| 28/10/2002 02h36min
Menos de cinqüenta passos separavam as duas torcidas. Entre militantes dos candidatos a governador do PMDB e do PT, o prédio que abriga os dois cartórios eleitorais de Santa Maria. No centro nervoso responsável por encaminhar os dados da 135ª e 41ª zonas eleitorais para Porto Alegre, a presidente da 127ª sessão, Marta Jean Isquizani dos Santos, foi recebida com aplausos do pessoal da Justiça Eleitoral. Eram 17h20min. Naquele momento, começava a apuração.
Do lado de fora do prédio, os presidentes de seções chegavam apressados. Com a área isolada pela Brigada Militar e o trânsito interrompido, a avenida ainda estava deserta. Os militantes, com, faixas e bandeiras iniciavam a festa.
Esperando pelos militantes, Horizontina Teixeira, 51 anos, fritava pastéis na praça da locomotiva, em frente ao cartório. Sem não revelar o voto - que para ela é secreto - ela se mostrava preocupada.
- Oitos anos atrás eu não me imaginava fritando pastéis. Como está, não
dá para ficar. A gente era feliz e
não sabia. Mas é a democracia - explica Horizontina.
Com a divulgação da pesquisa de boca-de-urna os militantes do PMDB ficaram mais entusiasmados. Do outro lado, a militância petista ensaiava palavras de ordem saudando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República.
- É maravilhoso. Agora ninguém nos segura. Suamos a camiseta, mas valeu a pena - afirmou o presidente da União Santamariense dos Estudantes, Ricardo Bassi, 19 anos.
Junto a um grupo de simpatizantes de Germano Rigotto (PMDB), Bassi confessou um pouco constrangido pela presença dos companheiros o seu voto, que pode ser considerado exemplar do comportamento dos eleitores locais.
- Para presidente votei no Lula - confessa.
Para as quatro autoridades responsáveis pela condução da eleição na região, os juízes eleitorais Regis Adil Bertolini e Ricardo Falleiro Carpilovsky e os promotores eleitorais Fernando Barros e Aljacira Lima
Teixeira, o balanço do pleito foi positivo. Salvo
ocorrências consideradas normais, o consenso foi de que o processo foi muito melhor do que a expectativa.
- Só tivemos problemas com quem estava acostumado a descumprir a lei - resumiu Carpilovsky.
A calma das autoridades, que já combinavam um churrasco para a noite, depois de concluída a apuração, contrastava com a militância. Unhas roídas e rostos ansiosos denunciavam o nervosismo. Junto ao cartório, fiscais, vereadores, secretários, mesários e transeuntes davam trabalho à Brigada Militar.
Alheio ao movimento, sentado no meio-fio do canteiro central da avenida, o agropecuarista Ricardo Bassi, 55 anos, destoava da pequena multidão. Calça alinhada, sapatos e maleta preta, Bassi preferiu não revelar o voto. Os cabelos brancos denunciavam muitas eleições e os ouvidos acostumados às promessas de campanha. Lembrando dos dois filhos e do neto, quando votou pela manhã, manteve acesa a esperança no futuro.
- É bom votar.
Independentemente de quem ganhe, acredito que dias melhores
virão.
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