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Ficou para a última rodada a classificação do Grêmio. De novo. Essa mania de suar sangue antes de cada sucesso já faz por merecer análises de terapeutas experimentados. É um caso único de masoquismo vencedor. Muda técnico, troca-se o preparador físico, altera-se a escalação, entra presidente novo e tudo se repete: o time chega lá, mas antes sofre muito.
Tal singularidade se incorporou à personalidade do clube que ganhou contornos místicos para além da Azenha. É a aura que envolve o jogo deste domingo contra o Atlético-MG, às 16h, no Olímpico. Uma vitória coloca o Grêmio na segunda fase do Brasileirão 2002 sem depender dos outros resultados da rodada.
Observe-se o caso de Rodrigo Fabri (à direita na foto, ao lado de Gavião). Chegou faz pouco tempo, mas já percebeu que há algo de mítico no ar do Olímpico:
– O que rola fora daqui é que, quando o Grêmio chega, é duro de derrubar. Talvez seja justamente por isso: quando a gente vai avançando com sofrimento, o grupo se une mais para preservar cada pequena conquista.
Fabri viveu isto de perto em 1996. O Grêmio classificou-se em sétimo lugar, mas foi indo, indo, até enfrentar a Portuguesa do próprio Fabri na final do Campeonato Brasileiro. O título era paulista até Carlos Miguel rifar a bola na área adversária, a 10 minutos do final. Estava 1 a 0 para ao Grêmio, gol de Paulo Nunes no começo da partida, mas era preciso mais um gol para levar o título.
– Era só o zagueiro se abaixar que a bola sairia pela linha de fundo. Mas ele cabeceou. E o Aílton acertou em cheio de pé direito, que não era o dele – lembra Roger, outro protagonista do episódio de masoquismo vencedor.
Quase ninguém mais acreditava no gol de empate em 2 a 2 que daria ao Grêmio a Copa do Brasil de 1997, diante do Flamengo, no Maracanã. Roger fez menção de voltar do ataque para guarnecer a defesa pelo seu lado esquerdo. O técnico Evaristo de Macedo berrou:
– Fica! Fica!
Pois a jogada sobrou para Roger. O lateral foi à frente, cruzou, a bola desviou em Nélio, ajudou a tirá-la do alcance do goleiro e Carlos Miguel completou. Recordando tantas conquistas que pareciam impossíveis, Roger entende que elas ajudam na hora de ter fé até o apito final do árbitro.
– Psicologicamente, é bom saber que dá resultado lutar até o último instante quando estamos numa situação assim. Se já funcionou outras vezes, por que não pode funcionar nesta também? – filosofa o capitão gremista.
Há mais exemplos. Em 1998, o Grêmio classificou-se na última rodada vencendo a Portuguesa por 4 a 2. Zé Alcino fez dois gols e virou herói. Um punhado de resultados paralelos que precisava acontecer se materializou. E o Grêmio chegou entre os oito no Brasileirão. A festa na pista atlética foi uma catarse coletiva.
– Desde que me conheço por gente como jogador aqui no Olímpico, é sempre assim – sorri Danrlei, a mais vencedora das estrelas azuis.
No Grêmio, a dúvida é sobre quem será um dos volantes. Gavião sente dores no músculo adutor da coxa. Seus substitutos podem ser, pela ordem: Emerson ou Samuel. Nesta segunda hipótese, Polga avançaria da zaga para o meio-campo. Neste sábado, mais mistério: Gilberto foi poupado dos treinamentos devido a uma lesão no tornozelo.
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