| 07/09/2008 04h53min
Ele saiu do Brasil para a França como nome certo na Copa de 2006. Voltou ao Corinthians e operou os dois joelhos. Voltaria a girar feito raio como na estréia no Inter, contra o Juventude, em 2003? Pois Nilmar, 11 gols no Brasileirão e de volta a Seleção, se superou no clube que o lançou. Mas quem é este atacante que, com 24 anos, já passou tantas provações? É o que ZH conta nas páginas a seguir.
Nilmar mudou, mas continua igual. Se pegava carona em carros populares de companheiros em 2003, ano em que foi revelado pelo Inter, hoje dirige uma caminhonete importada de R$ 250 mil. O guarda roupa foi incrementado com Louis Vuitton e Armani. Estaria marrento e mascarado, como dizem alguns? Não: é timidez mesmo.
Pouca gente sabe, mas aos 24 anos, rico, admirado e bem-sucedido, o atacante do Inter ainda chupa cana com amigos de infância de Bandeirantes (PR) nas férias.
E não é o único costume que o jogador mantém desde as categorias de base. Naquela época
um desconhecido reserva da geração
do título mundial sub-15, Nilmar era discreto. Nunca brigou por camiseta, faixa de capitão ou regalia especial no vestiário. Mesmo com 11 gols no Brasileirão, um dos carros-chefes do clube em termos de marketing conserva velhos hábitos. Cumprimenta a todos com a voz tão baixa que, volta e meia, passa despercebido.
— Às vezes tem que provocá-lo para falar — revela o auxiliar de preparação física Flávio Soares, o Galo.
A dupla se conhece há tempos, quando Nilmar não agüentava o tranco dos zagueiros devido ao talhe fino. Galo foi um dos responsáveis por encorpá-lo. E também por torná-lo conhecedor de boa parte dos restaurantes da Capital. Antes dos jogos, os dois apostavam um jantar. Se Nilmar fizesse gol, Galo pagava a conta. Resultado: quase toda segunda-feira à noite o preparador esperava Nilmar frente ao antigo alojamento das categorias de base e o levava para comer.
— Hoje apostamos cafés. Mesmo se não falamos durante a semana, ele passa por mim
no túnel e pergunta: "Está valendo"?
Já devo uns quatro cafés — sorri Galo.
Freqüentar restaurantes é o programa favorito de Nilmar. Um de seus preferidos é a pizzaria Fratello Sole, no shopping Iguatemi. Aparece lá aos domingos à noite, com a noiva Laura, 21 anos. Ambos mudam os planos por qualquer atividade caseira. Laura o acompanha na timidez.
— Ele não gosta muito de mídia. Atende a todos, dá autógrafos, mas não puxa assunto ou se prolonga — entrega o sogro Eduardo Guimarães.
O administrador aposentado, 54 anos, cita o exemplo da formatura de colégio da outra filha, Lívia, no ano passado. Nilmar e Laura foram à festa. Conforme o tempo passava, a mesa ocupada por ele ficava mais concorrida do que a dos formandos:
— Ele foi se afastando aos poucos.
É entre amigos que Nilmar se sente à vontade. Alex, Edinho, Índio, Roger (ex-Grêmio) ou o ex-zagueiro Argel, hoje técnico do Guaratinguetá. Mas nada o deixa mais à vontade do que a turma de
Bandeirantes. Laura fica enciumada quando eles visitam o município
de pouco mais de 32 mil habitantes a 281 quilômetros de Curitiba. Lá, Nilmar chupa cana. Em 2007, descansou alguns dias em um resort de Santa Catarina e levou cinco da turma. Banco todas as despesas.
A sinceridade ao admitir frustração por não ser negociado com o Palermo, da Itália, motivou críticas. Mas talvez esteja aí a maior prova de que, apesar de todo o sucesso, Nilmar mantém a índole de menino do Interior. Apesar das notícias sobre sua venda para o Exterior, seguiu fazendo gols.
Ele e sua timidez.
NILton + MARisa = Nilmar
Em cinco anos, Nilmar tornou-se famoso e endinheirado. Hoje, com salários e aluguel de passe, recebe do Inter cerca de R$ 270 mil mensais. Não se envolve muito com cifras. Comprou um posto de gasolina em Bandeirantes para os pais Nilton e Marisa (daí o nome do craque, uma soma de sílabas: Nil + Mar). Mantém o apartamento que ocupava em São Paulo na época de Corinthians e outro de sua
primeira passagem pelo Inter, em Porto Alegre. O empresário
Orlando da Hora administra a carreira, o irmão Fabrício cuida dos negócios.
Romântico
Até entre amigos, é raro Nilmar chamar a atenção. Mas fez isso dia 15 de maio, na festa de aniversário de Laura no apartamento do casal, no Bairro Bela Vista. Parou a música para anunciar o noivado.
— Foi um momento muito bonito — suspira Octávio Rojas, idealizador do projeto Criança Colorada e "cupido" ao apresentar Laura, então sua voluntária, ao atacante.
Na Eurodisney, perto de Paris, nos tempos de França, guardou até foto com a Minie
Amizades
Por ser introspectivo, Nilmar costuma se relacionar com jogadores não muito badalados. No Corinthians, seus amigos eram o meia Renato e o atacante Rafael Moura. A exceção é Roger, que lhe dava carona quando não podia dirigir devido à lesão nos ligamentos do joelho esquerdo, em
2006.
Joelhos da maturidade
O ano em que ficou parado por causa dos
problemas nos joelhos amadureceram Nilmar. Ouvia e lia muitas críticas e previsões pessimistas sobre sua volta. Desde então, sabe quem fala mal. Quando Laura pede para o pai não contar a Nilmar o que é dito sobre o noivo na imprensa, o atacante retruca:
— Conta. Eu preciso saber o que falam de mim.
Led Zeppelin? Não!
Nilmar não faz parte da turma dos pagodeiros. Gosta mais de sertanejo. Em casa, a seleção musical também conta com outros artistas do pop nacional, como Ivete Sangalo e Victor e Leo, influências da mulher, Laura.
Quem não gosta muito das preferências é o sogro, Eduardo Guimarães, ardoroso amante do rock dos anos 60 e 70. Guimarães orgulha-se de ter ensinado, com sucesso, o genro a curtir Creedence Clearwater Revival. Mas ainda não conseguiu adicionar mais peso ao repertório de Nilmar.
— Led Zeppelin é muito avançado para mim — diz o
goleador.
Descanso na fazenda
É raro, mas um dos refúgios
de Nilmar é a fazenda da família Guimarães, localizada no interior de Arroio dos Ratos. Lá, espairece pescando, tomando banho no arroio que cruza a propriedade e comendo laranjas. Os vizinhos, que perceberam o gosto pela fruta, às vezes enviam algumas para o apartamento do atacante em Porto Alegre. Os amigos Roger e Deborah Secco já curtiram alguns dias no campo no interior do Estado.
Chocólatra
Sorte que Nilmar não tem tendência para engordar. Sim, porque Nilmar adora um doce. Os médicos e nutricionistas do clube o reprimem pelo chocolate que volta e meia ele come. Mas como o excesso não é refletido na balança, tudo bem.
— Sempre que eles vão nos visitar, a Laura leva torta — garante Argel, amigo do casal.
Para beber, apenas sucos e água. O sogro, admirador de um bom vinho, é quem brinca com a filha sempre que vai visitá-los no apartamento do Bairro Bela Vista.
— Esqueceu do pai de novo? — pergunta ao ver apenas água e sucos na
geladeira.
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