Indiciados no final do mês passado pelo Ministério Público, os controladores de vôo Jomarcelo Fernando dos Santos e Lucivaldo de Alencar, acusados de serem responsáveis pelo maior acidente aéreo no Brasil, decidiram quebrar o silêncio. Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, os dois controladores se disseram injustiçados e culparam o sistema da Aeronáutica pelo acidente com o avião da Gol em setembro do ano passado.

– Tenho consciência de que não tive culpa. Segui todos os regulamentos do tráfego aéreo. Acreditei nas informações que eu tinha - afirmou Santos, que, mesmo assim, revela não ter mais condições emocionais de voltar ao trabalho.

Controlador de vôo há quatro anos, Santos, sargento da Aeronáutica de 27 anos, foi acusado de conduta dolosa por expor o vôo a perigo de forma consciente. Alencar é ainda mais enfático ao rebater as acusações. Segundo ele, o acidente poderia ter sido evitado caso o sistema não tivesse falhado. Emocionado, Alencar disse não ser "criminoso" e também que não pretende abandonar sua profissão.

– O que aconteceu foi uma informação errada – defendeu-se.

O plano de vôo do jato Legacy, que colidiu com o avião da Gol, estabelecia que a aeronave deveria voar de São José dos Campos até Brasília a 37 mil pés e depois desceria para 36 mil pés. Mas o Legacy se manteve em 37 mil, altitude na qual em sentido contrário vinha a aeronave da Gol. Os controladores, segundo ele, não tinham como ver esse cenário porque o sistema mudou automaticamente a altitude do Legacy assim que o jato entrou no céu de Brasília.

Santos admitiu que erros de software como o que aconteceu no dia do acidente da Gol já haviam ocorrido anteriormente.

- Isso já foi reportado, feito relatório de perícia bem antes mesmo do acidente, mas nunca foi mudado - revelou.

Em nota oficial, o comando da Aeronáutica disse que não identificou deficiência nos equipamentos. Segundo a nota, o sistema emitiu todos os alertas para que os controladores pudessem evitar o acidente.

ZERO HORA