| 01/08/2008 02h16min
A vitória do PT nas eleições de 2002 entusiasmou os principais dirigentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com a chegada ao poder de um partido que simpatizava com as causas do movimento, líderes da guerrilha tentaram angariar apoio político à resistência na selva colombiana.
— Em vários momentos fomos procurados por representantes das Farc com pedidos de ajuda. Às vezes eles sequer se identificavam como integrantes da guerrilha, mas a posição do PT sempre foi de absoluta divergência com os métodos praticados pelo grupo. Nunca houve cooperação — afirma o tesoureiro nacional do PT e ex-secretário de Relações Institucionais do partido, o gaúcho Paulo Ferreira.
A suposta resistência do partido, contudo, não impediu o governo brasileiro de atuar em favor da guerrilha. No final de 2005, o também gaúcho Selvino Heck foi procurado por interlocutores das Farc. Assessor especial da Presidência da República, Heck recebeu de pessoas ligadas a
movimentos de defesa dos direitos
humanos um pedido de ajuda para o padre Olivério Medina, representante dos narcoguerrilheiros no Brasil. Preso pela Polícia Federal a pedido do governo da Colômbia, Medina estaria recolhido em condições insalubres no Presídio da Papuda, em Brasília.
— Me disseram que ele estava correndo risco de vida. Comuniquei o caso ao Gilberto Carvalho (chefe de gabinete do presidente Lula) e à Secretaria de Direitos Humanos. Essa foi minha única participação no episódio — resume Heck.
Um e-mail encontrado pelo exército colombiano na caixa-postal do computador de Reyes relata o auxílio de Heck. Na correspondência, com data de 23 de dezembro de 2006, Medina diz a Reyes que enviou como retribuição ao gaúcho e a Carvalho um cartaz das Farc. Medina comenta ainda um possível encontro com Heck. "É possível que me visite um assessor especial de Lula chamado Selvino Heck, que junto com Gilberto Carvalho tem sido outro que tem nos ajudado bastante", registra o e-mail.
Pedido de
investigação da Colômbia foi ignorado
Após o pedido de Heck, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos enviou um emissário à Papuda, onde Medina estaria doente e sem direito a banho de sol. O órgão, contudo, não elaborou um relatório da visita, como exige a prática da secretaria, sob alegação de que um advogado havia conseguido soltar Medina. Num e-mail anterior, de 25 de setembro de 2006, Medina cita uma suposta comemoração de Lula pela liberdade adquirida pelo guerrilheiro.
Segundo Medina, Lula teria telefonado para o advogado Ulises Riedel e "lhe felicitara pelo êxito jurídico em sua brilhante defesa em favor de meu refúgio". Medina se referia à decisão judicial que havia transferido o guerrilheiro para prisão domiciliar, à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de extradição impetrado pelo governo boliviano.
Além da ajuda jurídica, o PT também teria conseguido um emprego para a mulher de Medina, a
pedagoga paranaense Angela Maria Slongo.
Funcionária de carreira da Secretaria de Educação do Paraná, Angela foi contratada pelo Ministério da Pesca em 29 de dezembro de 2006. Ocupando o posto de oficial de gabinete II, Angela recebe cerca de R$ 1,5 mil mensais e coordena programas de alfabetização de pescadores do ministério. Sua transferência para o governo federal foi solicitada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao governador Roberto Requião.
— Esse pedido da ministra é uma imposição da burocracia. É a Casa Civil quem pede as cedências. Angela foi contratada por causa do excelente currículo que apresentou, e não houve qualquer pistolão ou carteiraço — afirma o ex-secretário-executivo do ministério Dirceu Lopes, responsável pela contratação de Angela.
Revista colombiana havia afirmado que as Farc teriam relações com o governo brasileiro
Foto:
Site Revista Cambio, Reprodução
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