| 31/03/2007 17h55min
Há menos de 10 anos, um controlador militar de vôo trabalhava seis horas por dia, ganhava melhor e tinha tempo para estudar e administrar um segundo emprego. Como a Aeronáutica perdeu o controle da categoria?
A sobrecarga de trabalho, fruto da falta de investimentos e de adaptação ao forte crescimento do transporte aéreo brasileiro nos últimos anos, é a explicação mais simples, segundo dois ex-controladores de vôo. Mas a insatisfação vai além e passa pela queda do avião da Gol, que matou 154 pessoas em 29 de setembro. Os controladores se dizem desamparados pela Aeronáutica.
– O acidente foi um marco. Sinto uma falta de prestígio do controlador – avalia Elones Ribeiro, 52 anos, 30 deles monitorando o espaço aéreo antes de se aposentar em 1998.
Quando controlador, Ribeiro cursou Engenharia Química, trabalhou na iniciativa privada e foi instrutor de vôo, entre outras atividades. Hoje, ele coordena o curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS. As atividades paralelas permitiram que Ribeiro tivesse uma aposentadoria confortável.
– A gente gostava da profissão. Era uma cachaça. Nunca passou pela cabeça fazer greve – lembra.
Insatisfação acirrou situação entre oficiais e subalternos
Depois do acidente da Gol, os controladores de Brasília, responsáveis pela aeronave, foram investigados sem o apoio da Aeronáutica, segundo João Carlos Zagiski, 51 anos, outro ex-controlador. Os militares responsabilizados pagaram seus advogados, de acordo com Zagiski, e viram a Aeronáutica negar a sobrecarga de trabalho e os defeitos nos equipamentos de controle. A culpa caiu no colo das patentes menores.
Como monitoravam mais aeronaves do que recomendam normais internacionais (20 em vez de 14), os controladores acreditam que a corporação falhou ao não compartilhar a culpa. A insatisfação provocou meses de protestos e discussões dentro do centro de controle de Brasília, levando ao acirramento da queda-de-braço entre oficiais e subalternos.
– Os superiores estavam constantemente ameaçando com prisão e punições – diz Zagiski.
Os controladores também querem ganhar mais e novo plano de carreira, que igualaria as promoções do Exército às da Aeronáutica e permitiria até mais 40% nos salários de não-oficiais. Poderiam ficar até 13 anos a mais no cargo. Zagiski e Ribeiro aposentaram-se antes dos 50 anos.
– Saí no auge da minha capacidade profissional – lembra Zagiski.
Não houve acordo com o governo para a tramitação do projeto. Sobrou a proposta de desmilitarização, aceita na sexta-feira pelo governo.
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