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 | 01/06/2008 17h54min

Você sente quando acha o caminho, diz Silas

Técnico do Avaí concedeu entrevista exclusiva ao Diário Catarinense

Maurício Frighetto  |  mauricio.frighetto@diario.com.br

Em um dos treinos do Avaí, o técnico Silas Pereira viu que um dos goleiros não estava trabalhando. Perguntou o porquê e ouviu que o jogador estava com a mão machucada.

— Então manda ele treinar dois toques. Goleiro precisa saber jogar com os pés — disse o comandante azurra.

São estes detalhes, aliados à experiência de ter passado por times como São Paulo e San Lorenzo, da Argentina, e de ter jogado duas Copas do Mundo, que fazem Silas ter confiança no seu trabalho e no Avaí.

— Você sente quando acha o caminho — afirmou.

Em entrevista ao Diário Catarinense, o comandante fala sobre o que espera do Leão e da difícil carreira de treinador, e conta alguns detalhes do seu trabalho.

Diário Catarinense — O Avaí está invicto no teu comando, tem jogado bem, mas possui 50% de aproveitamento na Série B. Como se explica esta contradição?

Silas — Dentro do planejamento, a primeira etapa está se construindo bem e só vai se confirmar se a gente continuar levando poucos gols ou nenhum. Sempre disse que eu ia arrumar de trás para a frente. A segunda etapa também está se construindo. É fazer com que Marquinhos e Valber façam mais gols, manter a média do Batista. E, ao mesmo tempo, fazer o meio ficar forte, o Jefferson jogar. É um processo de formação de uma equipe. E fazer, lá na frente, o casamento ideal para que dois jogadores façam gols.

DC — Você é vice-presidente dos Atletas de Cristo, mas não ouvimos você falar muito sobre isso.

Silas — As duas coisas têm que estar separadas. Como a religião é muito pessoal, quem me conhece no dia-a-dia, pelas minhas atitudes, sabe o que eu professo. Aqui é um ambiente que não se pode privilegiar ninguém. No dia-a-dia não existe o convite de sairmos e tal porque me conhecem. No Atlético-MG tinha uma festa em uma boate em que o Romário foi. Eu agradeci, mas eu não gosto.

DC — O que você gosta de fazer?

Silas — De jogar tênis, onde eu tiro essa carga. Vivo com o ombro dolorido de tensão. Treinador carrega o peso da solidão.

DC — É mais fácil ser jogador?

Silas — Sem dúvida. Você precisa gostar do perfeccionismo, do detalhe. Tomamos um gol aqui que podíamos evitar. Como recompor? É gritando no campo. Teve uma hora que eu gritei: Vamo, Odair, volta! Tem cara que não tem muita paciência para isso. Eu gritei e deu aquela dor de cabeça aguda que demorou 30 segundos para recuperar a voz. Mas a voz chegou ao campo. Tem que levar a garrafinha de água sem gelo para o banco. Minha mulher diz: vai fazer fono, vai fazer fono. É pressão, mas eu não tenho dúvida de que vai dar certo. O torcedor precisa acreditar junto com a gente, junto com a diretoria. O trabalho vai ser vitorioso, vou ter uma carreira vitoriosa.

DC — De onde vem a convicção?

Silas — No trabalho, no histórico. Não só no histórico como jogador, mas pela convivência com os treinadores. Você sente quando acha o caminho: é por aqui. Agora vou adquirir experiência e conhecimento. Tenho uma vantagem porque tem o Dunga e Jorginho na Seleção que foram meus contemporâneos. Em um nível mais elevado, mas eles sofrem as mesmas pressões.

DC — Fala mais com quem?

Silas — Com o Jorginho. Ele é o presidente do nosso trabalho (Atletas de Cristo). A gente fala sobre o que estão fazendo na Seleção, qual o treinamento para o zagueiro, como faz com o meio-campo. O Mineiro, por exemplo, é o Batista do lado direito. Eles têm a mesma característica. O que vocês pedem para eles? Eu e Jorginho somos amigos e até arrumei namorado para a filha dele.

DC — Você mora onde aqui?

Silas — No hotel, mas estou a uma hora de Valinhos (onde mora a família). Precisando, pego o avião. Tenho procurado gastar nisso e vou quase toda a semana. Não é suficiente, mas é o que dá para fazer agora e estamos felizes. Eu fiquei quase 12 anos fora do país e eles (família) ficaram comigo.

DC — Você treinava algo específico, só seu?

Silas — Eu tinha uma pedalada. Mas não era como a do Robinho. Eu dava uma pedalada e ia para dentro do gol. Pedia para Deus: me dá uma chance para eu fazer! Os argentinos diziam para eu fazer. Eles sabem, mas não conseguem parar. Eu treinava nos cones. Ia na maior velocidade possível pra cima deles.

DC — Treinar contra o cone era uma novidade. Qual o diferencial como técnico?

Silas — Sou detalhista, muito observador, consigo pegar muita coisa dos jogos. Sei quem fez a jogada, quem saltou e o que aconteceu. Noutro dia olhei e um goleiro não tava treinando. Por quê? Tava com a mão machucada, mas o pé não. Manda ele aqui para o dois toques, goleiro tem que jogar com os pés.

DC — Você compara o Avaí com algum time que passou?

Silas — Falei para os atletas: é difícil formar um grupo como este. São mais de 30 com pensamentos diferentes, mas sem picuinhas, vaidades. Talvez seja parecido com o San Lorenzo, quando fomos campeões no segundo ano. A gente viu evoluindo. Aqui é assim. Chegou no Catarinense, o time começou bem a Série B e você sente por ter vivido estas experiências. Agora, é sacrifício.

 
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