| 11/08/2003 09h11min
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, classificou como paranóia e exagero as acusações de que há preparação clandestina de movimentos de guerrilha armada por alguns setores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Ele garante que a Polícia Federal está mapeando as zonas de conflito e intervirá quando achar necessário.
Segundo o ministro, o trabalho é feito em colaboração com as Secretarias de Segurança dos Estados, que darão o primeiro combate, se houver necessidade. A manifestação de Márcio Thomaz Bastos deve-se a rumores de que o MST e outros movimentos sociais estariam preparando pacote de invasões rurais e urbanas em pelo menos cinco Estados, entre eles o Rio Grande do Sul. A mobilização conjunta faria parte da estratégia das organizações sem terra e sem teto para pressionar o governo federal do PT que ajudaram a eleger.
– Vamos refrescar a memória do presidente Lula e aplicar o programa do partido – resume Plínio de Arruda Sampaio, ex-deputado federal petista e um dos idealizadores das mobilizações previstas para agosto e setembro.
Sampaio diz que serão realizadas plenárias de movimentos sociais nos cinco Estados para avaliar os rumos do governo e discutir formas de ação. Entre estas, atos públicos na Marcha dos Sem – provavelmente este mês – e no Dia da Independência, durante o Grito dos Excluídos.
Menos diplomático, João Batista Costa, conhecido como Jota, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST, irmão urbano do MST), avisa que vem aí uma onda de invasões.
– Temos mapeados 50 latifúndios urbanos (terrenos baldios com mais de 100 mil metros quadrados) em cinco Estados, inclusive no Rio Grande do Sul. Eles podem ser ocupados até o fim do ano.
Jota liderou a maior invasão urbana de que se tem notícia, no terreno da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) por 4 mil famílias (20 mil pessoas), retiradas por ordem judicial na semana passada. Marxista-leninista assumido, Jota se diz revolucionário e não esconde que o objetivo maior do MTST é ocupar áreas privadas para "enfrentar o regime capitalista". Ele justifica dizendo que a terra é um bem, "não uma mercadoria".
Moderada se comparada com o MTST, a organização gaúcha Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) informa que não gosta de invadir nem pretende fazer revolução.
– Apenas queremos trabalho e um lugar para morar. Mas vamos ocupar vários terrenos, não tenha dúvida – diz Mauro Cruz, dirigente estadual do MTD e militante petista.
O MTD participa da articulação dos movimentos sociais para a grande cobrança a Lula. Cruz não revela os alvos, mas dá uma pista: Porto Alegre tem 48 prédios e terrenos vazios mapeados. E Pelotas, cem edifícios. A pressão tem dado resultado: em Gravataí, um terreno invadido ao lado da General Motors acabou doado pelo Estado. Continuam acampados, mas a terra é deles.
Invasões de terrenos pipocam todas as semanas, a maioria espontânea ou promovida por líderes municipais como vereadores. Uma não está articulada à outra. A última onda de invasões coligadas de prédios no Estado ocorreu em 1987, com a tomada de conjuntos habitacionais no Jardim Leopoldina (Porto Alegre) e Guajuviras (Canoas).
Se os sem-terra se justificam com o argumento de que 100 mil famílias estão acampadas à beira das estradas brasileiras, os sem-teto dizem que 6 milhões de famílias moram mal no Brasil – 300 mil no Rio Grande do Sul, 150 mil na Grande Porto Alegre. Tudo isso será jogado no colo do presidente Lula este mês.
Com informações da Rádio Gaúcha e Zero Hora.
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