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 | 22/07/2005 01h31min

Relatório complica Delúbio, Dirceu e Jefferson

Documento liga nomes a organização que fraudou a Receita e a Previdência

Um relatório reservado do Ministério Público Federal poderá complicar a situação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, do deputado José Dirceu (PT-SP), do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e de outros políticos investigados por suposto envolvimento com o mensalão.

Trechos do documento obtido pelo O Globo e publicados no início da madrugada desta sexta na edição online do jornal, mostram integrantes da organização do argentino César de la Cruz Arrieta, especializada em fraudes contra a Previdência e a Receita Federal, conversando sobre a formação de caixa 2 para a compra de apoio político na Câmara. Há referência ao nomes de Delúbio, de Dirceu e de Jefferson. Banco Rural e nomes de outros políticos também figuram nas conversas.

Arrieta foi preso em 11 de abril deste ano na Operação Tango, da Polícia Federal. Ele estava com outras 12 pessoas que integrariam a quadrilha acusada de fraudes contra o sistema financeiro e a administração pública, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

De acordo com a reportagem publicada pelo jornal O Globo, o conteúdo do relatório, que será encaminhado ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e depois à CPI dos Correios, é explosivo.

As conversas do grupo de Arrieta, transcritas no documento, foram gravadas com autorização judicial em janeiro deste ano, seis meses antes das denúncias sobre o suposto mensalão.

Os diálogos mais comprometedores são de Márcio Pavan, braço-direito de Arrieta, com dois interlocutores identificados como Marcelo, contato da organização em Brasília, e Dênis.

Numa conversa com Dênis em janeiro, Pavan faz a primeira citação sobre os R$ 10 milhões que o PT estaria arrecadando para dar ao PTB. Pavan cita o Banco Rural e pergunta, em linguagem cifrada, sobre uma determinada conta. Ele ainda quer saber se quem estaria fazendo o pedido do dinheiro seria “o Zé”. Dênis responde que a solicitação teria vindo do tesoureiro, numa suposta referência a Delúbio. O pedido também teria sido endereçado a um cliente de Dênis interessado num financiamento do BNDES.

Pavan e Dênis ainda trataram, via telefone, de uma manobra na prefeitura de Goiânia para abrir vaga na Câmara para um irmão de Delúbio, suplente de vereador. A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados também aparece como tema das conversas, além de a intenção de marcar uma reunião com Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva.

Numa segunda conversa, Pavan informa a Marcelo como estão as negociações entre Dênis e o então tesoureiro do PT:

– Ele (Dênis) pediu ajuda para acertar o negócio com o Delúbio. O Delúbio precisa fazer uma caixinha perto dos rolos que ele fez, quer R$ 70 mil.

Marcelo responde que o "homem forte está  precisando de troco, está fazendo caixa para o PTB para ganhar a eleição da Câmara". Em outra conversa, Pavan diz a Marcelo que está aguardando uma reunião com José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil. Pavan e Marcelo voltam a conversar sobre a arrecadação de dinheiro para a compra de apoio político: 

– O cara tá querendo uma grana. Está apoiando o Virgílio (Guimarães, PT-MG) para presidente da Câmara.

Mais adiante diz que o deputado, tratado como "o cara", precisa de R$ 50 mil. Pavan comenta, então, que tiveram que dispensar o Delúbio:

– Esse Delúbio juntou R$ 10 milhões para o PTB. Esse dinheiro é para o Ricardo (Roberto) Jefferson para ele acomodar a gurizada dele na Câmara.

As conversas entre Pavan, Marcelo e Dênis foram gravadas durante uma investigação do Ministério Público Federal sobre supostas fraudes da organização de Arrieta contra a Receita Federal.

O processo que envolve Arrieta e Pavan, presos desde abril, está em curso no Tribunal Regional da 4ª Região, em Porto Alegre. Segundo os responsáveis pela Operação Tango, o grupo de Arrieta montou no Rio Grande do Sul uma base para vender títulos podres do Tesouro Nacional. Os títulos eram vendidos com vantajosos deságios para a bancos e empresas quitarem débitos com o Fisco. Luiz Carlos Maranhão, um dos advogados do BVA, confirmou que banco comprou aproximadamente R$ 5 milhões em títulos podres do grupo de Arrieta.– Mas não houve nenhum contato, nenhuma contribuição para políticos – afirmou.

 
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