O Senador Paulo Paim (PT-RS) sobre a CPI dos Bingos em entrevista concedida ao clicRBS na tarde desta quarta. Para o senador, o instrumento CPI não pode ser banalizado.

Além de falar sobre a comissão, Paim afirmou que a atual crise envolvendo supostas denúncias de corrupção em estatais e na Câmara dos Deputados é um momento triste para o país. Ele defendeu a atencipação de eleições para a direção nacional do PT e afirmou que José Genoino poderia pedir afastamento do cargo. O atual presidente do partido tem o nome envolvido em denúncias de esquemas de corrupção.

Paim garantiu que não pensa em deixar o PT.

A entrevista online teve monitoração de Cláudia Ioschpe.

• Confira a íntegra da entrevista:

Paulo Paim: Boa tarde a todos. É uma satisfação estar participando desse debate para falarmos sobre o que está acontecendo aqui no Congresso Nacional.

Pergunta de Internauta – marquito: Caro senador, qual o ponto crucial dessa CPI?

Paulo Paim: Caro Marquito, a CPI dos Bingos, apresentada pelo senador Magno Malta e com as assinaturas da maioria dos senadores, surge em um momento em que a imprensa mostra o Valdomiro fazendo proposta indecente – no meu entendimento – ao Cachoerira. Assim, instalamos a CPI a fim de discutir a lavagem de dinheiro público ou não – via narcotráfico e bingos.

clicRBS: A criação da CPI dos Bingos em meio a toda a crise vivida em Brasília não pode enfraquecer os trabalhos da comissão? Quais as suas expectativas em relação à CPI dos Bingos?

Paulo Paim: Particularmente, acho q a CPI – um instrumento importantíssimo do processo democrático – não pode ser banalizado. Temos mais de uma dúzia de CPIs instaladas. Entendo q a CPI dos Correios investigará Mensalão, Correio, desvio do dinheiro público (envolvendo partidos e parlamentares) e Bingos. Mas como foi vontade de um grupo de senadores instalar a CPI dos Bingos nós estamos aí para fiscalizar e punir aqueles que cometeram os delitos.

clicRBS : O senhor acredita que as investigações da CPI dos Bingos poderão encontrar pontos de convergência entre questões abordadas nas outras CPIs em andamento (dos Correios e, em breve, do Mensalão)?

Paulo Paim: Entendo que os holofotes da grande mídia estarão voltados principalmente para a CPI dos Correios, mas como entendo que a CPI não deve estar preocupada com os holofotes, acredito q a CPI dos Bingos terá papel fundamental na questão da lavagem de dinheiro e do narcotráfico (meio que nos leva milhões de jovens todos os anos) além, é claro, de levar para a cadeia os corruptos.

Pergunta de Internauta – Magda: Por que José Genoino já não foi afastado?

Paulo Paim: O José Genoíno participou da reunião da Executiva do partido. Haverá uma reunião da direção nacional nesse fim de semana em que ele poderá tomar a mesma posição do Delúbio e do Sílvio, ou seja, pedir licença do cargo para fazer sua defesa já que ninguém tem dúvidas de que ele será convocado para depor nas CPIs.

Pergunta de Internauta – Asdrubal: Senador, Você acha que o José Genoino deveria se afastar da Presidência do PT?

Paulo Paim: Caro Asdrúbal, tenho colocado pela imprensa a seguinte posição: acho que deveríamos antecipar as votações do partido nas três esferas. Com isso, os 900 delegados no país é que decidiriam quem deveriam ser os dirigentes do partido. Uma comissão provisória poderia coordenar o processo eleitoral até que o pleito terminasse, já que o Genoíno é candidato.

Pergunta de Internauta – Vavá: Há uma preocupação com o número de CPIs instaladas. O trabalho do Congresso Nacional não será prejudicado?

Paulo Paim: Espero que isso não aconteça. A grande verdade é que neste semestre, apenas a PEC Paralela – que me orgulho em dizer que articulei sua aprovação – nada de importante foi aprovado. As CPIs podem cumprir o seu papel de investigação, denúncias e até mesmo de cassação de mandatos. Agora, considero uma irresponsabilidade se o Congresso parar de trabalhar e não votar matéria de interesse direto da população neste período. O perigo existe.

Pergunta de Internauta – Cássia: O senhor sempre teve uma postura independente diante de CPIs, tendo até mesmo "nadado contra a maré" em comissões anteriores, como a do Orçamento, em que foi um dos únicos da oposição a se posicionar em favor do então deputado Ibsen Pinheiro. Por que o senhor agiu desta maneira na época? Esta postura não pode lhe prejudicar dentro do seu partido, caso haja confirmação de alguma das denúncias contra o PT?

Paulo Paim: Sempre fui conhecido como rebelde, o rebelde quer as coisas pela raiz e assim eu vou continuar. Tenho orgulho de dizer que votei contra a cassação de Ibsen Pinheiro porque tinha certeza de que ele era inocente, como já ficou comprovado junto à Justiça. Adotarei a mesma posição, ou seja, votarei com a minha consciência. Votarei pelo afastamento dos culpados e pela absolvição daqueles que eu me convencer que são inocentes. Isso, doa a quem doer.

