| 21/02/2008 10h43min
O governo britânico conseguiu que fosse omitida uma referência ao arsenal nuclear de Israel na versão divulgada da minuta do documento que justificou a Guerra do Iraque, revela hoje o jornal The Guardian.
No fim de semana, o Ministério de Assuntos Exteriores foi obrigado a tornar pública a minuta sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein. Essa primeira minuta não continha a afirmação alarmista de que o Iraque podia realizar um ataque desse tipo em 45 minutos.
O documento, elaborado pelo chefe de imprensa do Ministério de Assuntos Exteriores, John Williams, serviu de base para o dossiê apresentado ao Parlamento pelo então primeiro-ministro, Tony Blair, em 24 de setembro de 2004.
O comissário de Informação do Reino Unido, Richard Thomas, obrigou o governo a publicar o documento de acordo com a Lei sobre Liberdade de Informação, mas o Ministério de Exteriores conseguiu que fosse suprimida a referência a Israel, que aparecia em
uma nota à parte.
Segundo o
Guardian, juntamente com outras referências aos Estados Unidos e Japão, a relativa a Israel foi escrita separadamente do documento por alguém encarregado de acrescentar um
comentário a ele. A menção a Israel aparecia em um parágrafo que dizia que, além do Iraque, "nenhum outro país" tinha violado "tão descaradamente a autoridade das Nações Unidas em sua tentativa de conseguir armas de destruição em massa".
Em um depoimento prestado ao Tribunal de Informação, encarregado de decidir se o Governo deveria publicar o documento por interesse público, o responsável pelo Oriente Médio no Ministério de Exteriores, Neil Wigan, disse que são sabia quem tinha escrito a nota.
Wigan disse, no entanto: "Segundo a minha interpretação da anotação, quem a escreveu acredita que Israel violou a autoridade das Nações Unidas de forma semelhante à feita pelo regime iraquiano de Saddam Hussein". Para o responsável, a simples publicação da referência a Israel poderia
prejudicar as relações do Governo
britânico com o Estado judeu.
Segundo Wigan, em Israel existe a percepção de que setores do Ministério de Assuntos Exteriores britânico têm "preconceitos contra esse país", por isso a publicação da nota acrescentaria lenha à fogueira. Não é a primeira vez que o Foreign Office se nega a publicar documentos para não prejudicar as relações internacionais, afirma o Guardian".
O jornal lembra que, no ano passado, não foi permitida a publicação pelo ministério de certos documentos sobre as Malvinas, alguns dos quais datados de 80 anos atrás, porque poderiam prejudicar as relações com a Argentina e até com a Espanha, que rejeita "a ocupação semelhante" de Gibraltar.
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