| 28/07/2008 03h10min
Esta reportagem foi publicada em Zero Hora na edição do dia 29 de julho de 1983, um dia após o Grêmio vencer o Peñarol e conquistar a sua primeira Libertadores
O Grêmio deu à sua imensa torcida o presente que ela mais esperava no ano em que o clube comemora os seus 80 anos de fundação: o título da Libertadores da América, conquistado ontem à noite com uma vitória de 2 x 1 sobre o Peñarol, num jogo em que teve de superar seu próprio nervosismo e alguns erros, mas com uma atuação em que sobrou coragem e heroísmo para todos os seus jogadores.
O grande sonho do Grêmio começou a tornar-se realidade logo aos dez minutos de jogo quando Caio marcou um gol, concluindo boa jogada de Osvaldo e Casemiro. Na verdade, o time estava um pouco nervoso em campo mas jogava com coragem, enfrentando a violência do Peñarol, que a quatro minutos já tinha um jogador advertido com cartão amarelo — Olivera, que acertou Renato com o cotovelo.
Depois do gol, o Peñarol procurou equilibrio da
partida apelando sempre para o chute alto para a área do adversário. E dos 30 minutos em diante foi o time uruguaio quem esteve mais tempo com o domínio da bola, chegando em situação de marcar pelo menos em duas oportunidades: aos 37 minutos, Morena tocou de cabeça para Saralegui que chutou para cima; aos 30, Olivera ficou livre para o chute na área pequena, mas demorou e permitiu que Casemiro afastasse para escanteio.
O Peñarol voltou para o segundo tempo com a mesma disposição do final do primeiro e pressionou o time do Grêmio. Mas não apenas levantando bolas na área: agora também com toques curtos e jogadas individuais, especialmente de Ramos que criou uma série de lances perigosos. Num deles, foi derrubado e cobrou a falta com perfeição na cabeça de Morena para o gol de empate.
Os uruguaios continuavam melhor em campo, mas o Grêmio contava com um talento em campo que até aquele momento ainda não havia mostrado seu verdadeiro futebol — o ponteiro-direito Renato.
Até que aos 32 minutos,
ele conseguiu o cruzamento quase impossível, num pequeno espaço do campo, para a cabeçada certeira de César no segundo gol. O gol do título, o gol que lançou o Grêmio na maior fase de toda a sua história. A partida teria ainda muito nervosismo e violência, que provocou as expulsões de Renato e Ramos, aos 42 minutos.
Ficha do jogo
GRÊMIO
Mazaropi; Paulo Roberto, Baidek, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato; Caio (César) e Tarciso
PEÑAROL
Fernandez; Montelongo, Olivera, Gutierrez e Diogo, Bossio, Saralegui, Salazar, Ramos e Morena, Silva (Peirano)
Arbitragem: Edson Perez, auxiliado por Carlos Montalvan e Henrique Labo, do Peru.
Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre
Gols: Caio (G), aos 10 minutos do primeiro tempo, Morena (P), aos 25 minutos do segundo tempo e César, aos 32 minutos do segundo tempo
Avaliação dos
jogadores
GRÊMIO
Mazaropi — Muito seguro nas intervenções, especialmente nos momentos de maior pressão do Penharol, quando saiu muito bem nos pés de Peirano. Nota 9.
Paulo Roberto — Muito mais tranqüilo do que no jogo de Montevidéu, só teve alguns problemas no segundo tempo com Venâncio Ramos, mas esteve seguro, inclusive no apoio. Nota 8.
Baidek — Um pouco nervoso apenas no início do jogo. Depois, marcou Morena com boa antecipação e cometendo as faltas necessárias. Nota 9.
De León — Fez tudo em campo: marcou bem, não falhou nunca, eficiente nas bolas altas e rasteiras. Nota 10.
Casemiro — Velocidade e atenção para evitar qualquer lance perigoso na defesa do Grêmio. Deu um lançamento preciso para Osvaldo
cruzar no primeiro gol. Nota 9.
China — Perfeito sob todos os pontos de vista, tanto na marcação direta como na cobertura.
Soube o momento certo do chutão para a frente e do toque para o companheiro. Nota 9.
Osvaldo — Combateu como nunca no meio campo, sem evitar o choque, chutando para a frente quando necessário e fazendo boas triangulações no setor. Cruzou a bola no primeiro gol. Nota 8.
Tita — Finalmente teve a grande atuação na Libertadores que estava devendo à torcida do Grêmio. Prendeu a bola nos momentos de maior pressão do Peñarol, laçou e tabelou. Nota 9.
Renato — Muito discreto no primeiro tempo, submetendo-se novamente à marcação de Diogo. Mas decidiu o jogo e o título, cruzando uma bola incrível para César marcar. Nota 8.
Caio — Apesar do físico nada privilegiado pela natureza, brigou com os zagueiros do Penharol, encarou a marcação e fez o gol que abriu o caminho para o título. Nota 8.
Tarciso — Desta vez não pode ser acusado de evitar o choque, pois foi o que mais fez em campo, preocupando
os zagueiros com sua velocidade e recuando para marcar. Nota 8.
César — Jogou 27 minutos e se igualou a Caio — na coragem e na marcação do gol. Só que o seu valeu o título inédito para o Grêmio. Nota 9.
PEÑAROL
Fernandes — Perfeito nas saídas de gol e nas bolas altas. Sem culpa nos gols. Nota 8.
Montelongo — Passou trabalho com Tarciso no primeiro tempo. Pouco importunado no segundo. Nota 7.
Olivera — O líder do time. Por cima só dá ele, inclusive na área adversária. Nota 8.
Gutierrez — O mais fraco da defesa. Indeciso em vários lances. Nota 5
Diogo — Não tomou conhecimento de Renato e no primeiro tempo procurou o apoio. Nota 8
Bossio — Bem no bloqueio e na cobertura aos laterais. Nota 7
Saralegui — Bom jogador, mas apela muito para a violência. Nota 7
Salazar —
O articulador das jogadas do Peñarol. Cresceu a partir da metade do segundo tempo e com ele o time. Nota 8
Sulva — Não levou vantagem sobre Casemiro. Acabou substituído por Peirano que pouco acrescentou. Para Silva nota 5
Morena — Preocupação constante para a zaga do Grêmio, na única conclusão marcou o gol uruguaio. Até por isso nota 7
Venâncio Ramos — Habilidoso, driblador, o melhor do Peñarol. Nota 9
Arbitragem
O Peruano Edison Perez soube controlar com energia um jogo excessivamente nervoso, como são todas as decisões, não permitindo que os uruguaios, liderados por Olivera, interferissem no seu trabalho. Acertou nas expulsões de Renato e Venâncio Ramos, no final da partida. Tecnicamente teve falhas mínimas. Foi bem assessorado pelos bandeiras Henrique Labo e Carlos Montalvam. Nota 9
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