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 | 04/04/2005 11h49min

Cardeal indiano tem pouca chance na sucessão papal

Escolha, no entanto, poderia ser estratégica para Igreja na Ásia

Ele era amigo íntimo do papa João Paulo II e é o único asiático citado como seu possível sucessor, mas é improvável que o arcebispo de Mombai se torne o próximo líder da Igreja Católica. O cardeal Ivan Dias passou mais de três décadas fora da Índia, a maior parte como emissário do papa mundo afora, reforçando posições conservadoras da Igreja em questões como homossexualidade e aborto. Mas desde que voltou a Mombai, há oito anos, Dias mantém a discrição, deixando a imprensa à distância.

– Dias nunca foi um líder, e sim um seguidor. Ele não é um grande orador ou comunicador, e eu pessoalmente não acho que ele tenha muita chance – disse um analista, que pediu anonimato.

Dois terços dos 1,1 bilhão de católicos do mundo estão na América Latina, na Ásia e na África, mas nunca houve um papa do Terceiro Mundo. Os cardeais do "Sul Global" podem ter um papel decisivo na escolha do novo pontífice, e aí o nome do conservador Dias surge como uma possibilidade. Mas líderes eclesiásticos e analistas cristãos da Índia, onde vivem 18 milhões de católicos, não parecem muito animados.

– Ele era amigo pessoal do papa João Paulo II e o representou em algumas missões difíceis em países comunistas. Mas a eleição de um papa é guiada pelo Espírito Santo e pela manifestação da vontade divina. Então pode ser qualquer um – disse Anthony Charanghat, editor do semanário católico The Examiner.

Outros foram mais diretos.

– Ele era um soldado da infantaria do papa João Paulo II, e assiduamente manteve essa imagem. Mas isso não basta – disse um importante religioso de Mombai, que trabalhou com Dias.

Nascido em 1936, na capital financeira da Índia, Dias passou seus primeiros três anos de sacerdócio fazendo trabalho pastoral em Mombai. Em seguida, foi estudar em Roma, o primeiro passo de uma carreira na hierarquia do Vaticano. Em 1964, entrou para o serviço diplomático da Igreja, e pelos 30 anos seguintes pulou de nunciatura em nunciatura (representação do Vaticano em outros países), além de ocupar funções no Departamento de Estado do Vaticano. Ele é fluente em inglês, italiano, francês e espanhol. Mas, em seu país, é uma figura discreta. Os católicos são apenas 1,8 por cento da população, e freqüentemente se dizem discriminados pela maioria hindu.

Seu porta-voz, padre Praveen Fernandes, disse que Dias se interessa muito pelo trabalho pastoral.

– Embora ele próprio não vá a favelas ou encontre os pobres, ele incentiva os padres da diocese a fazê-lo.

Muitos consideram que um papa indiano poderia ser um incentivo para a Igreja na Ásia, e o Fórum Secular Católico pediu que seus membros rezem pela eleição de Dias. "Há uma crescente necessidade de que o próximo pontífice venha da Ásia, da África ou da América Latina, onde a Igreja é negligenciada ou cresce muito rapidamente", disse o secretário-geral da entidade, Joseph Dias, em uma nota.

– Estou realmente animado, mas vamos esperar com uma oração nos lábios para ver o que afinal acontece – acrescentou Dolphy d'Souza, vice-presidente da União Católica Pan-Indiana.

Mas outros consideram que a instituição é mais importante que a personalidade.
– Pessoalmente, não importa muito se X, Y ou Z se torna papa. Mas eu teria orgulho se fosse um indiano – disse a fiel Astrid Logo Gajiwala.

As informações são da agência Reuters.


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