| 10/06/2008 05h14min
Da janela de seu apartamento, no vigésimo andar de um prédio de frente para o Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre, Tite avista a arquibancada superior do Beira-Rio. Ainda hoje, o estádio do Inter pode se tornar seu local de trabalho. Aos 47 anos, é ele o técnico que deve substituir Abel Braga. Ontem, Tite recebeu ZH em casa. Almoçava galeto com massa junto a mulher, Rose, os filhos, Matheus e Gabriele, e o auxiliar técnico Cléber Xavier. De fala pausada mas firme, Tite vestia um abrigo roxo do Al-Ain (o clube árabe que defendeu até dezembro). Tinha dois crucifixos dourados no pescoço. Disse que não foi procurado pelo Inter mas se orgulharia de treiná-lo. Nem teme possível rejeição da torcida devido ao seu passado ligado ao Grêmio.
Zero Hora — Existe a possibilidade de você assumir o Inter?
Tite — Sou um técnico, ou estou um técnico, com a pretensão de trabalhar em grandes clubes do
futebol brasileiro. O Inter é um desses grandes, e que
qualquer um teria orgulho em trabalhar. Meu projeto é ficar no Brasil, pelo menos até o final do ano. Agora não é o momento de sair. Formei minha base em Porto Alegre, onde a família está adaptada e meus filhos estudam.
ZH — Você tem assistido aos jogos do Inter?
Tite — Tenho assistido e visto aos jogos, de todas as competições. Nesses meses (sem clube) tenho feito o trabalho que não aparece.
ZH — Ainda há condições de o Inter conquistar o Brasileirão?
Tite — Vou ser muito honesto contigo: não tive contato com o Inter. E que o clube tenha luz para encontrar seu novo técnico. Em 2000, logo após o título gaúcho (com o Caxias, em decisão com o Grêmio, de Ronaldinho), fui procurado por Fernando Carvalho. Ele seria candidato no Inter e estava entrevistando diversos técnicos. Mas acabei contratado pelo
Grêmio, em substituição a Celso Roth. Em 2003, ainda no Grêmio, fui convidado por Cláudio Duarte
(à época, coordenador do futebol do Beira-Rio).
ZH — Você acredita que enfrentaria resistência da torcida por identificá-lo com o Grêmio?
Tite — Quero carregar a bandeira da competência e da conduta pessoal. Embora não tenha conhecido pessoalmente Ênio Andrade, considero ele um exemplo. Quero ser um pouco parecido com o Seu Ênio, principalmente nestes dois aspectos.
ZH — Você acha que o Inter precisaria de reforços?
Tite — Com certeza, o técnico do Inter terá a dimensão das necessidades da equipe.
ZH — O Inter tem bons atletas da base que precisam jogar e você está acostumado a trabalhar com jovens...
Tite — No Grêmio, promovi Anderson Polga e Eduardo Costa. Eles eram contestados pela torcida,
mas entraram bem no time, mostraram grande futebol e, em seguida, foram para a Europa.
ZH — Você exige a companhia de sua
comissão técnica?
Tite — Não abro mão do Cléber (o auxiliar técnico Cléber Xavier). Trabalhamos juntos desde 2001 quando assumi o Grêmio, e ele era o técnico dos juniores do clube. Mas não estabeleço como questão de negócio levar uma comissão inteira.
ZH — Desde que retornou do Al-Ain, você investe em viagens para assistir a jogos em Buenos Aires e em São Paulo, por exemplo. Qual a importância desse trabalho?
Tite — É importante ter conhecimento aprofundado dos atletas. Por exemplo, quando estive no Palmeiras (em 2006), tínhamos a necessidade de um meia de articulação. Não havia nenhum no grupo nem nas categorias de base. Mas eu já havia visto o Valdívia jogar, no Chile, e ainda busquei informações com o Figueroa e com o Maldonado. Assim, pude chegar para a direção e dizer: Esse é o jogador que precisamos e esse é o seu perfil. Como era
um investimento alto que o clube faria, o técnico precisaria buscar uma
avaliação mais apurada.
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