| 27/11/2008 05h52min
SOS. O símbolo internacional do apelo por socorro foi pintado com cal em um gramado por desesperados moradores do Morro do Baú, no Vale do Itajaí. Eles estão isolados pela chuva desde o último sábado.
O pedido, comovente, só pode ser visto do alto. Zero Hora sobrevoou ontem, em um helicóptero Cougar do Exército Brasileiro, todas as áreas flageladas do Vale do Itajaí – o mesmo sobrevôo feito pelo presidente Lula, só que com mais tempo e visibilidade boa. Entre os pontos mais atingidos pela catástrofe está o Morro do Baú, de onde os militares já retiraram mais de 300 pessoas que haviam ficado isoladas pela chuva.
A região, situada entre os municípios de Gaspar, Luiz Alves e Ilhota, parece um campo de batalha castigado por obuses e morteiros, tal a quantidade de crateras e casas despedaçadas que acumula em função de desmoronamentos provocados pela chuva. Algumas residências foram reduzidas a amontoados de tábuas disformes.
Outras tiveram pedaços
inteiros – como quartos, cozinhas e
garagens – arrancados por rochas que se desprenderam das montanhas que circundam o Vale do Itajaí. As vias de chão batido que levam ao morro estão interrompidas. A maior parte por barreiras, formada por lama e árvores arrancadas por avalanches. Outras, por riachos que se transformaram em rios caudalosos em decorrência da chuvarada.
Município de Ilhota sumiu sob as águas
Isolados, os moradores passam fome e ficam eufóricos ao enxergar as aeronaves do Exército que sobrevoam a região. Mas não há lugar para todos e logo vem a decepção. Só resta aguardar. Desde segunda-feira, mais de 300 habitantes do Morro do Baú foram retirados em quatro aparelhos do Exército.
— Quando não há possibilidade de resgatar gente, por dificuldades de pouso em função de chuva, nevoeiro, vento ou falta de área própria para aterrissar, a gente joga pacotes de alimentos e água. Os obstáculos para pousar são muitos, desde árvores enormes até fios de
alta-tensão — resume o general Manoel Luiz
Pafiadache, comandante da força-tarefa das tropas do Exército que atendem os flagelados de Santa Catarina.
Um dos campeões em salvamentos é o soldado do Exército Josué de Souza Almeida, 21 anos. Tripulante de um helicóptero Pantera, ele conta nos dedos o número de horas que dormiu desde sábado, mas sabe de memória todas as pessoas que ajudou a resgatar. Foram mais de 200 segunda-feira, 80 na terça-feira e 30 na quarta, em diversos municípios. O aparelho pousa no quartel do 23º Batalhão de Infantaria de Blumenau, recheado de flagelados, os soldados descem, engolem um café com pão e já decolam novamente, porque não faltam pedidos de ajuda. Foram mais de 40 vôos desde segunda-feira.
— O pior caso foi de uma menina morta no Morro do Baú. Tinha só quatro anos e estava envolta num cobertor, sendo velada no chão da casa pelo pai — descreve Josué, emocionado.
Os flagelos que castigaram o Vale do Itajaí são variados. No Morro do Baú e em Blumenau, a
destruição veio pelo alto, sob a
forma de chuva incessante que provocou desabamentos. Difícil ver um quarteirão que não tenha pelo menos uma residência rachada ou destruída. Já os municípios de Gaspar, Luiz Alves e Ilhota estão literalmente afogados pela enchente. Na maior parte de Ilhota só é possível perceber a existência de uma cidade em função dos postes de luz. Apenas os telhados das casas afloram à superfície das águas barrentas.
No gramado próximo às casas, moradores da região isolada pela enchente e por barreiras que bloqueiam as estradas pintaram com cal mensagem de SOS
Foto:
Adriana Franciosi
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