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A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, desembarcou no país com a missão de ser uma negociadora e já mostrou as suas armas. Árdua defensora da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), chega a apontar o sucesso das negociações como um das saídas para a recuperação econômica.
Na semana passada, declarações desastradas do secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill – que colocou em dúvida o destino de empréstimos ao Brasil – levou a embaixadora a colocar em prática os seus conhecimentos diplomáticos para desfazer o mal-estar com o governo brasileiro. O secretário desembarca no Brasil neste domingo. No mesmo dia deve jantar com o presidente do Banco Central Armínio Fraga e com o ministro da Fazenda Pedro Malan. Segundo Donna, ele quer saber o que acontece na economia do país.
Donna já conversou com três dos quatro candidatos que lideram as pesquisas – só falta um encontro com Anthony Garotinho – e parece tranqüila quanto à transição. Na última sexta-feira, em um intervalo dos preparativos para a visita de O’Neill, a embaixadora recebeu a Zero Hora no belo pátio interno da embaixada, em Brasília, projetado por Burle Marx. Abaixo, trechos da conversa:
Zero Hora – A senhora teve um papel decisivo no momento de resolver o mal-entendido entre o governo brasileiro e o secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill, que declarou restrições aos empréstimos a Brasil e Argentina, por temor de desvio de recursos para Suíça. Foi difícil resolver esse problema?
Donna Hrinak – O importante é que o governo brasileiro considera o caso encerrado. Mas saliento que vale a pena observar tudo o que O’Neill disse nas entrevistas. Ele falou que a economia dos EUA está bem ligada com a economia dos outros países. Por isso, viaja tanto, e está sendo bastante criticado por isso. A visita dele ao Brasil mostra o entendimento que ele tem.
ZH – A diplomacia brasileira, em Brasília, chegou a atribuir à senhora a responsabilidade pela calma no mercado financeiro no final da semana passada. O que a senhora acha disso?
Donna – Se eu soubesse tanto sobre a bolsa, não teria perdido tanto dinheiro nos últimos meses.
ZH – Foi renovado o apoio do governo norte-americano à recuperação da economia brasileira. O que isso representa?
Donna – Como falou O’Neill, temos continuamente apoiado o Brasil, vamos seguir apoiando o Brasil, e temos confiança na capacidade dos líderes do governo brasileiro.
ZH – O secretário do Tesouro, que chega nesta semana, terá alguma boa notícia?
Donna – As negociações estão em Washington, e o secretário já expressou apoio. O que eu sei é que o Brasil sabe negociar. Eu não gostaria de falar pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), mas sei que são negociações sérias e que os dois lados querem chegar a um acordo.
ZH – Os EUA, neste momento, têm vontade política e econômica de estender a mão para Brasil e Argentina?
Donna – Entendemos a importância desses aliados. A visita (de O´Neill) vai ser importante para ver qual a força da economia do Brasil e ver exatamente o que está ocorrendo na Argentina.
ZH – Qual será a missão do secretário no país? Ele terá encontro com algum candidato à Presidência da República?
Donna – Ele não vai falar só com oficiais do governo, nem vai ficar somente dentro de escritórios, com banqueiros e setor privado. Também vai visitar projetos sociais, empresas, vai ter uma visão mais ampla no Brasil. Depois, vai ser um porta-voz dos interesses que os EUA compatilham com o Brasil. Não terá encontros com candidatos.
ZH – A senhora já esteve conversando com os candidatos à Presidência. Acredita que haverá uma transição tranqüila na relação com os EUA?
Donna – As instituições aqui estão muito fortes. Acredito que teremos uma transição bem tranqüila.
ZH – Nesta semana, houve nos EUA a aprovação do fast track, o tratado para a promoção comercial, que terá reflexos na relação com Brasil e América Latina, que diz respeito. Que significado tem isso para o governo do seu país?
Donna – Essa decisão mostra o compromisso da administração Bush com as negociações de livre comércio em geral. É o que temos ditos: vamos chegar a um acordo até 2005. O livre comércio ajuda na recuperação da economia.
ZH – Na semana passada, o Congresso norte-americano aprovou a Autoridade para Promoção Comercial Comercial (TPA). Houve certa dúvida das autoridades brasileiras quanto ao número de produtos que possam estar na lista daqueles mais sensíveis no comércio dos dois países. É possível vencer esse tipo de dificuldade?
Donna – Sempre há consultas entre a administração e o Congresso. Está formalizada a necessidade, agora, de se fazerem as consultas. Mas não há nada fora da mesa.Vamos negociar tudo, vamos ser os líderes nesse processo. É importante entender o compromisso dos dois países perante as outras 32 democracias do hemisfério.
ZH – Os principais países do Mercosul passam por séria crise. Isso não prejudica as negociações dentro da Alca?
Donna – Sempre vamos ter crises. Mas acho que o livre comércio é parte de uma solução de mais longo prazo para esses problemas econômicos. Por outro lado, o próprio secretário O’Neill expressou o nosso apoio ao Brasil e ao Uruguai no sentido de ajudar com a crise atual.
ZH – A nova lei agrícola dos EUA, Farm Bill, foi interpretada pelos países do Mercosul como mais protecionista do que a política norte-americana já vinha sendo. O que a senhora diz sobre a lei agrícola?
Donna – A lei é um reconhecimento de que o sistema internacional de comércio de produtos agrícolas tem de ser reformado. O governo apresentou nova iniciativa para mudá-lo, eliminando subsídios para exportações, em princípio, e eventualmente, todas as barreiras ao livre comércio.
ZH – Os EUA estão preparados para a possibilidade de negociar com um governo de esquerda no Brasil?
Donna – Vamos trabalhar com o governo que o povo
escolher.
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