porquê isso?
Xuxa –
Eu estava cansado, não estava com a cabeça boa, me sentia estressado, com problemas pessoais e preferi resolver minha vida primeiro. Eu achei que a natação não era importante naquele momento.

DC – Você sente alguma incerteza em relação a essas indefinições da sua vida, tipo estar sempre começando alguma coisa?
Xuxa –
Eu gosto, não consigo ficar parado, gosto dessa vida meio cigana, e não vou ficar parado aqui muito tempo também. Acostumei a viver viajando, cada semana eu gosto de estar num lugar.

DC – Você se satisfez com duas Olimpíadas?
Xuxa –
A última não foi nada, não era o que eu queria. Eu estava na melhor fase da minha carreira e torci o pé, e mesmo com o pé torcido sem poder nadar direito consegui medalha de bronze. Era para mim ter no mínimo mais medalhas.

DC – A natação continua sendo uma profissão para você ou hoje é lazer?
Xuxa –
Estou nadando porque eu gosto, mas nadar continua sendo obrigação porque se eu quero obter um bom resultado tenho que treinar todo os dias. Em setembro, eu quero dar resultado. Hoje não treino tão bem porque tenho que trabalhar todo dia, chego cansado, mas quero fazer o índice dos 50m para o Pan-americano.

DC – E hoje, em que padrão de treinamento você está?
Xuxa –
Hoje eu estou no começo do meu trabalho. Entrando em forma. Começei a treinar a umas 15 semanas atrás. Em condições normais este seria mais ou menos o tempo que eu levaria para chegar na fase de polimento, mas eu estou reestruturando todo o meu trabalho.

DC – Como está a tua vida pessoal, está namorando, e a sua filha, ela mora onde?
Xuxa –
Não estou namorando ninguém. Já a Isabela, hoje com seis anos, está morando em Niterói, com a mãe (Vanessa). Sempre que posso vou visitá-la, inclusive estou indo para o Rio de Janeiro neste fim de semana.

DC – Qual foi o melhor ano da sua carreira?
Xuxa –
Foi em 1998. Bati o recorde mundial, fiquei número 1 do ranking nos 100m livre com 48seg69. Fui o terceiro atleta no mundo a baixar o tempo de 49seg até hoje, com este mesmo tempo teria sido prata na Olimpíada. Fui o primeiro a bater o russo Popov no ranking mundial em piscina longa.

DC – Hoje você ainda se preocupa em baixar marcas, melhorar tempos?
Xuxa – A gente treina para melhorar os tempos sempre.

DC – E tu te sentes em condições de tentar novamente chegar perto de uma marca dessas?
Xuxa – Tranqüilo... é só treinar.

DC – Você pode ser uma surpresa no Troféu Brasil?
Xuxa –
Eu nunca vou ser surpresa a partir do momento que eu subir num bloco. Todo mundo sabe que se eu subir num bloco é para nadar bem e para ganhar. Surpresa eu nunca seria se eu ganhasse.

DC – O Xuxa acabou?
Xuxa – Em um determinado momento eu quis que acabasse. Mas a partir do momento que eu subir num bloco eu vou para ganhar. Não tem nenhuma competição que eu nadei que alguém possa falar mal do meu desempenho.

CLAUDIA SANZ / DIÁRIO CATARINENSE
 / AP

Atleta se prepara para o Troféu Brasil em setembro
Foto:  AP


 
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