Pergunta de Internauta – Arlindo Orlando Pere: Senador, fale um pouco da pec paralela (proposta de emenda constitucional à reforma da Previdência, promulgada nesta terça pelo Congresso).

Paulo Paim: A pec Paralela está marcada em minha própria história. Jamais vou esquecer que há quase dois anos articulei a PEC e disseram que eu participava de uma farsa. Hoje ela está promulgada e aqueles que duvidaram, infelizmente para eles, vão ter que me engolir, como diz o Zagalo. Conquistamos com ela a paridade, a integralidade, a aposentadoria para a dona de casa, a regra de transição, a não contribuição dos inativos por doença incapacitante e as aposentadorias especiais, beneficiando com isso cerca de 30 milhões de brasileiros.

Pergunta de Internauta – Magda: Que a corrupção existe há séculos, todos nós sabemos, e mesmo assim não é desculpa para nós continuarmos batendo nessa tecla, e muito menos o PT que sempre acusou outros e sempre jurou pela ética.

Paulo Paim: Concordo plenamente com você, Magda. E vou além. Nós que viemos com o discurso da mudança não poderemos ter a mesma prática dos governos anteriores. Por isso, tenho cobrado de meu próprio partido que a gente fortaleça as CPIs, repito, doa a quem doer. Sejam da base aliada ou da oposição. Espero que no governo do presidente Lula a gente faça no Brasil a operação mãos limpas, realizada com sucesso na Itália.

Pergunta de Internauta – Zozoca: Corremos o risco de um impeachment?

Paulo Paim: Esse não é o clima que sinto aqui no Congresso. Não concordo com aqueles que dizem que a oposição está dando um golpe. A oposição está agindo exatamente como nós agimos no passado. Mas, vale a velha máxima: CPI você sabe como inicia, não sabe como termina. Por isso, acho correto a mobilização que acontece no país – coordenado pelos movimentos sociais –, em defesa da democracia, mas que se faça o combate implacável contra a corrupção.

Pergunta de Internauta – Vavá: Após todas estas denúncias, a população está desacreditada. Como o senhor acha que vai se dar o processo eleitoral de 2006?

Paulo Paim: Vavá, não tenho dúvidas de que há um desgaste das instituições e dos partidos políticos, principalmente dos que compõem a base do governo. Sinto que há um desencanto por parte da população e, entendo, devido a essa avalanche de denúncias que estão acontecendo. Mas não existe no mundo sistema melhor que a democracia. Por ser um apaixonado por ela, entendo que a população pelo voto, que é o coração do processo, há de colocar a sua posição nas próximas eleições e nós todos haveremos de entender e respeitar, pois é assim que caminha a humanidade.

Pergunta de Internauta – Fernando: Senador, os partidos são formados por homens, todos sabemos que sujeitos, portanto, à natureza humana, que é falha. Entretanto, o PT sempre confundiu homens com instituições. Desta forma, todos os partidos políticos, fora o PT, eram formados por corruptos. Com o escandalo do mensalão, Correios, Valdomiro e etc, o PT, como um todo, é corrupto?

Paulo Paim: Quero te dizer que eu sempre fui daqueles que explicitei minha posição: ontem, hoje e espero que sempre. Não é por você ter carteirinha do PT que será melhor que os outros. A sociedade sabe disso. Chego a dizer que há confusão entre PT e sindicalismo. O movimento sindical não começou em São Bernardo. Muitos tombaram antes e depois de 64. Por isso, tenho apoio em minha caminhada do conjunto do movimento sindical e o respeito de todos os partidos. Falo isso não por vaidade mas por humildade porque respeito a todos. Entendo que em todos os partidos há pessoas de bem, assim como existem os que são levianos e por que não dizer, corruptos.

Pergunta de Internauta – Luiz: Diante deste "rebuliço" de acusações, haverá expulsões, como houve da Luciana Genro?

Paulo Paim: Luiz, acredito que vai além. Haverá cassações de mandatos, o que é muito mais grave. Entendo que nos mais variados partidos, em torno de uma dúzia de parlamentares deverão perder seus mandatos e terão seus direitos políticos cassados. Principalmente nos da base aliada.

Pergunta de Internauta – Rouberto_Jef: Você acha que esse abalo no PT incide na sua atuação no parlamento?

Paulo Paim: Roberto, na minha, não. Continuarei o mesmo. Defendendo aqui no Congresso como sempre fiz ao longo desses 20 anos os trabalhadores, aposentados, os discriminados, os desempregados, os empreendedores que geram empregos no campo e na cidade, a nossa juventude tão sufocada por falta de oportunidades políticas que venham na linha da distribuição de renda e emprego, a educação e a saúde. E com certeza o processo democrático, porque sou daqueles que ama a liberdade e não há liberdade sem democracia.

