| 13/03/2009 02h37min
O quarto 820 do Hotel Hunza foi o cenário das horas de angústia de Celso Roth antes da vitória sobre o Boyacá. A janela descortinava a vista dos arcos da igreja de San Miguel, construída ainda no Século 17 pelos espanhóis no centro de Tunja. Pouco depois do almoço, por volta das 16h, o técnico abriu a porta para o preparador físico Beto Ferreira. Os dois são amigos e parceiros de trabalho há mais de uma década. Beto é o confidente de Roth.
A conversa entre o técnico e o preparador correu por uma hora. Não era sobre o jogo, afinal o planejamento já estava costurado. Falaram de sonhos e de futuro. Roth sonha com esta Libertadores. Acredita que dispõe de time e grupo para conquistar o grande título da carreira. Mas
tudo era incerto a partir de Tunja.
Em
caso de demissão, os dois sabiam que propostas chegariam rápido. Mas não tinham planos imediatos. Tirar férias talvez fosse uma possibilidade. Apesar de confiantes no trabalho, sabiam que corriam risco de cumprir como desempregados as 16 horas desde Tunja.
— Havia apenas uma chance de seguirmos no Grêmio. Talvez até um empate nos derrubasse — calculava ontem Beto Ferreira.
A derrota no Gre-Nal colocou a comissão técnica em turbilhão. Até mesmo ir ao supermercado havia se tornado um tormento.
— Na sexta-feira, fui xingado enquanto comprava café e pão. O Celso também estava passando por isso — revelou o preparador.
No Estádio de La Independencia, Roth pediu aos jogadores que vencessem pelo Grêmio, não por ele. O grupo parece tê-lo ignorado. Ao final, no vestiário, uma romaria teve início. Um a um, os jogadores abraçaram o técnico. Depois, ele sentou-se em um contêiner, atirou a jaqueta e a prancheta para o lado e, aliviado,
entornou uma garrafa de água mineral.
É bem
verdade que, desde a chegada à Colômbia, o técnico exibia ar sereno. Na terça-feira, tomou o café da manhã com o presidente Duda Kroeff, no Hotel Habitel, em Bogotá. Ali, recebeu apoio e incentivo, entre goles do saboroso café colombiano e croissants com geleia de morango. Apesar da boa relação entre Duda e Roth, as conversas entre eles são bissextas.
— Foi um diálogo franco. Falamos de futebol, do empate entre América, de Cáli, e Independiente Medellín na noite anterior. Celso é um bom papo — contou Duda ontem, antes do embarque em Bogotá.
Apesar do turbilhão dos últimos dias, Roth garantiu que a alegria era pela vitória e não pela manutenção do emprego:
— Sabe por que não sofro mais com iminentes demissões? Porque, no futebol, quando se entende a razão das coisas, se sofre menos. Isso vem com a idade e com a bagagem de vida.
Próximo jogo pelo Gauchão:
Sapucaiense x
Grêmio
Data: 15/03 - domingo
Local: Estádio Cristo Rei, São
Leopoldo
Horário: 16h
Transmissão: RBS TV
Próximo jogo pela Libertadores:
Aurora x Grêmio
Data: 25/03 - quarta-feira
Local: Estádio Felix Capriles, Cochabamba (Bolívia)
Horário: 21h50min
Transmissão: RBS TV
Minutos depois do jogo, no vestiário em Tunja: Roth (D), sentado sozinho em um contêiner
Foto:
Leandro Behs
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