| 28/08/2006 23h36min
Em um desabafo a intelectuais reunidos em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu na noite desta segunda-feira que teve de submeter o governo à realidade do jogo político. Para o presidente, no entanto, as concessões feitas no primeiro mandato criaram condições para um possível segundo governo diferente do primeiro.
– Política, a gente faz com o que a gente tem, e não com o que a gente quer. Este é o jogo real da política que a gente precisou fazer em quatro anos para chegar a esta condição altamente confortável – assumiu o presidente.
Ao admitir a dimensão da crise política provocada pelo escândalo do mensalão, Lula lembrou que na história do Brasil outros sucumbiram.
– A indagação que temos que fazer é: por que sobrevivemos e como sobrevivemos? Quantos presidentes chegaram onde nós estamos hoje com a aceitação que o governo tem hoje depois de sofrermos tudo o que nós... sofremos não, o que nós passamos? Na História do Brasil muitos caíram, muitos foram obrigados a se afastar. Nós estamos disputando o segundo mandato – disse.
O presidente admitiu que ficava perplexo em outras eleições, quando tinha apoio da classe média, mas era desprezado pelas camadas mais pobres da sociedade.
– Era para aquele outro que eu queria governar. Era aquele outro que eu achava que representava. Por que, então, ele não estava votando em mim? Possivelmente porque ele tivesse em sua carne a síndrome do preconceito que todos nós que estamos no andar de baixo temos – disse.
De acordo com Lula, todos as concessões foram feitas em respeito à democracia. Ele citou Getúlio Vargas, que cometeu suicídio durante uma onda de denúncias de corrupção, para exemplificar o raciocínio.
– Vejam só, o Getúlio governou o Brasil com mão de ferro durante 15 anos. Com quatro anos de democracia ele não agüentou o tranco – disse Lula.
O presidente disse que nos três anos e meio de mandato teve sempre que procurar o meio termo para conseguir governar.
– Você pode só ver defeito, você pode só ver virtude, e nenhum dos dois interessa. São importantes aqueles que consigam visualizar o que é bom de um lado e ruim de outro para que a gente, sempre tentando encontrar o caminho do meio, a gente consiga governar um país política e culturalmente tão heterogêneo e complicado como o nosso – disse.
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