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 | 03/10/2008 04h06min

Violência no Gre-Nal chegou ao limite

Confusão na torcida do Grêmio provocou indignação de torcedores comuns que estavam no clássico de domingo

O Gre-Nal do Beira-Rio virou assunto de polícia. A confusão entre os próprios torcedores do Grêmio provocou indignação de torcedores comuns que estavam no clássico de domingo. Um deles, o gremista Ben Hur Silva, 60 anos, enviou e-mail ao colunista de ZH Wianey Carlet dizendo que foi obrigado a fingir-se de ferido para escapar do confronto entre parte dos gremistas e a Brigada Militar.

— Já passei por sufocos, mas não iguais àquele. Encerrei minha carreira de Gre-Nal no Beira-Rio — lamentou ontem, por telefone.

No momento mais grave da confusão de domingo, torcedores derrubaram a divisória que os separavam dos colorados. Só foram contidos pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE). Agora, os fatos estão sob investigação, segundo o promotor de Justiça Renoir Cunha. Mas a única providência desde o domingo foram as 16 prisões – 15 gremistas, um colorado – realizadas pela BM no Beira-Rio.

— Chegamos perto do limite de medidas de prevenção — disse Cunha.

A Brigada analisa as imagens das arquibancadas e não descarta novas prisões. O coronel Paulo Roberto Mendes, comandante-geral da BM, prometeu mais rigor. De agora em diante, serão permitidos apenas bumbo, tarol e mastros de plástico (com no máximo dois metros de altura) utilizados em jogos. Além disso, os clubes ficarão responsáveis pelas suas torcidas (reconhecendo-as como organizadas ou não). A revista será mais rigorosa.

— Esse Gre-Nal foi nosso limite. Trataremos baderneiros como baderneiros — garantiu Mendes.

Os dirigentes da Dupla, porém, divergem sobre a confusão. No Grêmio, há reclamações sobre o reduzido espaço destinado à torcida e à localização dos torcedores, na arquibancada inferior, abaixo dos colorados. No Inter, queixam-se que os gremistas quebraram o concreto das arquibancadas com as varas das bandeiras e o atiraram contra os colorados.

— Temos limitação física, devido às grades que separam as arquibancadas. Por isso, colocamos a torcida do Grêmio naquele local. Além disso, havíamos deixado três fileiras de cadeiras separadas por cordão e por seguranças para que nossos torcedores não ficassem sobre os do Grêmio, a fim de evitar provocações — explicou o vice de administração do Inter, Décio Hartmann.

Certo é que a violência acaba afastando quem pretende torcer em paz.

— Meu último Gre-Nal foi o dos banheiros químicos (em 2006, quando houve queima de banheiros químicos no Beira-Rio) — disse ontem o torcedor gremista Marcos Viana, 48 anos, que não vai mais a clássicos e pensa em deixar de ir estádios.

