| 16/05/2006 07h20min
As primeiras ações violentas em São Paulo foram a represália do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra a transferência de seus líderes para prisões na Capital e em Presidente Venceslau, mas o que correu depois pode ter sido a disseminação de atos criminosos sem ligação com o grupo rebelado.
A interpretação é do pesquisador Paulo de Mesquita Neto, 44 anos, do Centro de Estudos sobre a Violência da Universidade de São Paulo (USP). Nesta entrevista por telefone, ontem à tarde, o doutor em ciência política pela Universidade de Columbia, Nova York, diz temer que o debate político comprometa a busca de soluções:
Zero Hora – O Brasil ficou refém do crime organizado?
Paulo de Mesquita Neto – Não podemos ver as ações em São Paulo como um problema estadual. O que há agora é uma situação inédita para os paulistas. Mas as soluções devem levar em conta todo o país. Quando se fala de crime organizado, sempre nos referimos
ao Rio de Janeiro. Agora, isso acontece também
em São Paulo. Há, nesse caso, fatores circunstanciais que contribuíram para as ações, como a transferência de lideranças dos criminosos para outras prisões. Esse seria o fator imediato. Mas a violência atingiu uma intensidade que não se viu antes. Essas ações sempre têm efeito de contágio e se propagam. Ainda não temos informações concretas para avaliar a dimensão desse contágio.
ZH – Quer dizer que a reação do PCC não explica tudo?
Mesquita Neto – Não se pode dizer que apenas o PCC provocou todas as ações. Houve uma disseminação. Os primeiros atos, de ataques a postos policiais, foram coordenados, aconteceram simultaneamente. Mas depois tivemos ações, como os ataques a ônibus, que parecem descoordenadas. Aí estaria ocorrendo o contágio. Se essas ações não são apenas do PCC, mas efeito da disseminação da violência entre outras pessoas, talvez não seja difícil controlá-las, porque não teriam articulação.
ZH – O senhor sentiu medo ao sair de casa
nesta segunda-feira?
Mesquita Neto – São dois os medos numa situação como essa. Primeiro, que a situação saia de controle das forças de segurança do Estado. O segundo é o de que, para conter esta violência, o Estado apele para uma violência ainda maior e alimente o círculo vicioso. Seria a violência contra a violência. Só alterei minha rotina porque fui a um ato ecumênico contra a violência no início da tarde na Catedral da Sé, no centro da cidade. Mas temo também que, passada a emergência, as autoridades não adotem as medidas necessárias e se contentem com medidas pontuais.
ZH – Quais seriam as medidas?
Mesquita Neto – Estado, Ministério Público e Poder Judiciário devem estudar formas de aperfeiçoamento do sistema prisional, por exemplo. É preciso aprofundar o debate sobre políticas de segurança, não só para São Paulo, mas para todo o país. O que não pode ocorrer é a politização dessa discussão, com o governo
do Estado dizendo que está tudo bem e o
governo federal criticando o governo estadual. Esse debate é inócuo. O fato de estarmos num momento de campanha eleitoral não impede que se busque o consenso.
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