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 | 29/03/2005 17h19min

Annan é inocentado em escândalo de corrupção no Iraque

Relatório diz que secretário-geral da ONU foi relapso

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, foi absolvido nesta terça, dia 29, das suspeitas de tentar interferir na concessão de um contrato no Iraque para uma empresa onde trabalhava seu filho. Mas o relatório da investigação diz que ele falhou ao não investigar adequadamente o possível conflito de interesses.

A comissão independente de inquérito, comandada pelo ex-chairman do Banco Central dos Estados Unidos, Paul Volcker, divulgou seu segundo relatório parcial sobre o programa "petróleo por comida", desta vez tratando do envolvimento de Annan e de seu filho, Kojo, ex-funcionário da empresa suíça Cotecna. A Cotecna conseguiu, no final de 1998, um contrato da ONU que previa o pagamento de US$ 10 milhões anuais para certificar a origem de bens exportados para o Iraque.

Na época, estava em vigor um programa que previa a troca de petróleo iraquiano por alimentos e outros bens civis, sob supervisão do organismo, a fim de minimizar o impacto negativo das sanções sobre a população civil. O programa terminou em 2003, e logo surgiram inúmeras denúncias de corrupção.

– Como sempre esperei e acreditei, o inquérito me isentou de qualquer irregularidade – disse Annan em nota.

Mas Volcker, em entrevista coletiva, afirmou várias vezes que a investigação iniciada pelo secretário-geral foi "inadequada" e que o assunto deveria ter sido tratado por uma corregedoria independente da ONU. O relatório de Volcker também revelou que um assistente de Iqbal Riza, o chefe de gabinete de Annan, que se aposentou em dezembro, rasgou vários documentos em 2004, alguns dos quais relativos à investigação do programa "petróleo por comida".

– Isso aconteceu bem na época em que esta comissão estava sendo formada. Isso obviamente desperta uma questão que tivemos de relatar. Se os documentos continham qualquer evidência, não se sabe. Houve uma coincidência temporal – disse Volcker.

A respeito de Annan, Volcker disse que "não há evidência de que a seleção da Cotecna em 1998 tenha sido alvo de qualquer influência afirmativa ou imprópria do secretário-geral no processo de licitação e seleção". Segundo Volcker, a empresa foi escolhida porque de fato fizera a melhor proposta. Já Kojo Annan, segundo o relatório, "enganou intencionalmente o secretário-geral" a respeito da sua ligação financeira com a Cotecna.

– Questões significativas permanecem a respeito de Kojo e de suas ações durante o outono de 1998, assim como da integridade de seus negócios e transações financeiras com respeito ao programa "petróleo por comida". A investigação do comitê a respeito destas questões continua.

Kojo Annan, de 31 anos, foi estagiário da Cotecna entre 1995 e 1998, saiu, portanto, mais ou menos na época da concessão do contrato. Mas, entre 1999 e fevereiro de 2004, ele continuou recebendo US$ 2,5 mil dólares mensais da empresa, em troca de não trabalhar para concorrentes da Cotecna na África Ocidental. Por causa do escândalo, alguns parlamentares norte-americanos pediram a renúncia de Annan. Mas nenhum dos 191 países da ONU, inclusive os EUA, solicitaram que ele deixe o cargo.

O relatório final de Volcker deve ser divulgado em meados do ano. Antes, ele já havia acusado Benon Sevan, ex-diretor do programa, de desviar contratos de petróleo de US$ 1,5 milhão para um intermediário egípcio seu amigo. Volcker disse que seu próximo relatório vai abordar também a atuação do Conselho de Segurança no caso. Ele afirma que o governo de Saddam Hussein obtinha seus maiores dividendos com o contrabando de petróleo, fora do programa da ONU.

De acordo com a CIA, Saddam conseguiu obter quase US$ 2 bilhões graças ao programa da ONU, além de US$ 8 bilhões em transações por fora. Além disso, ele teria usado o produto para subornar indivíduos e grupos mundo afora.

As informações são da agência Reuters.


 
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