| 06/05/2006 14h47min
O Brasil não pretende se envolver na disputa entre a Argentina e o Uruguai sobre a construção de duas fábricas de celulose às margens do rio Uruguai, que divide os dois países. Nesta sexta, dia 5, a Argentina denunciou o Uruguai na Corte Internacional de Haia, órgão judiciário das Nações Unidas.
– A gente ajuda quando verifica que há possibilidade de ajudar. Às vezes, a melhor maneira de ajudar é o silêncio, às vezes é conversando – disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
– Há um forte sentimento de uma das partes de que esse é um tema bilateral, nós respeitamos. Evidentemente, se houver alguma coisa que possamos fazer, no momento em que isso ocorrer, faremos. Mas é preciso deixar as partes se entenderem – acrescentou.
O governo argentino afirma que o país vizinho violou acordos internacionais que regulam a exploração do rio. Também alega que as fábricas ameaçam o meio ambiente. O Uruguai se defende justificando que os projetos seguem os padrões internacionais e vão proporcionar empregos e investimentos na região. Segundo Amorim, controvérsias desse tipo "existem sempre" e independem do fato de os dois países serem parceiros no Mercosul.
– É algo que poderia ter existido com ou sem Mercosul. Problemas similares ocorrem em outros grupos. Há coisas que estão no nosso poder resolver, outras não. Elas têm que ter seu curso normal – ponderou.
As disputas envolvendo as fábricas da Empresa Nacional Celulosa España (Ence) e da finlandesa Botnia já duram meses e resultaram em uma crise política entre os governos dos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e do Uruguai, Tabaré Vasquez.
Entre fevereiro e março, manifestantes argentinos chegaram a bloquear por 45 dias o trânsito entre a cidade argentina de Gualeguaychú e a uruguaia de Fray Bentos, principal ligação entre os dois países. Kirchner e Vasques concordaram com a paralisação das obras por 90 dias, para inspeções rigorosas sobre os riscos de poluição.
Ontem, simultaneamente à denúncia Argentina à Corte de Haia, o Uruguai iniciou procedimento arbitral no âmbito do Mercosul, "devido à omissão do governo argentino na adoção de medidas apropriadas com relação aos impedimentos à livre circulação, decorrentes do bloqueio, em território argentino, das vias de acesso às pontes internacionais San Martín e Artigas, que unem os dois países".
Em relação à possibilidade de o Uruguai se retirar do Mercosul, Amorim disse que o Brasil
"valoriza muito" o papel daquele país no bloco.
– O Mercosul não é somente uma união econômica, é uma união política. Nesse sentido, a presença dos países menores é fundamental, como foi na Europa – destacou, acrescentando que o Brasil, do ponto de vista bilateral, tem procurado "fazer o possível para melhorar as condições dos países menores do Mercosul".
– O que não significa que seja o suficiente – ressalvou.
Na avaliação do ministro, talvez uma das limitações do Mercosul tenha sido não conseguir atender "de maneira mais dinâmica" as expectativas das economias menores.
– Não foi por desejo de não fazer. Nós e eles acreditávamos que resolveríamos isso eliminando as tarifas, criando regras de exceção. Infelizmente isso não foi suficiente, hoje nós sabemos – analisou.
Amorim defende que o Brasil desenvolva políticas industriais e de compras governamentais que induzam capacidade produtiva nos parceiros menores do Mercosul.
– Isso é uma verdadeira revolução cultural na própria burocracia, no empresariado. Nós acreditamos que a integração é única maneira pela qual teremos uma presença efetiva nas relações econômicas internacionais. Se não soubermos disso na América do Sul, se não formos capazes de construir esse bloco, vamos agir de maneira fragmentada em prejuízo nosso.
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