| 01/07/2008 22h38min
No dia em que dirigir a Fifa, decretarei que pênalti só pode ser marcado quando o pipoqueiro gritar, lá de fora do estádio: pênalti! A clareza da falta precisa deixar o árbitro constrangido a marcar. Não gosto de pênalti, a favor ou contra, porque sempre o considerei covardia com os goleiros. Pois agora tenho mais motivos para ser contra, pois faz parte das regras o que se chama de paradinha — prefiro chamar de paradona.
Torcedor, você é contra ou a favor da paradinha? Opine aqui!
Paradinha, sejamos claros, era a do Pelé. De lá para cá, tudo é imitação, sem graça nem charme. Esta agora virou um escândalo, dando ainda mais chances para o batedor
acertar. Ora, o jogador que precisa desse artifício
para fazer um gol, estando a apenas 11 metros de uma goleira de 7m32cm de largura por 2m44cm de altura, não deve ter o direito de celebrar. Sugiro aos craques, pelo menos eles, que parem de vibrar.
O bom do pênalti é a possibilidade de o goleiro pegar. O único pênalti marcado que se tornou inesquecível é o do gol mil do Pelé. Os demais, os que entram para a história, costumam ser os não-assinalados — e na memória o leitor tem dezenas deles, como o do Baggio na Copa de 94, o do Zico na Copa de 86, os três que o argentino Palermo errou num mesmo jogo. Isso dava alguma graça, mesmo que pequena, à covardia do pênalti.
Fã de Rogério Ceni, sempre tive para mim a idéia de um dia, ao entrevistá-lo, pedir para ele parar de bater pênaltis. Acho heresia ele, um goleiro, se prestar ao ato pusilânime contra um colega de luvas. Exímio batedor de faltas, não precisaria contabilizar os gols de pênalti para entrar na galeria dos heróis. Acho, aliás, que os pênaltis não
deviam sequer contar nas
estatísticas de goleador. Pois o Ceni se presta a esse ato. A meu ver, isso macula sua brilhante trajetória profissional e pessoal.
O pênalti é tão debochado, é tão humilhante, que só por isso o Clemer resolveu bater contra o Juventude na final do Gauchão, quando o jogo estava 7 a 1. Foi justamente para acabar com o Juventude, para esmagar sua alma. Não foi outro o motivo.
Os inventores da paradona, certamente envergonhados, deram-lhe o mesmo apelido que a do Pelé — a verdadeira e única paradinha. Enquanto os batedores têm direito até a palhaçadas sobre a bola, o goleiro, pobre injustiçado, não pode sequer dar um passo à frente, que vem um bandeirinha, em geral um idiota da objetividade, mandar repetir.
Torço para os goleiros driblarem, com uma artimanha, a poltronice dos artilheiros artificiais.
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