Depois da histórica vitória nas urnas, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, deu início nesta terça, dia 29, à transição de poder, indicando o coordenador de sua equipe que trabalhará junto ao governo de Fernando Henrique e abrindo o diálogo com os três poderes.

Lula anunciou, logo após um encontro com atual presidente, a indicação do médico Antônio Palocci, responsável pelo programa de governo da coligação encabeçada pelo PT durante a campanha, para coordenar uma equipe ''eminentemente técnica'' que cuidará da transição até janeiro. Palocci, prefeito licenciado de Ribeirão Preto, vai chefiar o grupo suprapartidário cujos demais integrantes deverão ser conhecidos em dois dias.

Em Brasília, Lula foi recebido com honras de chefe de Estado para o primeiro encontro da transição com FH e visitas à Câmara, ao Senado e Supremo Tribunal Federal (STF). O novo presidente chegou à Capital federal acompanhado do presidente nacional do partido, José Dirceu, de Antonio Palocci, e do ex-deputado e assessor Luiz Gushiken. O vice-presidente eleito, senador José Alencar (PL), viajou separado de Lula por questões de segurança.

O encontro com FH no Palácio do Planalto durcou cerca de uma hora. O porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, não especificou os temas discutidos e adiantou apenas que FH e Lula dificilmente viajarão juntos para o Exterior depois da posse, como chegou a ser especulado. Assessores de Lula disseram que o presidente eleito definiu a reunião como uma das mais cordiais das quais participou. Os dois falaram da situação do país, de relações internacionais e amenidades, como o esgotamento físico provocado por uma campanha.

Depois da conversa reservada, Lula recebeu o vice-presidente, Marco Maciel, e os ministros Pedro Parente (Casa Civil e coordenador de governo da equipe de transição), Pedro Malan (Fazenda), Euclides Scalco (Secretaria Geral), o vice-presidente eleito, José Alencar, além de José Dirceu, Palocci (coordenador da transição na equipe de Lula) e Gushiken. A surpresa foi a participação de Malan, que não estava prevista e foi decidida à última hora por FH.

Depois dos encontros, ele deu uma entrevista e destacou a cordialidade de FH:

– Creio que o momento que estamos vivendo deve ser singular na história política da América Latina. Acho que no Brasil certamente nunca houve uma transição democrática como essa.

À tarde, o novo presidente visitou os presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB), do Senado, Ramez Tebet (PMDB), e do STF, Marco Aurélio Mello. Ao lado de Aécio, Lula prometeu conversar com todos os partidos em busca de apoio parlamentar já durante a transição.

– Eu quero que vocês saibam que nós vamos manter a mais harmônica relação com esta Casa. Quero que os dirigentes partidários saibam que eu vou tornar hábito neste país reunião com os partidos – disse ele.

Aécio, que deixará a Casa para governar o Estado de Minas Gerais a partir de 2003, sugeriu a realização de um encontro do presidente com os novos governadores já este ano. O presidente da Câmara disse ainda que, se depender dele, os governadores eleitos do PSDB não vão pressionar o novo governo pela renegociação das dívidas estaduais.

Antes da reunião na Câmara, Lula visitou o presidente do Senado, Ramez Tebet. Para o senador, ele também ressaltou a necessidade de diálogo com os diferentes setores da sociedade e prometeu estabelecer uma relação harmônica com os senadores.

Fechando o giro pelos três poderes, o presidente eleito reuniu-se por cerca de meia hora com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio Mello. No encontro, Lula também mostrou-se disposto a manter uma relação de entendimento com o Poder Judiciário e fazer o que for necessário para garantir seu bom funcionamento.

– Se eu quiser passar à sociedade brasileira a idéia de construção de um novo pacto social, o relacionamento do presidente da República e dos presidentes das principais instituições deve servir de exemplo – disse.

• Confira os números do primeiro e segundo turno e informações sobre a transição no especial Eleições 2002