Torcedores indignados
Trechos de e-mails enviados ao colunista de ZH Wianey Carlet:
“No intervalo do jogo, a torcida do Grêmio começou a quebrar o cimento da arquibancada inferior e a arremessar pedaços do mesmo para cima. Os fragmentos começaram a atingir as pessoas. Um torcedor recebeu um fragmento na testa, fazendo ferimento profundo, com muito sangramento (...) Para piorar, foi arremessada, duas fileiras abaixo de onde eu estava, uma faca de cabo de madeira. Graças a Deus não atingiu ninguém.”
Torcedora do Inter que estava na arquibancada superior, acima da torcida do Grêmio
“(...) alguns marginais no meio da nossa torcida decidiram derrubar a grade e enfrentar a torcida do Internacional! Conseqüência: foi uma correria geral. (...) Rapidamente a Brigada Militar avançou o contingente com cães, bombas e cassetetes para cima de nós. Neste momento, falei para meu filho que, se ficássemos ali, seríamos pisoteados, feridos. Foi quando pensei rápido e simulei que estava ferido. Meu filho me segurou pelo braço junto com outra pessoa e conseguimos passar pelos brigadianos. Nos conduziram ao portão de saída até o espaço reservado a ambulâncias.”
Ben Hur Silva, 60 anos, torcedor do Grêmio
torcedor do Grêmio (de boné, com a mão na perna)
Por que os vândalos agem?
Os torcedores brigões são identificados pelos clubes e pela polícia?
Sim. Os estádios da Dupla têm mais de 50 câmeras de monitoramento e já houve casos de baderneiros identificados.
Por que os baderneiros não são barrados para entrar nos estádios?
Eles podem ser barrados, mas, dependendo do crime, não sumariamente. Nos juizados especiais criminais sempre há uma tentativa de acordo para aplicação de pena alternativa, entre elas, a de não freqüentar o estádio por determinado período, com o infrator apresentando-se em uma delegacia na hora do jogo. Se o crime for mais grave, o processo corre na Justiça, que pode punir com o impedimento de voltar aos estádios.
O Juizado Especial Criminal (Jecrim) nos estádios está funcionando?
Sim, há postos no Olímpico e no Beira-Rio. O Juizado só vale para crimes com menor potencial ofensivo, aqueles cuja pena não é superior a dois anos de detenção, como posse de entorpecentes, ameaça e lesão corporal leve. Normalmente é proposto acordo com o infrator.
O Gre-Nal pode virar clássico de uma só torcida, como ocorre em outros Estados e na Argentina?
A questão nunca foi a debate de forma definitiva – em princípio, Inter e Grêmio demonstram simpatia. O promotor de Justiça Reinor Cunha diz que isto já foi cogitado, mas que não houve definição.
Os clubes continuam financiando as torcidas mesmo após comprovado envolvimento em confusões?
Oficialmente, não.
O que fazia um torcedor do Palmeiras em meio aos gremistas no Gre-Nal, quando o time paulista tomou a liderança do gaúcho?
Morador da Região Metropolitana, o palmeirense foi ao jogo porque as torcidas dos clubes são aliadas. Alianças são algo comum pelo país: existem entre Inter e São Paulo e Palmeiras e Vasco, entre outras torcidas.


Até torcedor do Palmeiras foi detido domingo

Entre os 2,5 mil gremistas no último Gre-Nal, havia um ex-integrante da Mancha Verde, a torcida do Palmeiras. Wanderley Pereira da Costa foi um dos seis torcedores encaminhados ao Presídio Central depois das 16 prisões realizadas durante o clássico.

Com 30 anos, natural de Guarujá, em São Paulo, o torcedor mora na Região Metropolitana de Porto Alegre e é simpatizante da Torcida Jovem, a organizada do Grêmio ligada à Mancha Verde.

Conta com quatro passagens por presídios gaúchos, acusado por desacato, formação de quadrilha, rixa, lesões corporais e vandalismo. Contra ele em São Paulo já foram expedidos 22 mandatos de prisão, segundo a BM. Ontem à tarde, deixou o Presídio Central. Em liberdade provisória, responderá a processo no Judiciário.

A rixa do Gre-Nal teve início semanas atrás, quando integrantes da Torcida Jovem brigaram com dirigentes da Máfia Tricolor. No caminho para o Beira-Rio, membros da Torcida Jovem foram agredidos por integrantes da Máfia.

Durante o clássico, tudo ia bem até o gol de Tcheco. Em meio à avalanche, um dos líderes da Jovem ficou sozinho na arquibancada, e acabou cercado por integrantes da Máfia. Neste momento, o palmeirense defendeu o companheiro.

De posse de um pedaço de bambu — de uma das bandeiras das torcidas gremistas – passou a bater em quem se aproximasse. A confusão causou um alvoroço no limitado espaço de arquibancada destinado aos visitantes. Houve um corre-corre e a intervenção de policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE).

ZH tentou sem sucesso localizar o advogado de Costa.

A direção do Grêmio convocou ontem líderes da Máfia e da Jovem. Há temor de que a rixa prossiga amanhã, no jogo contra o Botafogo, no Olímpico. O clube diz que não pode impedir a entrada dos brigões no estádio, a menos que sejam impedidos pela Justiça, mas promete monitorá-los.

— É um caso de polícia, não de quadro social. Eles são infiltrados, não torcedores — disse Airton Ruschel, assessor jurídico Grêmio.



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