| 28/07/2008 03h10min
Esta coluna foi publicada em Zero Hora no dia 12 de dezembro, um dia após a conquista do Mundial pelo Grêmio no Japão
Agora já não há mais ninguém no Estádio Nacional de Tóquio. Arquibancadas vazias, restos de comida, copos de refrigerantes e um cheiro quase imperceptível de multidão sempre compuseram magicamente o local de grandes decisões. Gosto de passear entre os escombros de um espetáculo. Recrio assim racionalmente todos os episódios, refaço então minha própria experiência, sempre feita de prudência e palavra certa, e me permito a alegria da emoção frouxa, já descompromissada.
O Grêmio é campeão do mundo. Os japoneses da Toyota e também da J. Reynolds, Adidas, e todos que formam o imenso conglomerado de interesses comerciais sorriam para o novo campeão. Os japoneses das arquibancadas do Estádio Nacional bateram palmas demoradamente. Os brasileiros estão fazendo barulho nas ruas de Tóquio. Quem há de cingi-los à tradição oriental do
comedimento e do silêncio?
Eu fico
aqui no estádio quase até que escureça. Não é preciso muito, às quatro e meia não há mais sol em Tóquio. Vou beber um pouco e vou sentar quieto num canto. Um grande título — e maior não há — é preciso absorvê-lo bem. Espinosa me disse que na volta deixará o Grêmio. Disse mais: que deixaria o Grêmio com qualquer resultado. Tem mágoa e sofre. Acho que soube entendê-lo.
Um grande título tem heróis e faz vítimas. O Grêmio decidiu jogar tudo num jogo só. É uma aposta, não é um jogo, declarei para amigos comuns. Me responderam que aí estava a essência do gesto esportivo. Ora, minha vida toda foi feita em cima de um tipo de compreensão: que somos trágicos, que não temos escolhas, que temos de fazer a vida assim, sem esperanças. Jogar, portanto, significa viver. Eu também entendo o Grêmio como entendi na noite de sábado o Espinosa no saguão do Hotel Prince.
Estou pensando nestas coisas todas. Penso em Paulo César Lima sem contrato no Rio, treinando na praia com amigos. Penso
em Mário Sérgio que
estava voltando para a Bahia. Penso em Tarciso que teria passe livre no fim do ano passado e foi recontratado e ficou feliz. Penso sobretudo em todos os que sonharam com este título e agora estão livres em Tóquio e voam rente ao teto como passarinhos felizes.
E penso em mim e na minha profissão que já me levou e trouxe de volta de todos os lugares. O título do Grêmio também é nosso. A partir de hoje moramos numa cidade modificada. Esta noite brasileira está modificando a todos nós.
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