Pergunta de Internauta – Luiz: Fui militante entusiasmado pelo PT. Hoje sinto uma enorme tristeza, decepção, e pior, um tamanho descrédito. Como será a militância do PT a partir de agora?

Paulo Paim: Luiz, entendo. É como se estivéssemos perdendo a pessoa amada. Tanto a paixão dessa proposta que embalamos, acariciamos e aprendemos com ela a dar cada passo ao longo de nossas vidas. Por isso, estou tão sofrido quanto você, mas a vida me ensinou que o pessimista é um derrotado por antecipação. Continuo otimista por que acredito nos militantes, acredito em você.

Pergunta de Internauta – Duarte: E as categorias afetadas pela PEC (relativa à Previdência)? Pois sabemos que o instituto nacional de Previdência está falido. Nós, os prejudicados, manteremos o fundo? Digo isso porque sou militar e vou ter de trabalhar mais cinco anos.

Paulo Paim: Duarte, esse é um tema polêmico. A seguridade social – no meu entendimento – não está falida. Você sabia que nos últimos 10 anos, conforme a Anfip (Associação Nacional dos Fiscais da Previdência), R$ 17,63 bilhões foram retirados da seguridade para outros fins? Por isso, insisto: a previdência no Brasil é superavitária se todos recursos a ela destinados ficassem para pagar os pensionistas e aposentados da área pública e privada. Veja com carinho a PEC paralela que recentemente aprovei aqui no Congresso. Você pode ser beneficiado por ela. Você pode ser beneficiado pela regra de transição.

Pergunta de Internauta – Asdrúbal: Na sua opinião, o presidente da República omitiu-se sobre o mensalão, pois como primeiro mandatário do país deveria também ser o primeiro a apurar as denúncias?

Paulo Paim: Asdrúbal, o presidente, quando soube das denúncias, mandou investigar todos os fatos. A primeira surgiu, no fim do ano passado, no jornal do Brasil. A comissão de sindicância da Câmara arquivou o processo. Segundo eles, nada havia sido encontrado. Quando surgiu a nova denúncia, feita pelo presidente do PTB, a orientação do presidente Lula foi investigar todos os fatos. Ele disse: "que não fique pedra sobre pedra, que as CPIs sejam fortalecidas, doa a quem doer".

Pergunta de Internauta – Luiz: O presidente terá forças para implantar uma operação mãos limpas?

Paulo Paim: Espero que sim. Eu cheguei a sugerir algumas medidas. Que todos os cargos que tenham padrinhos políticos – quero dizer que não tenho nenhum (risos) – deveriam ser entregues. Todos aqueles que forem candidatos deveriam também colocar os cargos à disposição, sejam ministros ou não. Afinal, por lei, essa mudança deverá acontecer no início do próximo ano. Assinei emenda constitucional para que todo servidor público só ingresse via concursos e sou autor de um projeto de lei que prevê que todo crime de corrupção seja inafiançável e não prescreva. Em resumo, o presidente deve buscar na sociedade organizada o apoio para a operação mãos limpas.

Pergunta de Internauta – Jose: Por que o senhor não sai desse partido?

Paulo Paim: Essa é a pergunta a que mais tenho recebido ao longo desses últimos dois anos. Mas sabe, José, sou daqueles que não deixa companheiros na estrada. Por isso, lutarei para fazer as mudanças por dentro do PT. Se um dia me convencer que isso não é possível, não tenha dúvidas: seguirei os versos de um poeta espanhol que diz “o caminho se faz caminhando”. Nem que tenhamos que recomeçar tudo outra vez.

Pergunta de Internauta – Burmann: Só gostaria de mandar meu abraço ao senador – sou seu eleitor, por opção pessoal, e não pelo partido – que continue na batalha em Brasília, para que, em algum dia, o nosso país tenha condições de ter uma situação mais digna – daqui a uns cem anos, talvez.

Paulo Paim: Burmann, aceite também meu abraço. Sei que o povo gaúcho e brasileiro está acompanhando – neste momento tão difícil – passo a passo do que aqui acontece. Saiba que é um momento muito doloroso para todos nós que acreditamos na igualdade, na liberdade e na justiça social. Que Deus nos ajude.

Pergunta de Internauta – Vavá: Deixo o meu abraço e admiração pessoal pela sua trajetória. Acho apenas que está na hora de procurar outro caminho. Conte com meu apoio.

Paulo Paim: Caro Vavá, quando falei dos caminhos, respondi a esse seu comentário. Mas gosto também de uma canção que diz: "a orquestra nos chama, vamos começar tudo outra vez". A orquestra, Vavá, a que me refiro, é o nosso povo.

clicRBS: Agradecemos em especial a participação do senador Paulo Paim. Muito obrigado.

Paulo Paim: Um abraço solidário e carinhoso e um beijo no coração de cada um de vcs. Vida longa ao nosso povo.