| 16/03/2005 22h36min
O futuro do presidente boliviano, Carlos Mesa, está em aberto depois que a sua surpreendente proposta para antecipar as eleições foi mal recebida pelo Congresso. Cansado das manifestações e dos bloqueios rodoviários contra o seu governo, que paralisaram a economia, Mesa apresentou na noite de terça, dia 15, um projeto de lei convocando eleições presidenciais e legislativas para agosto, dois anos antes do prazo. Mas, segundo analistas e parlamentares, o presidente ainda pode mudar de idéia.
Os manifestantes começaram a desfazer os bloqueios na quarta, e a Câmara aprovou uma lei para o setor energético que representou uma vitória parcial para as ambições de Mesa de incentivar investimentos estrangeiros no setor, mas também uma vitória parcial para a oposição, que quer impostos mais pesados sobre as empresas de petróleo e gás. O projeto ainda deve passar pelo Senado.
– Qualquer coisa pode acontecer a esta altura. A Bolívia está em uma crise profunda, e ninguém parece disposto a dirigir o país – disse o influente analista político Carlos Toranzo.
Os protestos são protagonizados pelos índios bolivianos que, fartos da pobreza endêmica, reivindicam mais influência sobre a política econômica. Os bloqueios causaram escassez de alimentos em algumas grandes cidades e custam milhões de dólares por dia às empresas. Mas a TV mostrou militares retirando pedras e troncos que interrompiam uma estrada na região do Chapare, um dos epicentros da crise, depois que centenas de manifestantes aparentemente se dispersaram.
O Congresso só deve se reunir nesta quinta, dia 17, para discutir a proposta de Mesa. Mas alguns deputados já disseram que a antecipação das eleições pode ser ilegal, o que obrigaria Mesa a ficar no cargo ou renunciar.
– Queremos que ele fique. Nós e outros partidos achamos que a proposta de eleições antecipadas é inconstitucional – disse o deputado Evo Morales, principal líder da oposição.
Mesa exigia a nova lei sobre a exploração de gás para permanecer no cargo. Mas a versão aprovada pela Câmara inclui grande parte das exigências da oposição, como o direito das comunidades indígenas a negarem autorização para que as empresas façam prospecção de gás perto de suas casas. O Ministério da Energia disse que a versão que seguiu para o Senado contém "terríveis problemas".
Os manifestantes temiam que a lei, tal qual enviada pelo Executivo, permitisse que multinacionais como a Petrobras explorassem os recursos naturais da Bolívia sem que isso resultasse em benefícios para a população. A maioria dos manifestantes parece razoavelmente satisfeita com a versão aprovada.
– Decidimos suspender os bloqueios enquanto a lei está sendo analisada pelo Senado – disse Roberto de la Cruz, um dos líderes dos protestos.
Mesa ameaçou renunciar na semana passada, acusando o Congresso de não apoiá-lo. Ele repetiu essas acusações na noite de terça, dizendo que não pode mais presidir de mãos atadas pelo Congresso. O presidente continua sendo popular, com índices de aprovação superiores a 60%, e se recusou a usar a força para desmantelar os bloqueios. Seu antecessor, Gonzalo Sánchez de Lozada, renunciou em 2003, depois que protestos semelhantes resultaram em dezenas de mortes.
As informações são da agência Reuters.
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