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Quando o presidente americano, George W. Bush, subiu no palanque do porta-aviões Abraham Lincoln, em 1º de maio de 2003, imaginava estar dando um dos últimos passos para o total controle dos Estados Unidos no Iraque. Num discurso de 25 minutos, anunciou o fim das principais operações militares no país de Saddam Hussein, 42 dias depois de declarar guerra ao país árabe, num trabalho coligado com o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, e outros países como Espanha, Polônia e Itália.
– Nós temos um trabalho difícil para fazer. A transição de uma ditadura para a democracia levará tempo, mas cada esforço é valioso. Nossa coalizão permanecerá até que nosso trabalho seja concluído – disse o presidente na época.
Mesmo com a expectativa de que aquele discurso marcasse o final da batalha no Iraque, a cautela de Bush foi justificada. A guerra não terminou. Um ano depois, os dias que antecederam a data de início do confronto – 19 de março – foram
marcados por novas explosões na
capital iraquiana. A guerra de ocupação relativamente curta e fácil, levou Bush a outras três novas batalhas: o controle da situação no Oriente Médio, sua reeleição e a manutenção da hegemonia americana na comunidade internacional.
Bush está em desvantagem em pelo menos em duas novas disputas deflagradas após a dominação do Iraque. A primeira é ainda dentro do território iraquiano e vale o domínio pela segurança no país. Depois do discurso no porta-aviões, morreram mais soldados americanos em atentados isolados praticados pelas forças de resistência do que durante os 42 dias de guerra oficial (veja quadro no final do texto).
Este inesperado saldo de vítimas é um dos grandes revezes do presidente americano no seu mandato. Desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, Bush dedicou a sua gestão quase que exclusivamente às questões relacionadas à segurança dos americanos, numa tentativa de evitar a repetição do horror de 11 de setembro de 2001.
No entanto, é em solo árabe que a opinião pública americana e mundial observa os resultados da política de repressão militar contra as redes antiamericanas no Oriente Médio. Após um ano, os sucessivos ataques de carros-bomba e foguetes contra alvos relacionados à ocupação americana no Iraque e no Afeganistão passam a sensação de que o Exército americano não é capaz de cessar a atividade do lado mais radical dos grupos que lutam contra a atuação dos EUA na região.
Mesmo com a captura do arqui-inimigo Saddam Hussein, a situação é permanentemente instável. A prisão do ex-ditador iraquiano, tido como o principal organizador dos focos de guerrilha, foi festejada como a principal derrota da resistência. No entanto, as guerrilhas locais que já destruíram a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá – episódio em que morreu o diplomata brasileiro e representante da entidade no país Sérgio Vieira de Mello – parecem sobreviver sem o braço forte de Saddam e seguem detonando explosivos e matando soldados em Bagdá.
Para piorar a situação, outros atentados ao redor do mundo também mataram centenas de pessoas em países como Bali, Marrocos e Espanha. A participação da rede Al-Qaeda nestes atos leva o mundo a suspeitar da possibilidade de expansão do problema americano para o resto do globo. Na Espanha, onde um atentado matou mais de 200 pessoas no dia 11 de março, a oposição acabou derrotando o partido de José María Aznar, um aliado de Bush desde o primeiro momento.
Outro aliado, Tony Blair, também vem passando por maus bocados no seu país por conta do apoio à guerra do Iraque. O premiê britânico foi vítima de uma investigação sobre a possível manipulação de dados sobre o arsenal de Saddam como forma de justificar a guerra. Blair e seus aliados foram absolvidos, mas o veredicto veio ao custo de muito desgaste perante a opinião pública inglesa.
O revés de Aznar e a investigação em Blair dão sinais do tipo de guerra que o presidente americano será obrigado a participar para garantir sua reeleição em novembro. A inexistência de armas de destruição em massa em território iraquiano, principal justificativa para o início do combate, quase derrubou o primeiro-ministro inglês e tende a ser uma grande dor de cabeça para Bush dentro dos EUA.
Um ano depois do início da guerra no Iraque, 49% dos americanos desaprovam a forma como Bush está lidando com a situação, enquanto 47% disseram aprová-la, segundo uma pesquisa da National Annenberg Election divulgada na última semana. Com uma diferença que oscila perto dos cinco pontos percentuais, o senador democrata John Kerry vem liderando as intensões de voto dos americanos.
O controle da situação no Oriente Médio e a captura do terrorista Osama bin Laden podem virar o jogo a favor de Bush. Para a primeira tarefa, a solução tem contornos ainda distantes no horizonte do presidente. O Conselho de Governo Iraque aprovou uma constituição há poucas semanas e as eleições gerais marcadas para junho dependem da situação de segurança do país. Com grupos contrários ao sistema político imposto pela Casa Branca ainda bem atuantes e diferenças étnicas acentuadas, a data pleito será constantemente ameaçada a cada novo atentado terrorista.
A segunda tarefa soa ainda mais complicada. Escondido em algum lugar do planeta, bin Laden vem despistando os serviços de inteligência e tropas de diversos países que buscam pelo líder da Al-Qaeda.
Bush ainda tem um terceiro caminho para garantir um novo mandato: se dedicar à economia americana. Essa tarefa, no entanto, depende do sucesso das outras empreitadas lançadas pela Casa Branca. Com milhares de soldados e bilhares de dólares investidos nas campanhas militares, os críticos tendem a acusar o presidente de dar as costas para o país. O quanto antes a situação nos territórios ocupados se alcamarem, mais tempo terá Bush para se dedicar às questões internas. Além disso, a visão militarista e intransigente do governo republicano dificulta a diplomacia americana com o resto do mundo.
Neste ponto, Bush consegue ter relativo sucesso. Mesmo passando por cima da ONU para invadir o Iraque, Bush parece ter conseguido se equilibrar na política internacional entre a proteção dos interesses nacionais e a manutenção da liderança internacional. Países com o Brasil, a Índia, a França e a Alemanha criticam publicamente a invasão americana no Oriente Médio, mas, ao mesmo tempo, se esforçam para manter boas relações com a Casa Branca, numa demonstração de respeito ao poderio norte-americano.
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