| 03/04/2007 11h31min
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou hoje que não irá quebrar a hierarquia militar no caso da crise aérea e, segundo participantes da reunião realizada em Brasília, Lula nomeou o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, como responsável pela transição durante a desmilitarização do controle de tráfego. O presidente reuniu-se com o conselho político, integrado por líderes dos partidos que lhe dão sustentação no Congresso. Segundo os presentes, o presidente se disse "aborrecido" com os controladores de vôo, que anunciaram que manterão um estado de greve.
Na segunda-feira, o presidente já havia recuado da decisão tomada na sexta quando, para conter a greve dos controladores de vôos, desautorizou a Aeronáutica, suspendendo as prisões dos militares e fez um acordo com a categoria que prevê gratificações salariais e desmilitarização do setor. Em seu programa matinal de rádio, chamou os grevistas de irresponsáveis e deu apoio informal ao Ministério Público de abrir inquérito
policial militar
contra os grevistas, que pode resultar até em prisão dos profissionais.
Na sexta, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, havia garantido aos rebelados que não haveria punições em decorrência da manifestação. A mudança na postura do governo colocou em xeque a situação dos Aeroportos no feriado da Semana Santa. Os controladores civis decidiram entrar em estado de greve. O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo - que representa os controladores aéreos civis -, Jorge Botelho, disse que a categoria decidiu, em assembléia, por um indicativo de greve, ou seja, o trabalho poderá ser suspenso a qualquer momento. Mas dirigente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, Ulisses Fontenele, disse que os controladores não farão uma nova paralisação.
Hoje, Paulo Bernardo recebeu os controladores para conversar sobre suas reivindicações. Eles não foram recebidos pelo presidente Lula, como queriam. Segundo fontes com acesso
à reunião, Lula
reconheceu que, ao tomar sua decisão no Exterior e em pouco tempo, não tinha noção clara das conseqüências. Por isso, resolveu subir o tom com os controladores. Na prática, a medida também atendeu à pressão da Aeronáutica e impediu uma crise institucional entre os poderes.
Reflexos nas Forças Armadas
A crise na Aeronáutica afetou as demais Forças. Na avaliação de militares de alta patente do Exército, o episódio dos controladores e a decisão de Lula de impedir as prisões afetaram os pilares básicos das Forças Armadas, que são a hierarquia e a disciplina. Além disso, eles alegam que a negociação para concessão de uma gratificação aos sargentos da FAB cria um problema para toda a estrutura de cargos e salários das três Forças.
Outro sinal claro do agravamento da crise veio com o manifesto do Clube de Aeronáutica - formado basicamente por militares da reserva - dando um prazo de 72 horas, a contar de domingo à noite, para que o governo
voltasse atrás na decisão de não punir os
controladores amotinados. Caso contrário, entrariam com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o próprio presidente da República, por crime de responsabilidade.
Para contornar a crise, Lula também se encontrou separadamente com o comandante Saito e o ministro Waldir Pires, no Palácio do Planalto. Nesses encontros, Lula disse que não tinha alternativa, para justificar a decisão de negociar com os amotinados. E também atribuiu responsabilidade à Aeronáutica, lembrando que havia dado seis meses para que o Comando resolvesse a crise, o que não ocorreu.
Outro problema que o presidente Lula quer resolver é a saída do ministro da Defesa, Waldir Pires. O presidente já decidiu que a situação do amigo ficou insustentável no governo. Mas avisou que quer uma espécie de saída honrosa.
Já o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, responsabilizou o governo e os controladores de vôo pelo caos. Para
ele, todos os órgãos envolvidos no
controle do tráfego aéreo falharam nos últimos meses, porque perderam o timing na condução das negociações.
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