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Apoio de Sarney a Lula divide PT gaúcho

Presidente do Brasil entre 1985 e 1990, José Sarney encarna como poucos a arte de alojar-se no poder, seja qual for a circunstância. O novo alvo do instinto de sobrevivência do senador pelo PMDB no Amapá é a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva (PT) à presidência, com quem trocava acusações e críticas desde a eleição de 1989. O apoio explícito de Sarney a Lula foi festejado pelo ex-adversário como uma conquista eleitoral, mas provocou uma mistura de desconforto e apoio no PT gaúcho.

Integrante da corrente petista Movimento Esquerda Socialista, a deputada Luciana Genro interpretou o apoio do ex-governador do Maranhão como reflexo de um "recuo programático" da candidatura Lula, que se soma à aliança com o Partido Liberal (PL) e à promessa de cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – atitudes por ela classificadas como movimentos do PT para parecer confiável à burguesia.

Sem repudiar o acordo em si, a hipótese que causa arrepios à deputada é a possibilidade de Sarney – carimbado como um "oligarca que representa o atraso e a corrupção " – interferir em um futuro governo Lula. A parlamentar do PT acredita que o movimento Bloco de Esquerda, que aglutina as correntes mais à esquerda no partido, irá se manifestar contra a aproximação.

– É um oportunismo da família Sarney. Quem vota em Lula vota para mudar. A melhor estratégia seria mostrar que Lula é a ruptura – explica.

O candidato a deputado estadual Jorge Branco, da corrente Pólo de Esquerda, vê no movimento de Sarney um ato de "oportunismo eleitoral". Segundo ele, a confusão política brasileira permite que um ex-presidente conservador como Sarney apóie uma candidatura que representaria "a transformação do Brasil".

– A questão eleitoral é relevante, mas eu não procuraria o apoio dele. É fundamental que o PT não comprometa seus 22 anos de história – avalia Branco.

O coordenador da campanha de Lula no Estado, Paulo Ferreira, não vê motivos para desconforto. O abraço político do ex-presidente José Sarney a Lula seria um reconhecimento de parte do PMDB às propostas do PT para governar o Brasil, diante da inconsistência dos programas de José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS). Na contabilidade eleitoral de Ferreira, Sarney agrega uma parcela organizada do PMDB, com quem o PT procurou aliar-se nos passos iniciais da campanha, sem sucesso.

– É um apoio programático, para ganhar a eleição e governar o Brasil – avalia.

O deputado estadual e candidato à reeleição, Ronaldo Zülke, da Democracia Socialista (DS), entende que a atitude de Sarney demonstra a força da candidatura Lula, que atrai até mesmo quem não possui a mesma proposta programática, mas está sem alternativas. Zülke não teme a aproximação, "pois o PT não fará concessões."

Outro defensor é o deputado estadual Roque Grazziotin, um independente próximo da Articulação de Esquerda. Para ele, a aproximação representa um mea culpa de Sarney em relação ao tempo em que comandou o Brasil e levou a economia brasileira a amargar uma inflação mensal de 80% no início de 1990.

– O apoio não vai desmobilizar a militância petista e abre um espaço para Lula na região de influência do Sarney, principalmente no segundo turno com Ciro – argumenta Grazziotin.

Mais informações sobre candidatos, partidos, pesquisas, regras e números eleitorais no especial Eleições 2002.

 
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