| 25/03/2008 15h45min
Primeiro boxeador brasileiro a garantir vaga nos Jogos Olímpicos de 2008, o meio-pesado (até 81kg) Washington Luís da Silva vai a Pequim em busca de revanche. Ele está confiante em trazer na bagagem a medalha que, por vários fatores, não conseguiu em Atenas, há quatro anos, em sua primeira Olimpíada.
– Meu objetivo é conquistar a medalha que não conquistei em Atenas – diz, por telefone, ao clicRBS.
Na Grécia, Washington viu seu sonho olímpico acabar cedo. Foi eliminado logo na primeira luta, ao ser derrotado por Ali Ismayilov, do Azerbaijão, por 27 a 22. Resultado justificado em grande parte, alega ele, pelas circunstâncias de sua preparação.
Quatro meses antes do embarque para Atenas, Washington sofreu uma fratura no metacarpo (osso localizado na base dos dedos) da mão direita. E embora pudesse treinar física e tecnicamente, a contusão prejudicou sua preparação. No boxe, como no futebol, estar em forma não basta. É preciso “ritmo de jogo”.
– Faltando um mês para os Jogos, eu fui para a Itália treinar ainda com o gesso na mão. Perdi um pouco a distância do adversário e cheguei a Atenas mal preparado. Mas fiz uma boa luta e por pouco não ganhei – conta o pugilista.
O episódio não deixa de ser um resumo da vida desse lutador de 30 anos, acostumado a superar desde cedo as adversidades. De origem humilde e sem muito estudo, Washington viu no esporte uma alternativa para tentar mudar sua condição social. Assim como a maioria dos atletas que representarão o Brasil em Pequim.
Boxeador começou no ringue aos 15 anos
Nascido em 1978 em Diadema, na região metropolitana de São Paulo, Washington deixou a cidade aos dois anos de idade, quando seus pais, desiludidos com o sonho de fazer a vida na metrópole, decidiram voltar para a pequena Cruz das Almas, no interior na Bahia.
Em 1997, então com 19 anos, o filho do casal Argenor e Ernestina resolveu retornar para a capital
paulista em busca de emprego e de um lugar melhor para
treinar boxe, esporte que praticava desde os 15. Encontrou no Corinthians, onde trabalhou como gandula e segurança, entre outras atividades.
Apenas um ano depois de se instalar na cidade, Washington venceu a “Forja dos Campeões”, tradicional torneio paulista destinado a estreantes e famoso por revelar grandes talentos do boxe brasileiro como Éder Jofre e Adílson Rodrigues, o Maguila. Ele venceu todas as lutas por nocaute.
O título impulsionou a carreira. Ao mesmo tempo, ficou difícil conciliar o emprego no Corinthians com os treinamentos. Sorte que o clube paulista resolveu apostar no promissor boxeador e tomou uma decisão incomum: até hoje, Washington faz parte do quadro de funcionários do clube e recebe salários, sem precisar bater ponto diariamente.
– O Corinthians me libera. Já estou algum tempo sem trabalhar, mas todos os meses eles me pagam certinho. Graças à boa vontade do Corinthians, tenho obtido esses bons resultados. Não fosse assim, talvez nada disso tivesse acontecido – diz Washington, agradecido.
Do começo no ringue aos dias atuais, muita coisa mudou na vida do pugilista. Ele não conquistou fortuna, objetivo distante para os praticantes de um esporte que só costuma receber investimentos na véspera de competições importantes, como a Olimpíada ou os Jogos Pan-Americanos.
Mesmo assim, Washington diz ser um privilegiado. Ganha o suficiente para levar uma vida digna e com certo conforto. Além dos salários no Corinthians, ele também recebe recursos do Bolsa-Atleta, programa do Governo Federal de incentivo ao esporte, e prêmios por participações em lutas e campeonatos.
– Graças a Deus, não me falta nada. Tenho todas as condições para treinar e fazer o que eu mais gosto, que é lutar boxe – garante.
Vaga em Pequim representa uma segunda chance
Talvez isso explique porque Washington é um dos boxeadores brasileiros mais vitoriosos de sua geração. Já ganhou todos os títulos possíveis no país, foi medalha de prata no Sul-Americano de 2002 e bronze no Pan de Santo Domingo (2003). Também tem no currículo participações nos Jogos de Atenas (2004), no Pan do Rio (2007) e em dois Mundiais (2005 e 2007).
Agora, falta só a medalha olímpica, que ele ganhou o direito de disputar pela segunda vez na carreira na semana passada, ao terminar em terceiro lugar no Pré-Olímpico de Trinidad e Tobago. Será também sua última chance de conquistá-la. Com 30 anos, Washington sabe que dificilmente brigará por vaga nos Jogos de Londres, em 2012.
Em maio, ele e os outros atletas da seleção brasileira de boxe que conquistarem vaga para Pequim embarcam para uma excursão pela Europa, bancada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) que servirá como preparação para a Olimpíada. Estão previstos torneios na Ucrânia, na Lituânia, e em outros países a confirmar.
Se tudo sair como planejado, Washington deve chegar a Pequim bem melhor preparado do que chegou a Atenas. A expectativa, como disse, é brigar por medalhas. Nem os russos e cubanos, que há anos têm dominado o boxe olímpico, assustam mais. Aqui, a comparação com o futebol também é válida. Segundo Washington, não existem mais bobos em cima de ringue.
– As coisas mudaram muito. Os outros países evoluíram, todo mundo está treinando, saindo para fazer intercâmbio. Na hora da porca torcer o rabo, não tem essa de que Cuba e Rússia são os melhores. Meu maior adversário será minha dedicação. Tudo que preciso para ganhar uma medalha é treinar e me concentrar – diz, confiante
Se é excesso de confiança ou não, só saberemos em Pequim. O torneio de boxe está programado para começar em 9 de agosto. Certo é que, se Washington obtiver sucesso, quebrará um jejum de 40 anos sem medalhas do boxe brasileiro em Olimpíada. A última na modalidade foi o bronze de Servílio de Oliveira, na Cidade do México, em 1968.
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