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 | 09/06/2002 21h13min

Corpo de Tim Lopes deve ser resgatado nesta segunda-feira

Julgado por traficantes, o repórter da Rede Globo foi executado com um golpe de espada

Nesta segunda-feira, a Polícia Civil do Rio de Janeiro pretende ir a um cemitério clandestino localizado próximo à Favela da Grota, em busca do corpo do repórter Tim Lopes.  O jornalista da Rede Globo foi morto com um golpe de espada do tipo samurai, desferido pelo líder do tráfico do Complexo do Alemão, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, depois de ser capturado e torturado por traficantes da favela Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio. Antes de ser morto, Tim teria sido submetido a um julgamento comandado por Elias Maluco e outros três traficantes. Seu crime: denunciar a ação criminosa dos homens que o executaram.

A polícia chegou a essas informações depois de prender três suspeitos de terem participado do crime, na manhã deste domingo, dia 9 de junho. Um deles tinha prisão preventiva decretada há mais de um ano por tráfico de drogas. Outro, vinha sendo investigado, e o terceiro é um adolescente de 16 anos.

Tim Lopes desapareceu em 3 de junho, quando preparava uma reportagem sobre um baile funk na Vila Cruzeiro, em que havia venda de drogas e shows de sexo explícito com adolescentes.

Neste domingo, o secretário de Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, proibiu a realização do baile. A polícia ocupou o morro. O ministro da Justiça, Miguel Reali Júnior, informou ter deslocado helicópteros e o comando de Operações Táticas da Polícia Federal para ajudar na investigação do caso.

Os suspeitos da morte de Tim Lopes foram presos dormindo em suas casas, no Morro Caixa D'Água, uma das favelas do Complexo do Alemão, às 7h. Levados para a 38ª Delegacia da Polícia Civil (Brás de Pina), Fernando Sátiro da Silva, o Frei, 25 anos, e Reinaldo Amaral de Jesus, o Cadê, 23, contaram que "ouviram dizer" como Tim Lopes havia sido assassinado.  

– O problema é que esse "ouviram dizer" está muito rico em detalhes. Foi um crime com requintes de crueldade – afirmou o chefe da Polícia Civil do Rio, Zaqueu Teixeira.

Segundo Frei, os traficantes desconfiaram da presença constante do repórter na favela nos últimos dias. Um dos seguranças do traficante Maurício de Lima Martins, o Boi, abordou Tim Lopes na Rua Oito, onde ficam a boca-de-fumo e o baile funk. O jornalista foi levado à presença de Boi e André da Cunha Barbosa, o André Capeta. Ali, foi revistado e descoberta a câmera e os fios do microfone escondidos sob a camisa. Tim disse que era repórter da Rede Globo. Os traficantes pediram crachá de identificação, mas Tim Lopes respondeu que não estava com ele. Até então, ele havia sido agredido "apenas com uns tapas, umas porradas", segundo o depoimento de Frei. Os traficantes usaram um rádio Nextel para se comunicar com Elias Maluco.

– Ele recebeu a notícia da captura de Tim Lopes como um troféu. E fez questão de terminar o serviço – descreveu o delegado da 38ª DP, Reginaldo Guilherme.

Elias Maluco determinou que Tim Lopes fosse levado à Favela da Grota, reduto do traficante. Teve as mãos amarradas para trás, foi colocado num Palio e levado ao alto do morro vizinho. No local, conhecido como microondas – onde são feitas as execuções –, Tim foi baleado no pé, para não fugir. Elias Maluco, André Capeta, Boi e o traficante Ratinho comandaram um julgamento, em que ficou decidida a morte do jornalista. Lá, cercado de traficantes, foi executado com um golpe que o cortou do peito ao umbigo.

O crime teria ocorrido nos primeiros minutos de segunda-feira. O corpo do jornalista foi incendiado num monte de pneus, e seus restos, enterrados num cemitério clandestino, próximo dali.

As fitas gravadas por Tim Lopes devem auxiliar na identificação dos assassinos.

Gaúcho nascido em Pelotas, o jornalista de 51 anos, residia no Rio desde os oitos anos, quando foi com a família morar na Mangueira. Era casado e tinha um filho de 17 anos do primeiro casamento.

 
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