| 01/08/2006 01h48min
A comunidade cubana de Miami reagiu com cautela e alegria à notícia de que Fidel Castro delegou provisoriamente o poder a seu irmão mais novo, Raúl. De acordo com uma emissora estatal cubana, Fidel sofreu uma operação motivada por crise intestinal com sangramento.
Aos gritos de "Viva Cuba Libre", centenas de cubanos ocuparam a Rua Oito e outros bairros de Miami numa demonstração de alegria com o possível começo de um processo de transição política. Políticos e analistas pediram, no entanto, uma reação mais calma porque ainda não se sabe o que há por trás do comunicado oficial anunciado em Havana. O texto informa que Fidel Castro foi submetido a "uma complicada intervenção cirúrgica".
O congressista republicano Lincoln Díaz-Balart afirmou que a cessão provisória do poder de Fidel Castro a seu irmão, Raúl, significa que "o fim da tirania está próximo".
– Um sistema totalitário é capaz de qualquer mentira, mas sabemos com segurança que o fim da tirania está próximo – afirmou o congressista republicano, eleito pela Flórida.
Em declarações à imprensa, Díaz-Balart se mostrou com cautela e não quis descartar nada em relação à transferência do poder em Cuba.
– Mas uma coisa é clara: o fato de Fidel ceder temporariamente o poder significa que o seu estado de saúde é grave – analisou Díaz-Balart.
O analista Carlos Alberto Montaner afirmou, por sua vez, que a notícia pode estar ocultando algo muito pior: a morte de Fidel Castro. A opinião é igual à de Sylvia Yriondo, presidente da Associação de Mães e Mulheres Antidepressão por Cuba. Para ela, o país se encontra hoje diante de três possibilidades: Fidel pode estar morto, incapacitado de maneira irreversível ou então convalescente, podendo se recuperar em poucos dias ou semanas.
Os meios de comunicação de Miami reagiram imediatamente à informação com programas especiais analisando a situação. Tanto as redes de TV quanto as emissoras de rádio mostraram cautela, sem saber se é "mais um ardil de Fidel". A diretora do Conselho pela Liberdade de Cuba, Ninoska Pérez Castellón, disse que o passo dado hoje é grande e significa que a situação é crítica.
O Serviço de Guarda Costeira dos Estados Unidos mantém suas operações de patrulha normalmente após o anúncio.
– Não há nenhuma mudança especial nas missões previstas – informou o porta-voz do Serviço de Guarda-costas, Luis Diaz.
Uma porta-voz da polícia de Miami informou que por enquanto ainda não foi ativado o plano de emergência previsto para o caso da morte do líder cubano, e que a cidade está em alerta dois. O prefeito de Miami, Carlos Álvarez, disse que não houve incidentes nem distúrbios. Ele pediu à comunidade cubana que mantenha a calma e espere o desenrolar dos eventos.
Segundo o ex-prefeito de Miami Alex Penellas, o plano de emergência aprovado durante seu mandato tem três pontos essenciais: controlar as manifestações, vigiar os agentes castristas para que não haja tentativas de manipulação e reforçar a segurança de portos e aeroportos para evitar a saída em massa de cubanos em direção à ilha. O risco de um êxodo é o maior temor do governo dos EUA, que, por enquanto, não fez nenhum comentário oficial.
O Comando Sul dos EUA, com sede em Miami, deve mobilizar navios de guerra para evitar um êxodo de cubanos rumo a Flórida, como na crise do Mariel, em abril de 1980. Naquela ocasião, mais de 125 mil cubanos saíram de Cuba numa crise sem precedentes que chegou a provocar um colapso em Miami. No caso de uma mudança do poder em Cuba, as autoridades dos EUA temem um novo êxodo, com centenas de cubanos residentes na Flórida tentando ir buscar seus parentes em pequenas embarcações.
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