| 29/01/2008 18h44min
A família da refém franco-colombiana Ingrid Betancourt quer um maior envolvimento do governo brasileiro na solução do conflito colombiano e na liberação das pessoas seqüestradas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas deixa claro que o presidente Luis Inácio Lula da Silva não conseguirá ser um substituto para o venezuelano Hugo Chávez. A irmã de Ingrid, Astrid Betancourt, elogiou a recusa do Brasil em declarar as Farc como um grupo terrorista. No próximo mês, o seqüestro completará seis anos e a família promete reforçar a pressão internacional.
— Estamos pedindo ao governo francês que envolva mais o Brasil no processo. O país é um ator importante na região e tomou um passo importante ao insistir em não classificar as Farc como uma organização terrorista. Isso permite que o governo seja um interlocutor no processo — afirmou Astrid, que está na Suíça para reuniões com o governo local.
Os suíços, além dos franceses e dos espanhóis, fazem parte do
grupo de mediadores que
tentam encontrar um acordo para a questão dos prisioneiros e reféns feitos pela guerrilha. A idéia de Astrid é de incentivar esse grupo a usar o Brasil no diálogo conforme veja necessidade. Para ela, porém, Lula não tem a mesma capacidade de diálogo com as Farc que o presidente venezuelano.
— Chávez é incontornável hoje na solução para a questão dos reféns. Ele sabe como falar com eles e é alguém que precisa estar envolvido — disse, afirmando que o presidente da Venezuela foi "eficaz" ao conseguir certas concessões dos guerrilheiros.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, suspendeu as negociações há poucas semanas, frustrando a família de Betancourt:
— Chávez foi solicitado a entrar nas negociações desde que Ingrid foi seqüestrada. Mas não podia sem o sinal verde da Colômbia. Há poucos meses, essa autorização foi dada e os resultados foram positivos. Infelizmente, Uribe suspendeu o processo. Mas Chávez precisa estar associado às negociações. Ele
tem o mandato da família dos reféns.
Status de terrorista
A família tenta convencer Suíça, França e Espanha a utilizarem os contatos de Chávez como forma de se aproximar de uma liberação de Ingrid. Para Astrid, um passo importante que a comunidade internacional poderia dar é a retirada das Farc da lista de organizações terroristas.
— Isso ajudaria na libertação dos reféns — afirmou a irmã de Ingrid, que defende que a UE tome tal medida como um sinal para conseguir concessões dos guerrilheiros.
Uribe vem insistindo com os governos estrangeiros para que mantenham o status de terroristas para as Farc e não esconde que gostaria de ver o Brasil também adotando tal postura.
— Uribe nunca quis negociar e atua de má-fé — disse a irmã da refém. — A guerra tem sua lógica política também para o governo e é interessante que seja mantida, inclusive para que os militares continuem recebendo dinheiro do governo americano —
completou.
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