| 12/05/2008 04h24min
Cenário da conquista do primeiro título brasileiro do Grêmio, em 1981, o Estádio Morumbi voltou a entrar na vida do clube em um momento decisivo. E, de novo, no mês de maio. A vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, no gelado sábado paulistano, dilui, ao menos por alguns dias, as desconfianças quanto ao potencial do time. E robustece os argumentos da direção para manter o técnico Celso Roth no comando do time.
— Viemos como azarão para cá — admitiu o presidente Paulo Odone, resumindo o descrédito manifestado pela torcida.
Um dos termômetros da desconfiança foi uma enquete com 1,5 mil torcedores, publicada na página da Rádio Gaúcha na internet. Ao final do levantamento, 71,3% dos torcedores previam uma derrota na estréia.
Ao menos até o jogo contra o Flamengo, domingo, o Grêmio irá desfrutar do efeito Morumbi. O esquema com três zagueiros será mantido, a partir da atuação eficiente de Pereira. Azar de Willian Magrão, que precisará esperar uma nova
oportunidade, ainda que já esteja
recuperado da lesão muscular.
Ao menos durante o tempo que durou o vôo 3053 da TAM, de São Paulo a Porto Alegre, Celso Roth viu a rejeição da torcida do Grêmio ser trocada por gestos de pura tietagem.
Pouco antes da decolagem, marcada para 10h15min de domingo, um torcedor parecido com o atacante Robinho, do Real Madrid, aproximou-se da poltrona C14, ocupada pelo técnico, e pediu para tirar uma foto ao seu lado. Atendido, passou rapidamente sua máquina digital a Fernando Ramos, o Fernandão, segurança do Grêmio, abraçou-se a Roth e caprichou no sorriso.
— Não adianta, o Celso não vai se enganar e te contratar, Robinho - brincou outro torcedor, provocando risos no fundo do avião.
Foi, de fato, um domingo perfeito para quem corria o risco de retornar a Porto Alegre demitido. Na véspera, por conta de uma bem montada estratégia defensiva, Roth conseguiu anular o ímpeto ofensivo do São Paulo, bicampeão brasileiro. Saiu do Morumbi
reconhecido como o maior responsável pela vitória do
Grêmio, contrariando os prognósticos que indicavam um fracasso do time e seu conseqüente afastamento do cargo.
Na fila de embarque, apesar de manter a habitual discrição e a expressão fechada, foi cumprimentado por todos que o enxergavam.
— Tudo bem, seu Roth? — perguntou um torcedor, com forte sotaque alemão.
— Melhor agora — respondeu o técnico, abrindo um raro sorriso.
Ainda no estádio, depois de tratar a vitória como algo normal, "por se tratar de um clássico", Roth admitiu que ela o deixava aliviado. Lembrou o ambiente vivido na semana passada, quando até mesmo o presidente Paulo Odone admitira que seria impossível preservá-lo no cargo diante de tanta pressão.
Para o técnico, o resultado é fruto "da vergonha dos jogadores e da comissão técnica pela eliminação em duas competições". Ainda assim, deixou claro que o time não se deixará levar pela euforia.
— Nosso débito ainda continua
muito grande com o torcedor. Não é uma vitória que vai mudar tudo. Temos
ciência disso — disse.
Fiador da permanência de Roth, o diretor de futebol, André Krieger, ressaltou que se trata de um profissional "dedicado, sério, trabalhador e competente".
Mais entusiasmado ainda foi o discurso de Odone.
— Com Roth, o time joga o futebol que eu quero ver. Não é vistoso, não é muito bonito, mas é eficiente — afirmou o presidente, pedindo aos torcedores que dêem uma chance ao técnico no próximo domingo, quando o time atuará pela primeira vez no Olímpico desde a queda no Gauchão e na Copa do Brasil. O jogo será contra o Flamengo, às 16h.
Até lá, ao contrário da semana passada, quando torcedores e jornalistas buscavam saber quem seria seu substituto, o técnico sabe que não corre qualquer risco de cair.
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