| 20/05/2001 20h02min
O governo federal divulgou três notas oficiais neste domingo para demonstrar que não trabalhou para abafar o caso do socorro ao banco Marka, de Salvatore Cacciola, e que desconhecia qualquer "deslize" do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, numa referência à suposta participação do executivo em esquema de venda de informação privilegiada denunciado pela revista Veja desta semana. A publicação afirma que Salvatore Cacciola, ex-presidente do Banco Marka, chantageou na crise cambial em janeiro de 1999 o então presidente do Banco Central (BC) Francisco Lopes. Cacciola teria ameaçado denunciá-lo por venda de informações privilegiadas sobre juros e câmbio caso não autorizasse a ajuda do BC ao Marka. O esquema de Chico Lopes envolvia o consultor Luiz Augusto Bragança e o economista Rubens Novaes. Conforme a reportagem, Bragança habilitou três linhas de celulares – uma para ele, outra para Lopes e uma terceira para Novaes. Lopes repassava as informações aos parceiros, que as levavam a clientes do esquema. Cacciola teria descoberto o esquema por meio de um grampo telefônico ilegal e passou a ter acesso às informações. Conforme a reportagem, as fitas que registram as conversas grampeadas estão guardadas num cofre no Brasil e há cópias depositadas num banco no Exterior. Apesar de ter acesso a informações privilegiadas, Cacciola não teve acesso a tempo da informação sobre a alteração no câmbio, em janeiro de 1999. Ele apostou no mercado que a desvalorização ocorreria somente no mês seguinte. Assim, colocou o banco na difícil situação de quebra. Para sobreviver, teria começado a chantagear o BC. A Veja informa que o governo decidiu acobertar o caso devido ao temor de que o escândalo provocasse uma crise. Lopes resistia a ajudar o Marka, mas ao ser informado de que Cacciola tinha um pacote de fitas sobre o vazamento de dados, o auxílio foi providenciado. O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou neste sábado, em convenção do PSDB, que se tratava de uma acusação sem fundamento. Oficialmente, a Polícia Federal ignora a existência das fitas mencionadas pela revista, que comprovariam a atuação de Lopes no comércio de informações privilegiadas e que teriam sido utilizadas por Cacciola para chantageá-lo, conseguindo o socorro de R$ 1 bilhão ao Marka. Em nota à imprensa, a Polícia Federal afirma que as informações publicadas fazem parte dos 11 volumes e 28 anexos do inquérito aberto para apurar o caso em abril de 1999, o que deu origem à ação penal contra 13 réus. Há duas exceções, que, conforme o comunicado oficial, agora "serão objeto de imediata e pertinente investigação": a conta no Exterior do banco Pactual, de onde teriam saído recursos para financiar o suposto esquema. Nota assinada pelo porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, afirma que "a demissão do dr. Francisco Lopes da presidência do Banco Central teve razões exclusivamente funcionais, não tendo o senhor presidente da República nenhum conhecimento de deslize do mencionado funcionário". Também em nota distribuída pelo Planalto, o ex-ministro Clovis Carvalho (Casa Civil) declara nunca ter participado de "qualquer ação relativa a qualquer tipo de ameaça ou crise". Segundo a reportagem, no momento em que se tornou público que Lopes possuía US$ 1,6 milhão no Exterior, Carvalho foi encarregado de espalhar a versão de que o dinheiro era fruto de uma herança paterna. O ex-presidente do BC Francisco Lopes também negou que tenha participado de um esquema de venda de informações privilegiadas e afirmou que cabe à Polícia Federal e ao Ministério Público a abertura de investigações sobre o suposto grampo apontado pela revista. Ele disse que nunca teve conhecimento de tais gravações. O Banco Central informou que ainda não sabe se vai reabrir as investigações sobre o caso. Em 1999, o BC abriu uma investigação própria para tentar identificar o suposto esquema. O inquérito foi arquivado por falta de provas.
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