Gre-Nal é guerra? Não. É festa! Basta embarcar no ônibus 70 da linha João de Barro/Niterói, em Canoas, para entender. Nesta quarta, balões azuis e vermelhos no corredor recebiam a turma já acostumada às festas nos 25 minutos até o Centro da cidade. Não há rivalidade. Das 6h10min às 13h40min, quando a dupla Alex Abel, 34 anos, motorista, e Cristiano Lima, 25 anos, cobrador, está no comando do ônibus, só vale corneta de brincadeira. Coincidência ou não, em seis anos nunca foram assaltados.

Com a camisa do Inter, Alex é o líder da bagunça. Promete que se o colorado perder, veste-se de mulher. Cristiano, que é gremista, não prometeu nada. Prefere esperar o jogo.

— Fizemos um bolão. Quem acertar o resultado, leva uma camiseta e um boné do seu time — contou Alex.

Em uma caixinha, entre camisetas e bonecos dos dois clubes, cada passageiro que descia na viagem das 7h50min de ontem deixava um palpite. O predomínio é do Inter, como no caso da doméstica Vera Lúcia Adam, 53 anos, que foi trabalhar com a camiseta do seu time.

— Estou torcendo para dar 2 a 1 — disse.

Neste horário, o estudante Vinícius Santana, 14 anos, é minoria. Estava com a camiseta gremista debaixo do casaco. E com a opinião do placar na ponta da língua: 2 a 1, mas para o Grêmio. Só pela corneta na segunda-feira:

— É bom. Quase toda a semana consigo dar uma zoadinha. Sou líder, né? — brincou.

Palpites à parte, a brincadeira vai continuar depois do jogo no ônibus de Alex e Cristiano.

Próxima parada: livro

A dupla Alex e Cristiano sonha escrever um livro sobre a história do busão. Seria a forma de documentar o diferencial das viagens ao Centro.

— Quando a gente faz as coisas com amor, fica para sempre — resumiu Alex.

Pelo menos virtualmente, a história já começou a ser escrita. Os passageiros criaram a comunidade João de Barro 70 no Orkut, que já tem 226 amigos.