| 06/03/2008 09h28min
Consagração talvez seja a palavra que melhor defina o momento de Zico na Turquia. Um dia depois de comandar o Fenerbahçe na histórica classificação às quartas-de-final da Liga dos Campeões, o treinador brasileiro foi recebido como herói por uma multidão na capital Istambul, onde mora há quase dois anos. A vitória nos pênaltis sobre o Sevilla, na Espanha, colocou o clube pela primeira vez em sua história entre os oito melhores da Europa.
Na chegada à Turquia, Zico teve dificuldade para se deslocar do aeroporto até o centro de treinamento do clube. Alegria dobrada pelo aniversário de 55 anos, ocorrido na segunda-feira. Por volta das 22h desta quarta - 17h pelo horário de Brasília - , já em casa, na companhia da mulher Sandra, o novo ídolo dos turcos falou por telefone com ZH.
Zero Hora - Como está o ambiente em Istambul após a classificação? Quando foi a chegada?
Zico - A chegada foi hoje (ontem). Saímos de lá (Sevilla) às
duas horas da tarde e chegamos aqui quase oito
horas da noite (15h pelo horário de Brasília). O ambiente é de euforia e de muita alegria. É um fato histórico para o clube e é gratificante poder participar de um momento como este. Fomos recebidos de uma maneira muito efusiva pela torcida.
ZH - Como ficou o coração com aquela decisão eletrizante?
Zico - Ele está preparado pra isso. Aconteceu em Copa do Mundo, na Copa da Ásia, quando eu estava dirigindo o Japão.
ZH - O personagem do jogo foi o goleiro Volkan Demirel, que falhou duas vezes durante o tempo normal, mas defendeu três pênaltis depois. O que você conversou com ele?
Zico - O que eu conversei com ele foi no intervalo do jogo, que a gente estava perdendo por 3 a 1, que ele não se deixasse abater com aquilo, já salvou muitas partidas e que se a gente chegou até aqui foi por que ele também ajudou. E na hora dos pênaltis eu falei particularmente pra ele: "Agora é a tua chance cara. Vai
firme, procura não se mexer antes, espera o cara bater.
Agora é a hora de você se consagrar". Posso dizer bem por que eu sempre bati pênaltis.
ZH - Até onde vai o Fenerbahçe, no qual poucos apostavam que iria tão longe?
Zico - Que continue assim, com todo mundo achando que a gente não vai ... (risos). Acho que o futebol é degrau em degrau. Chegando até aqui você adquire um respeito diferente, pois não chegamos entre os oito à toa. Temos de manter o aproveitamento de 100% dentro de casa.
ZH - Como é a tua rotina?
Zico - Normalmente é só um dia da semana de trabalho de manhã e à tarde. A maioria das vezes é só na parte da tarde. Quando a gente joga fora pelo campeonato turco treinamos pela manhã. Mas não tem um horário determinado não.
ZH - A família está junto contigo em Istambul?
Zico - Só a minha mulher Sandra. Meu filho mais velho, o Bruno, toma conta do meu centro de futebol no Rio, e o
Tiago está no Madureira, jogando, correndo atrás de uma oportunidade.
ZH
- Como você se comunica com os jogadores, já que há até sérvios no time, como o Mateja Kezman?
Zico - Temos dois tradutores. Existem aqui línguas (turco, inglês e português). O sérvio Kezman fala turco, inglês e espanhol. Também me comunico com alguns em italiano. Mas a língua maior aqui é o português. Os turcos também falam e entendem em português.
ZH - O seu time tem muitos brasileiros. Um deles é Alex, que nunca conseguiu uma seqüência boa de jogos na Seleção. Você o sugeriria para o Dunga?
Zico - Eu não sugiro nada. Isso aí não cabe a mim. Eu tenho é que cuidar dele aqui no meu time.
ZH - Como estão os outros brasileiros?
Zico - Estão todos bem. O Deivid fez um grande jogo ontem (terça-feira). O Edu faz uma dupla excelente com o Lugano (uruguaio, ex-São Paulo). Temos também dois brasileiros naturalizados turcos, que são o Marco Aurélio e o Wederson. São jogadores
que têm me ajudado bastante. Além do Roberto Carlos, que veio dar um
status maior de respeito.
ZH - E o Wederson, que jogou aqui com 18 anos, pelo Inter, e não se firmou. O que você diz desse jogador?
Zico - Normalmente eu estou usando ele e o Roberto Carlos. É um jogador de muita força, bate bem na bola e está se especializando um pouco mais na marcação, já que o negócio dele era mais avançar. Ele se naturalizou e está à espera de uma oportunidade na seleção turca.
ZH - O fanatismo e a rivalidade no futebol aí são muito grandes. Você consegue andar tranqüilo na rua?
Zico - Consigo. Não tem problema não. Eu saio à noite, vou em todos os lugares e sou sempre muito respeitado, também pelo pessoal das outras torcidas.
ZH - O presidente do Fenerbahçe, Aziz Yildirim, já anunciou a renovação do seu contrato por pelo menos mais uma temporada. Quando vence o contrato atual? Há vontade de sua parte em
permanecer?
Zico - Vence no final de maio. Há a vontade sim, principalmente por quê foi o
Fenerbahçe que me abriu as portas aqui na Europa e me deu todas as condições para poder fazer um bom trabalho.
ZH - Você é um técnico que fez carreira no Exterior. Pensa em trabalhar no Brasil?
Zico - No momento não. Eu acho que aqui a gente tem condição de pelo menos mostrar trabalho com tempo. Você não fica na dependência de dois ou três jogos. Eu não sei por que isso não acontece, na maioria das vezes, aí no Brasil. Para todos aqueles que mantém seus treinadores por um longo período os resultados acontecem. É só ver os exemplos do Inter, com o Abel, do São Paulo, com o Muricy, do Joel no Flamengo.
ZH - A Seleção Brasileira é um sonho?
Zico - No momento não tem a menor condição de trabalhar. Então, como o pessoal que está aí (na Confederação Brasileira de Futebol) vai ficar até 2015, eu acho que até 2015 não tem a menor chance. Com esse pessoal eu não volto a trabalhar.
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