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 | 14/01/2008 23h33min

Sorvete em domicílio: Tradição de Oásis do Sul

Doce saiu da loja para ganhar as ruas das praias entre Cidreira e Xangri-lá

André Roca  |  andre.roca@rbsonline.com.br

O sorvete mais tradicional da praia de Oásis do Sul, no litoral norte gaúcho, chega também de ônibus até a clientela. Na vizinha Nova Tramandaí, antes mesmo de o veículo dirigido por Lotário Mulling apontar na Avenida Curitiba, os irmãos Mateus, de 11 anos, e Davi, de 8, já estão sentados em frente à casa de nº 251, esperando com ansiedade por fartas porções da iguaria servida há 25 anos pela Ponto de Encontro.

– Os pequeninos ficam parados aqui na frente, olhando lá adiante – conta a mãe dos garotos, Liciane Petry de Souza.

Vender alimentos utilizando-se de um meio de transporte como balcão de atendimento já não é mais novidade. Mas para fidelizar os clientes mais exigentes que há por aí – as crianças – é preciso ter algo a mais.

– Essa sorveteria é a mais antiga da praia e sempre foi a melhor de todas. Passei minha adolescência freqüentando o local – relata a vendedora de seguros Patrícia Bambrilla, de 36 anos.

A história da Ponto de Encontro começou em 1983, quando o dono Luiz Jones Dullius, então com 17 anos, começou no ramo. E foi por acaso.

Desempregado em Porto Alegre, Jones foi levar um material para a sorveteria da madrinha, em Atlântida Sul, e acabou ficando. Em pouco tempo, ganhou da tia uma loja para cuidar. Um ano depois, seguindo o conselho da mãe, dona Juçara Irene Zenke, se estabeleceu em Oásis, já como dono do próprio negócio.

 – Isso aqui (Oásis) era só cômoros de areia. Eram terrenos baldios e dunas. Recém havia sido construído o supermercado e as casas eram muito antigas – lembra.

 O fato de escolher um lugar ainda pouco habitado para iniciar um negócio ajudou. A praia foi crescendo, e a empresa acompanhou.

– Foram anos bons, pois não tinham outras opções. Foram os anos que alavancaram a nossa situação – explica.

Assim como a ocasião ajudou a criar um sorveteiro, o nome do empreendimento acabou surgindo em virtude dos fatos em torno da loja.

 – Não tinha telefone, não tinha celular, então as pessoas largavam aqui a chave de casa e avisavam que ia passar alguém para pegar. Além disso, para pegar ônibus para Tramandaí, aqui era o ponto. Daí acabou virando Ponto de Encontro. O nome não tem uma relação direta com sorvete em função disso – afirma.

Com o cenário econômico do país mudando, o proprietário da sorveteria precisou sair atrás de uma alternativa para não quebrar. Mas antes, tentou compreender o que estava acontecendo em volta.

– O mercado mudou e houve uma queda acentuada nas vendas. Entraram concorrentes e as mulheres foram para o mercado de trabalho e deixaram de veranear. Antes, os maridos trabalhavam e elas ficavam com as crianças na praia. Com as pessoas cada vez com menos poder aquisitivo, elas vêm para a praia e ficam em casa para não gastar. Aí tivemos que ir na casa delas para buscar o dinheiro que elas já não estavam dispostas a gastar – justifica Jones.

Em setembro de 1992, Jones resolveu aproveitar melhor o caminhão de pequeno porte que usava para buscar a matéria-prima para a fabricação dos sorvetes. Montou sobre a carroceria uma casinha de madeira, estilo de bonecas mas de porte bem maior, e deixou o veículo estacionado em uma praça de Nova Tramandaí. Deu tão certo que no final de semana seguinte ele já tinha comprado o primeiro ônibus para adaptar ao serviço. Então, veio o empurrão da prefeitura.

 – Pessoas incomodadas com o veículo parado na praça nos denunciaram. Como tínhamos licença, os fiscais só orientaram que poderíamos ficar no máximo 15 minutos naquele local. Foi o ovo de Colombo, né! O motorista começou a circular, as pessoas começaram a fazer sinal, ele foi parando. Depois foi espichando o trajeto. Em novembro já comprei o segundo ônibus e o motorista acabou virando sócio em 1993. Chegamos a ter 18 ônibus. Na frente da loja parecia uma rodoviária.

Hoje, a Ponte de Encontro circula pelas ruas das praias que vão de Cidreira até Xangri-lá. São 13 veículos, mas apenas três ônibus, já que os gastos com manutenção e combustível já não estavam compensando. Por isso, o restante foi sendo substituído por microônibus e vans, cujo mobiliário o próprio Jones faz. A única coisa que o empresário não conta é quanto vende por dia.

– Ah, isso é segredo. É um negócio que é viável. Vale a pena. Ainda é rentável – diz sorrindo.

Enquanto isso, na Avenida Curitiba, o pequeno Igor, de 6 anos, irmão de Mateus e Davi e que não apareceu na reportagem porque estava doente, já se prepara para ajudar os negócios de Jones a continuarem se expandindo pelo Litoral assim que estiver recuperado.

– Ele ganhou R$ 5 do padrinho e disse que vai gastar tudo em sorvete quando ficar bom – conta a mãe.

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