| 09/05/2006 14h19min
O presidente da Bolívia, Evo Morales, atrairá todos os olhares na cúpula entre a União Européia (UE) e a América Latina devido à nacionalização do gás e do petróleo em seu país, recebida no exterior com mais receio do que apoio.
Na última reunião entre as duas partes, realizada há dois anos em Guadalajara, no México, Morales passou quase despercebido. Na ocasião, ele participou de um fórum social alternativo como líder esquerdista. Agora, entretanto, sua presença será um dos pontos altos da reunião.
O interesse suscitado por sua chegada à Presidência da Bolívia une-se agora à polêmica em torno do decreto que colocou as multinacionais petrolíferas contra a parede. Desde 1º de maio, quando impôs o "controle absoluto" do Estado sobre os hidrocarbonetos, o líder boliviano tem sido alvo de uma cadeia de reações do exterior, principalmente dos países de origem das companhias que até agora administravam o negócio do gás e do petróleo na nação andina.
Os Governos do Brasil e da Espanha disseram-se surpreendidos pela medida, que deixa em maus lençóis a Petrobras e a hispano-argentina Repsol-YPF, as duas principais exploradoras de hidrocarbonetos e investidoras no setor energético boliviano. Brasília e Madri, entretanto, só puderam acatar a decisão soberana da Bolívia e tentar a via diplomática para defender os interesses das empresas afetadas.
As empresas têm 180 dias para se adaptar às novas regras do jogo, se quiserem. Caso contrário, terão que sair do país.
Diante do próprio Morales, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se viu forçado, na quinta passada, a apoiar publicamente o plano boliviano em uma "mini-cúpula" presidencial realizada na cidade argentina de Puerto Iguazú, que também teve a participação do presidente anfitrião, Néstor Kirchner, e do venezuelano Hugo Chávez.
Um dia depois, o secretário de Estado de Assuntos Exteriores espanhol, Bernardino León, fez uma visita relâmpago a La Paz para se reunir com Morales. Saiu com o compromisso do presidente de iniciar um processo de negociação entre os dois Governos. Em Viena, o presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, conversará pessoalmente com Morales sobre a polêmica questão.
Mas a nacionalização não afeta somente Brasil e Espanha. A França, que tem interesses na Bolívia com a presença da Total, o Reino Unido, com a British Gas, a British Petroleum e a Shell, que também tem capital holandês, e os Estados Unidos, com a Enron, são outros países atingidos pela medida.
Assim, o bloco europeu reagiu com inquietação ao anúncio da medida, e alertou que a falta de segurança jurídica não beneficiaria "o desenvolvimento político e econômico" do país andino.
Diante dos países-membros da UE, Morales poderá explicar os motivos de sua decisão, tanto em Viena como em Estrasburgo (França), onde deve se dirigir ao Parlamento Europeu em sessão plenária dois dias após a conclusão da cúpula.
Outro assunto pelo qual o líder boliviano deve ser perguntado é a precária situação da Comunidade Andina de Nações (CAN) - com a qual os países europeus pretendiam negociar um tratado de livre-comércio – após a decisão do Governo venezuelano de abandonar o bloco.
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