O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá amanhã na Guiana Francesa com o chefe de Estado francês, Nicolas Sarkozy, para tentar aprofundar na aliança estratégica bilateral e abordar assuntos conjunturais. Entre essas questões, estão as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a situação dos reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Os dois se encontrarão em Saint Georges de l'Oyapock, localidade do território francês ultramarino que fica na fronteira com o Brasil, onde terão uma reunião privada. Em seguida, haverá um encontro ampliado com ministros, quando apresentarão a maquete da ponte que completará a comunicação entre Caiena, capital da Guiana Francesa, e Macapá a partir de 2010.

Não está prevista a assinatura de nenhum acordo concreto, mas os dois chefes de Estado assinarão uma declaração na qual colocarão as bases para uma cooperação mais estreita em defesa e em aplicações civis da energia nuclear. Segundo um comunicado do Itamaraty, a reunião de trabalho, na qual Lula estará acompanhado de uma comitiva ministerial e parlamentar, "faz parte dos esforços bem-sucedidos que o Brasil e a França vêm realizando no aprofundamento de sua parceria estratégica".

Essa associação, acrescenta a nota, se caracteriza pelo "grande dinamismo e reconhecida afinidade de visões sobre a agenda internacional, como é o caso do combate à fome e à pobreza e da defesa do multilateralismo". As negociações sobre cooperação na defesa refletem a posição dos dois países em diferentes assuntos internacionais.

A França apóia a pretensão brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, e defende uma reforma no Grupo dos Oito (G8, os sete países mais desenvolvidos e a Rússia) que inclua países emergentes, como o Brasil. As conversas nessa área foram iniciadas há duas semanas pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Após uma visita oficial a Paris na qual conversou sobre a aquisição de um submarino e vários caças-bombardeiros e da tecnologia que o Brasil precisa para concluir seu submarino de propulsão nuclear, Jobim disse que a França se mostrou disposta a transferir tecnologia.

Quanto aos temas conjunturais, o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, citou a situação dos reféns da guerrilha das Farc e a iniciativa do Brasil de organizar um encontro de líderes mundiais para destravar as negociações da Rodada do Desenvolvimento de Doha da OMC.

O Brasil e a França estão negociando a criação de um grupo de países que possa mediar na libertação de reféns em poder das Farc. A França está particularmente interessada na libertação da ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada em fevereiro de 2002 e que também tem nacionalidade francesa.

— O Brasil está interessado em auxiliar, em oferecer seus serviços, para ajudar a resolver esse assunto, mas tendo como pauta a observação estreita dos princípios de não-intervenção nos assuntos internos da Colômbia — disse Baumbach.

— Nesse sentido, o Brasil considera que é crucial a participação dos presidentes (venezuelano, Hugo) Chávez e (colombiano, Álvaro) Uribe no processo — acrescentou o porta-voz de Lula.

O presidente brasileiro também pretende aproveitar o encontro para reiterar seu pedido para o avanço nas negociações da Rodada de Doha, especialmente na área agrícola.

— Lula reafirmou sempre que uma reunião de líderes de diferentes países neste momento estaria em condições de dar um estímulo adicional ao processo. Se o assunto for abordado, o presidente, com certeza, convidará Sarkozy para essa reunião — disse o porta-voz.

O presidente brasileiro defenderá progressos na área agrícola que possam salvar a rodada, e abordará o tema dos subsídios franceses à agricultura. O Brasil é o maior parceiro comercial da França na América Latina, com uma troca que passou de US$ 5,5 bilhões em 2006 para US$ 7 bilhões em 2007, enquanto a França é a quinta maior fonte de investimentos estrangeiros diretos no país, com US$ 14 bilhões acumulados.