| 10/03/2009 02h54min
Ronaldo comoveu o Brasil. O gol diante do Palmeiras, domingo, significou muito mais do que a quebra de um período de 419 dias sem marcar. Valeu o renascimento do atacante do Corinthians após a terceira contusão grave no joelho, além da certeza de que ainda é o Fenômeno. Sobretudo de massa.
Afinal, por que o ídolo se mantém o querido do Brasil, apesar de tantos deslizes recentes? A questão principal cerca a empatia e a tolerância em torno do craque. Aos 32 anos, Ronaldo apresenta barriguinha de jogador em fim de carreira. Gosta de sair à noite, fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Apesar de comprometido com a mulher, Maria Beatriz Antony, envolveu-se em escândalo com travestis.
Mesmo assim, canalizou o interesse da torcida do
país inteiro com o seu retorno.
Há explicação, claro. Na opinião do psicólogo clínico Jones Antonio dos Santos, a justificativa recai sobre os feitos de Ronaldo e a perspectiva de quem o admira. Trata-se de algo entrelaçado: o atacante só é amado porque compensa suas falhas dando em troca a alegria de gols. Não fosse o desempenho em campo – como o empate aos 47 minutos do segundo tempo, em Presidente Prudente –, e Ronaldo acabaria execrado.
— O torcedor, às vezes, não mede o que o jogador faz fora de campo — complementa Marcus Duarte, consultor de marketing esportivo.
Por essa ótica, outros famosos também deveriam dispor da simpatia do público. Aí, porém, entram os diferenciais do craque do Corinthians. Três lesões graves e três voltas por cima, uma delas com oito gols na Copa de 2002, compõem um histórico imbatível no quesito superação pessoal. Some-se a isso os sucessos profissional e privado – há uma longa lista de conquistas amorosas –, e
teremos o que o psicólogo Santos
considera uma projeção daquilo que desejamos ser.
— Para cada classe, ele mobiliza alguma coisa. No povão, vale a trajetória de origem humilde. Nas classes mais favorecidas, entram o poder e o dinheiro. Ele mexe com nosso imaginário de superação — argumenta.
Para alcançar este nível de adoração, Ronaldo contou também com a distância do público brasileiro. A teoria é do consultor Duarte: como o atacante deixou o Cruzeiro rumo à Europa em 1994, aos 17 anos, privou a torcida de uma convivência diária. Só era visto em jogos pela TV fechada, nos gols da rodada, na Seleção e em suas ações de marketing, como embaixador da Unicef. Quase sempre em bons momentos.
— Era um Ronaldo exemplar, que fazia gols decisivos nas
copas — assinala Duarte.
Mesmo assim, ainda há quem torça o nariz. O atacante foi alvo de chacota nacional nas derrapadas com os travestis e em relação aos quilinhos extras. No entanto, soube superar os episódios de uma maneira infalível: com humildade, postura semelhante à do mito argentino Diego Maradona, famoso pelo envolvimento com drogas.
— Ronaldo tem característica de autocrítica. Se retrata. Isso sensibiliza — explica Santos.
O atacante comprovou o diagnóstico ontem à noite, horas após a entrevista de Santos a ZH. Em participação ao vivo no Jornal Nacional, Ronaldo falou na felicidade pelo gol, revelou o sonho de voltar à Seleção e disse que pretende emagrecer.
Uma frase sobre a vida noturna, porém, resumiu a essência do jogador, definido pelo ex-assessor Rodrigo Paiva como “uma pessoa boa que, às vezes, paga um preço alto por ser assim.”
— De vez em quando temos alguns escorregões. Sou um ser humano
e erro. Mas acerto mais do que erro.
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Ronaldo (E), ao lado do técnico Mano Menezes: no Corinthians, mais uma volta por cima
Foto:
Sergio Neve, AE
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