| 05/08/2008 08h03min
A semana de abertura da Olimpíada de Pequim começou com uma explosão. Na segunda-feira, o pior atentado terrorista da história recente da China teria matado 16 policiais e ferido outros 16. Foi em Kashi, o principal reduto separatista dos uigures – minoria muçulmana que se concentra no noroeste do país, na província de Xinjiang. Dois homens jogaram um caminhão de lixo e uma granada contra as vítimas, que ainda foram esfaqueadas. Ambos foram presos.
Apesar de ter ocorrido a cerca de 3,5 mil quilômetros de Pequim, o ataque reforçou o alerta da organização dos Jogos Olímpicos, cuja cerimônia de abertura será na próxima sexta-feira. De fato, como maior evento esportivo do mundo, a Olimpíada já requer um forte aparato de segurança. O espectro do terrorismo recai sobre cada
edição desde Munique-1972, quando 11 atletas israelenses foram mortos após virarem reféns de um grupo palestino. Desde o 11 de Setembro, a preocupação aumentou – Atenas-2004 teve o plano mais caro da história olímpica, US$ 1,8 bilhão, cinco vezes mais do que Sydney-2000.
O governo chinês, segundo fontes não-oficiais, gastou US$ 6,5 bilhões apenas na região de Pequim, desde
que a cidade foi escolhida como sede, em 2001. As medidas incluem a instalação de
300 mil câmeras de vigilância, restrição do tráfego aéreo e o emprego de 34 mil militares, 74 aviões, 48 helicópteros, 33 embarcações e 100 mil policiais de elite (confira o quadro na página 5). Haverá até mergulhadores nas competições de vela, em Qingdao, “para eliminar objetos suspeitos e perigos ocultos”, segundo a agência de notícias estatal Xinhua.
Preocupação com segurança vai além dos Jogos
Os temores foram tantos que esvaziaram a festa na capital. A China dificultou de tal maneira a concessão de vistos de entrada que muitos hotéis estão com baixa ocupação. Os trabalhadores imigrantes da construção civil foram mandados de volta para casa, com o duplo propósito da segurança e também para tirar a imagem de pobreza que eles dão à
cidade.
A transformação de Pequim em uma fortaleza
transcende a realização da Olimpíada. A China, por si só, abriga vários focos de protestos. Além do movimento separatista dos uigures, enfrenta críticas por conta da repressão ao Tibete, do cerceamento dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, e da conivência com o genocídio em Darfur, no Sudão, entre outros motivos. Basta lembrar as violentas manifestações na passagem da tocha olímpica por Londres e por Paris.
Quando os incidentes são em solo chinês, contudo, há uma névoa encobrindo as informações. País extremamente fechado, a China pouco informou sobre o atentado de ontem. No mês passado, o Partido Islâmico do Turquistão assumiu dois atentados em Xangai e Kunming, matando cinco, mas as autoridades negam que tenham sido ataques terroristas.
Entidades de defesa dos direitos humanos acusam o governo totalitário de usar a ameaça de terrorismo como pretexto para silenciar os dissidentes e as minorias étnicas. Alguns especialistas acreditam que as medidas de
vigilância devem continuar após
os Jogos.
Guardas da Praça da Paz Celestial evitam fotógrafos, seguindo a obsessão pela segurança
Foto:
EFE/Ciro Fusco
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