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Especialistas uruguaios creditam a convulsão social em que o país mergulhou nas últimas semanas não só à sangria dos depósitos bancários, mas diretamente ao baixo investimento do governo federal na educação, considerado o menor da América Latina. Há duas semanas, a população chegou a saquear supermercados e armazéns em busca de comida. Uma reprise do que ocorreu há seis meses na Argentina.
Uma prova da revolta contra o suposto descaso com a educação é que a população só começou a se reunir em grandiosos protestos nas ruas de Montevidéu quando o Hospital de Clínicas, da Universidade da República do Uruguai, fechou as portas da emergência, em 16 de julho. Levantamento do economista Carlos Grau, publicado sob o título Quantificação do Gasto Educativo no Uruguai, do ano passado, revela que o governo federal gasta em média 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) com a educação no Uruguai. Não havia outro país em situação mais precária entre os seus vizinhos, demonstrou o estudo. Esse percentual de destinação de recursos públicos só seria equiparado ao do Haiti. No Brasil foi de 4,8%.
– O ideal é que o gasto público fosse três vezes maior na educação. Ou, pelo menos, ficasse na média dos países desenvolvidos, de 5,1% do PIB – avalia o economista da reitoria da Universidade da República do Uruguai, Pablo Fleiss.
A pesquisa ajudou a desfazer um mito. O Uruguai era historicamente reconhecido como um país de padrão exemplar neste quesito. Entre as populações de fronteira com o Brasil, a comparação era inevitável até em termos quantitativos. Os brasileiros precisam de 11 anos de estudos para completar regularmente o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Antes de ingressar em uma universidade, os uruguaios cursam no mínimo 12 anos.
– Como é possível pensar em enfrentar as agruras de um mundo globalizado sem investir na educação? Socialmente, o estudo e a especialização serão a diferença entre os países. Sem eles, como manter o emprego? – questiona o economista e professor universitário uruguaio Ernesto Dominguez Amaral.
Conhecido pelos uruguaios como hospital universitário, o Hospital de Clínicas é o mais emblemático da capital e do país inteiro. Desde o fechamento da emergência, professores, universitários, médicos e enfermeiros passaram a convocar trabalhadores da indústria e do campo a aderir às suas manifestações nas ruas de Montevidéu. A paralisação do atendimento de emergência – gratuito pelo sistema nacional de saúde – obrigou pacientes a migrarem e a superlotarem outras duas casas de saúde da capital, os hospitais Luis Pasteur e Mariel.
A dívida do governo federal com o Hospital de Clínicas é de 103 milhões de pesos (cerca de US$ 3,5 milhões) de um total de 260 milhões de pesos devidos à universidade (US$ 8,9 milhões).
– Além da função assistencial, é no hospital que se cumpre a maior parte dos estudos dos alunos de toda a área da saúde. Os outros dois sequer dispõem do atendimento de neurocirurgia, urologia, otorrinolaringologia e oftalmologia na emergência – lembra o especialista em medicina interna e professor há 15 anos no Hospital de Clínicas, Adolfo Walsh, 41.
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